quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

DE REMÉDIO A VENENO...

FONTE: Tatiana Ribeiro, TRIBUNA DA BAHIA.

Medicamentos fora da validade, sem nenhum controle das autoridades públicas e ao alcance do público. A equipe de reportagem da Tribuna flagrou, na tarde de ontem, cremes vaginais, pomadas dermatológicas, glicose, agulhas, seringas, remédios indicados para o tratamento de bactérias e infecções, diabetes, e de doenças coronarianas, jogados a “céu aberto”, numa rua de grande movimentação, a Ladeira da Fonte Nova, no centro da cidade. Além de colocar em risco a saúde das pessoas, as substâncias químicas podem causar um impacto ambiental com a contaminação do solo e da água. Entre os medicamentos ainda foram encontrados documentos que pertencem a A.Vivas Comércio de Equipamentos Eletromedicina LTDA, localizada na Rua Castro Neves, bairro de Brotas, Via Bahia Produtos Farmacêuticos, em Lauro de Freitas, cheques e recibos com o nome de Antonio Raymundo Aragão Vivas. A reportagem tentou entrar em contato com as empresas, via telefone, mas nenhum representante foi encontrado para falar sobre o descarte.
De acordo com o técnico da Vigilância Sanitária Augusto Bastos, é dever do gerador do resíduo, que pode ser uma empresa especializada, uma farmácia ou um posto de saúde, dar o destino adequado para as substâncias fora da validade ou impróprias para o consumo. “Para o consumidor não existe uma legislação especifica de onde jogar os remédios fora da validade, mas para quem fabrica e comercializa o serviço de saúde, tem de contratar uma empresa especializada para fazer a seleção desses medicamentos e o acondicionamento correto. Algumas substâncias não podem ser misturadas em hipótese alguma”. Bastos ainda declarou que a Vigilância Sanitária fiscaliza isso através do Plano de Gerenciamento de Resíduos e Serviços de Saúde e considera um crime jogar remédios fora da validade num lixo comum. “Isso é caso de polícia. Até porque toda a empresa de saúde assina um contrato que informa quem fará o tratamento dos remédios vencidos”, afirmou.

Segundo testemunhas que não quiseram se identificar, um veículo tipo caminhonete, cor preta de placa JRL 6309, foi o responsável pela descarga da mercadoria. “Só na tarde de hoje (ontem) , esse carro passou por aqui duas vezes e jogava os medicamentos na rua”, contou um homem, que preferiu o anonimato.

Dentre os remédios estão: Micozen, lote 0668693, validade 10/2009, Metronidazol, lote 08020170, validade 02/2010, Polol, lote 84152, validade 08/2010, Sulfato de Salbutamol, lote 027, validade 11/2010, Glicefor, lote 73794, validade 10/2009, Acetildor, lote 103311, validade 06/2010 e Dispositivos para Infusão Endovenosa, lote 0649, validade 10/2010. Algumas dessas substâncias, como o Glicefor e o Polol, conforme informa no verso da embalagem, estão proibidas a venda no comércio.

A Secretaria de Saúde do Município informou por meio da Assessoria de Comunicação que desconhece o fato e negou que os remédios tenham sido jogados por algum posto de saúde. Quando questionada sobre o carimbo de 'venda proibida para o comércio', foi levantada a possibilidade dos remédios pertencerem a algum representante de medicamentos.
FAZ MAL A SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE.
O uso inadequado de substâncias químicas fora da validade pode causar desde infecções, irritações, levando até a morte. Em menos de uma hora em que os remédios estavam disponíveis ao público, pessoas foram flagradas levando a medicação para casa. No meio das caixas dos medicamentos, uma senhora com aparentemente 40 anos, que preferiu não se identificar, procurava algum remédio que servisse. “Esse creme vaginal aqui eu usava. Vou levar para casa.
Tem pouco tempo que saiu da validade e não deve fazer mal não” deduziu. O aposentado João Fonseca, que passava no local, afirmou que vai entrar em contato com as autoridades para que tome alguma providência. “Isso tem que ser tirado daqui imediatamente. Assim ele, outras pessoas, portadoras de diabetes, problemas de coração ou que necessitarem de seringas e agulhas descartáveis pode fazer uso dessa porcaria”, comparou.

De acordo com o médico Carlos Navarro, os princípios ativos das substâncias podem causar diversas reações, a depender da droga e do organismo que vai ingerir. “Isso é um perigo a população porque pode causar vários efeitos, desde uma reação alérgica, intoxicação, a alterações renais e gastrointestinais. Além da questão da validade, não pode ser descartado dessa forma. Primeiro porque a droga já tem efeito colateral, imagine quando passada da validade, perde o controle”.

Para a ambientalista Larissa Caíres, o impacto ambiental causado pelas misturas de substâncias é imensurável. O solo, a água, o lençol freático, podem ser contaminados, causando um dano ao meio ambiente e a saúde das pessoas. “São muitos os medicamentos. Pode chover e essas substâncias diluírem e se forem perigosas, o mal é maior”, afirmou.

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