terça-feira, 4 de janeiro de 2011

RESQUÍCIOS DO NATAL OU FRANGO & FAROFA...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
Graças a Deus, no final de ano consegui juntar uns trocados e me mandei de Salvador, escapando assim – que Deus e vocês me perdoem, mas não é falta de sentimento – da ceia de Natal de minha mãe; ela que nunca soube cozinhar e nem tem grana para comprar produtos em delicatessens, e mesmo que tivesse não iria se rebaixar a levar para sua santa mesa produtos industrializados e cheios de gordura trans, onde tanto faz o camarão empanado, rabanada ou a coxinha de galinha, o risoles, o peru e o panetone, tudo é igual e serial, com gosto único de isopor ou de óleo reciclado.
Ou isopor passado no óleo de soja.
Também me escafedi das festas natalinas onde somos obrigados a participar de “amigos secretos” em que se determina que o presente não pode passar de dez reais, mas a senhora que chegue lá com lembrancinha de camelô ou bijuteria barata de lojas da Avenida Carlos Gomes. Sem falar na irritação de você comprar – depois de pesquisar bastante – um presente bem bacana e a pessoa que lhe sorteou, para seu azar, foi a mesma do ano passado e repete o mesmo presente.
Acredite que já recebi de “amigo secreto” pano de prato, avental, touca de natação, CD pirata, DVD pirata, caixa de chiclete (devia estar com mau hálito), uma xícara com formato de cara de gato, uma camisa tamanho P (quando visto XL) - e a pessoa ainda fez questão que eu vestisse e usasse na festa -; uma rapadura com coco enrolada em palha, um vaso com flores de plástico de todas as cores, um livreto de orações - e sou agnóstico -, uma chave de fenda, abridor de lata, uma lata com duas meias que não ficam presas na canela e se encaixam totalmente dentro do sapato na primeira andada, e pasme, já ganhei até duas caixas de Bandaids, coisa que o amigo secreto me deu aproveitando que cortei o dedo e uma bandeira com as cores do arco-íris e olha que sou macho Alfa: posso assegurar e tenho testemunhas.

Eu adoro o Natal, que é minha festa favorita e que começo a comemorar sempre a partir de 15 de novembro, quando monto minha árvore brega, cheia de luz e boto até algodão para fingir que é neve e entupo de bolas coloridas – já cheguei até a fazer um presépio usando bonequinhos como Superman, Homem Aranha; usei aquele boneco que namora Barbie e que esqueci o nome, Barbie, cavalinhos, carneirinhos de plástico e até soldadinhos de chumbo.
Ficou estranho, mas bonito e temático quando coloquei o menino Jesus na figura de um boneco de Charlie Brown na manjedoura e voando acima Woodstock como anjo e embaixo o Snoopy. Como estrela-guia usei um escudo da Mercedes Benz.

Desta vez os parentes, no meu retorno da fuga familiar, disseram que eu fiz muito bem em correr mundo, vez que a ceia natalina do meu pessoal não terminou nada bem. Alguém comentou que eu viajei para não ter de provar das iguarias da mamãe. Ela se ofendeu e descontou em todos
– filhos, netos, genros e agregados
– se recusando a colocar na mesa o que tinha preparado: sarapatel, nhoque, peru, rabanada, ovos coloridos, pão de Natal, tender e tanta coisa que daria para abastecer a Santa Ceia e ainda sobrar para as legiões romanas. Trancou tudo no armário.
Com isso boa parte das visitas se dispersou e quem ficou comeu um frango com farofa que ela esquecera de entocar, e um resto de queijo de cuia.
Quem saiu ganhando foi a garotada da vizinhança que se regalou no dia seguinte. Não sei por que minha mãe desde então não atende meus telefonemas e nem passa e-mail.
Eu tive culpa? Nem lá estava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário