FONTE: Carlos Vianna Junior, TRIBUNA DA BAHIA.
Não poder comer uma série de alimentos sob pena de reações visíveis na pele, problemas digestivos e no aparelho respiratório é um drama que faz parte da vida de cerca de 6% das crianças. Para agravar, não há medicamento para tratar a alergia alimentar, somente os sintomas são combatíveis. E para evitá-los só há um caminho: eliminar os alimentos desencadeantes de crises. E aí começa um drama, principalmente, para os pais de crianças até 2 anos de idade.
É nessa idade que cerca de 80% das crianças começam a adquirir a tolerância aos alimentos que antes não podiam ingerir, mas alguns chegam à idade adulta com o problema. Lucas Gouveia têm três anos e, infelizmente, não tem, ainda, mostrado melhora substancial. Sua mãe, a fisioterapeuta Bianca Gouveia, ainda convive com o drama que transformou sua vida. “Comecei até a estudar nutrição na faculdade para lidar melhor com a condição de meu filho.”
Tendo Lucas um alto grau de sensibilidade alimentar, Bianca, desde a maternidade, teve que adequar a sua própria alimentação. “Meu leite não poderia conter substâncias que desencadeiam a alergia, e tive que fazer um regime”, conta. Até mesmo com os alimentos que entram em sua casa ela tem que se preocupar. “Se Lucas sentir o cheiro de morango ou peixe, por exemplo, ele vai apresentar reações”, conta.
DIFÍCIL DIAGNÓSTICO – Desde que nasceu, Lucas apresenta sintomas que podem ser de alergia alimentar. Mas foram necessários cinco meses para se chegar à conclusão de que se tratava mesmo de alergia. Enquanto isso, o menino Lucas vomitava, tinha reações na pele e diarreia. “Era desesperador, ele chegava a ter até dez evacuações por dia e ninguém sabia do que se tratava”, relata.
Uma das dificuldades está no fato de que os sintomas são os mesmo de outras reações a alimentos, como, por exemplo, a intolerância alimentar. Esta está ligada aos açucares dos alimentos, que no leite da vaca, por exemplo, o principal é a lactose.
A alergia tem a ver com as proteínas, que no caso do leite da vaca são a caseína e a betalactoglobulina, as principais. Portanto, o diagnóstico depende da interpretação conjunta da história clínica, dos dados dos exames físicos acompanhados de exames laboratoriais.
LEITURA E RÓTULOS.
Como a exclusão dos alimentos causadores das reações é a única maneira de evitar as crises, os pais dessas crianças têm que acrescentar um hábito à suas vidas: a leitura dos rótulos nas embalagens dos alimentos. Mas essa não é uma tarefa fácil e passa pela necessidade de orientação da parte dos médicos, pois nos rótulos se pode encontrar verdadeiras “cascas de banana”.
Como a exclusão dos alimentos causadores das reações é a única maneira de evitar as crises, os pais dessas crianças têm que acrescentar um hábito à suas vidas: a leitura dos rótulos nas embalagens dos alimentos. Mas essa não é uma tarefa fácil e passa pela necessidade de orientação da parte dos médicos, pois nos rótulos se pode encontrar verdadeiras “cascas de banana”.
Uma bolacha salgada, por exemplo, indica em seu rótulo a presença de caseína e soro entre outros ingredientes. Se os pais de uma criança que tenha alergia a leite de vaca não sabem que caseína e soro significam leite, só o descobrirão através da sua reação no filho. Há também as possíveis mudanças nos ingredientes de alguns alimentos que nem sempre são alertadas pelas indústrias.
Bianca Gouveia chama atenção para que a leitura seja feita com máximo cuidado. “Meu filho teve uma crise porque eu não enxerguei um detalhe num rótulo que estava com letras miúdas”, conta.
Para ela, as indústrias de alimentos poderiam facilitar a sua vida. Ainda que exista uma lei que as obrigue, alguns dados importantes não são revelados. Pelo grau de sensibilidade de seu filho, ela ainda tem que se preocupar com algo que é conhecido como “contaminação cruzada por traços de alérgeno”.
“Às vezes um alimento que contem leite, por exemplo, é feito em máquinas que depois são usadas para produzir outros produtos alimentícios. Nestes casos, o segundo alimento pode apresentar traços do primeiro, o que é suficiente para desencadear a alergia”, explica.
Bianca conta que, desde que os rótulos passaram a ser leitura obrigatória para ela, outro hábito teve de ser adicionado à sua rotina. “Gasto muito tempo falando com os serviços de atendimento ao consumidor (SAC) dessas indústrias, para saber os detalhes que não estão nos rótulos” reclama.
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