terça-feira, 28 de dezembro de 2010

MÉDICA ONCOLOGISTA QUE TEVE CÂNCER DE MAMA DEFENDE MAMOGRAFIA (PARTE UM)...

FONTE: CARYN RABIN, DO "THE NEW YORK TIMES* (www1.folha.uol.com.br).

Marisa Weiss agendou sua mamografia para a primavera, como faz todos os anos. Ela havia acabado de completar 51 anos e, depois de fazer exames anuais durante uma década, ela sabia o que esperar: seu tecido denso nas mamas dificultava a leitura dos filmes --"é como procurar um urso polar numa nevasca"--, e o técnico provavelmente pediria que ela sentasse para algumas observações adicionais.
Este ano foi diferente. Depois que Weiss voltou para casa, ela recebeu uma ligação do consultório.
"Eles disseram: 'Você poderia voltar para cá agora?'", recordou-se ela. "Eu respondi que preferiria não, e eles disseram: 'Tem certeza?' Naquele momento, percebi que a coisa era mais séria."
Weiss, que logo soube ter um câncer invasivo do estágio 1 no seio esquerdo, não é uma médica qualquer. Oncologista de radiação e especialista em câncer de mama, ela criou um site bastante popular, o breastcancer.org, voltado a mulheres que buscam informações detalhadas sobre a doença --e se considera uma mulher com uma missão.
Ela atende pacientes três dias por semana, mas dedica os outros quatro dias ao site, que anualmente atrai milhões de visitantes de 250 países. Ela está escrevendo seu terceiro livro sobre câncer de mama para o público em geral.
Um ano atrás, quando uma força-tarefa federal divulgou novas diretrizes afrouxando as recomendações para mamografias, Weiss foi um de seus mais ferozes críticos. As mamografias não são perfeitas, disse ela na ocasião, mas salvam vidas. Hoje ela afirma que uma pode ter salvado a própria vida.
Nos anais da medicina, a história de Weiss é apenas isso: uma história, uma experiência individual do tipo que os cientistas descartam como casual, nunca uma razão para repensar uma política.
Mas ela destaca as persistentes e desconfortáveis perguntas sobre quando, e com que frequência, fazer o exame de câncer de mama, e como equilibrar os benefícios do diagnóstico prematuro com os males da mamografia --incluindo resultados falso-positivos, que podem levar a biópsias e tratamentos desnecessários.
As novas diretrizes pedem o adiamento dos exames de rotina para mulheres sob risco médio para os 50 anos, dos 40 anteriores, e recomendam exames a cada dois anos, em vez de anualmente.
Se tivesse seguido essas diretrizes, Weiss poderia ter pulado o exame deste ano, dando ao tumor mais tempo para crescer despercebido; e se ela não houvesse realizado uma trilha de exames desde seus 40 anos, os médicos não teriam conseguido comparar as imagens e perceber o sutil aparecimento do tumor (na verdade, seu risco é acima da média, graças a seu denso tecido nas mamas e histórico familiar.
Mas ela aponta: "A maioria das mulheres que desenvolve câncer de mama não possui um histórico familiar --isso é um enorme mito").
Porém, mesmo na Sociedade Americana do Câncer, que continua aconselhando as mulheres a iniciar mamografias regulares aos 40, especialistas reconhecem as limitações do exame.
"A maioria das pessoas acha que a mamografia é muito mais benéfica do que na verdade é", afirmou Otis Brawley, diretor de medicina da sociedade.
"Mesmo assumindo o argumento mais liberal, mais pró-mamografia, precisamos de algo melhor."
Brawley diz que, na balança, a mamografia salva vidas. Mas ele aponta que o exame deixa passar alguns cânceres, e que a radiação das varreduras pode fazer com que alguns cânceres se desenvolvam.
Além disso, algumas mulheres terão de retornar repetidamente para procedimentos adicionais, exames e biópsias que acabarão descartando o câncer --mas que serão dolorosos e geradores de ansiedade.
As mamografias também encontram alguns cânceres que crescem muito lentamente e se parecem exatamente com qualquer outro tumor canceroso, levando a tratamentos agressivos e desnecessários.

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