FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
As vezes tenho a impressão que dei canelada em Cristo preso na cruz ou que fui o mau ladrão que ficou à direita – se não em engano – no Calvário. Ando num estresse de dar dó.
Quando os cientistas do século 50 fizerem o teste de Carbono 14 ou usarem leiseres e faizeres para descobrir a quem ou qual fóssil pertencia a camisa Lacoste, que foi achada entre os detritos e destroços do Mont Serrat - pois todos sabemos que a Cidade Baixa, na Cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos vai soçobrar embaixo de uma onda enorme, por estar situada abaixo da linha do mar e nesta hora estarei dormindo -, saberão que aquele sudário foi meu.
Ando suando mais que diabético ou tuareg nas filas dos bancos. O gerente da minha agência me deu a informação precisa. É para evitar ir entre os dias primeiro e sete do mês, vez que todas as agências estão tomadas por senhores aposentados e pensionistas que vão em busca de retirar seus parcos benefícios nos caixas, antes que o governo tome de volta; nunca se sabe. Se for no interior do Estado, melhor então nem passar na porta por causa da massa que lá está para pegar o Bolsa Família.
Chego em casa com minha Lacoste marcada pela suadeira que levo no trânsito. O engarrafamento nas principais vias das cidades é tanto que já deu para usar o laptop e pegar e responder um monte de emails e até acessar filmes pornôs que um amigo meu tarado me manda, enchendo minha caixa de recados de pecados e pecadores. E. como a carne é fraca...
Ouvi um agente de Trânsito dizendo para outro, à beira de uma avenida congestionada que a mulher iria pegar no pé dele quando dissesse que atrasou para pegar o filho na escola por causa do trânsito. Ela vai dizer “Ô, você não é do trânsito. Não sabia que a cidade está uma droga sem jeito a dar?”.
O outro respondeu: “Ligue aí o pisca-pisca, trave as portas e vamos fazer um lanche ali no McDonalds”. E lá se foram os dois derrotados pelos automóveis.
Mas, suor de verdade, suor mesmo, em bicas estou gastando e molhando meu sudário da Lacoste que comprei com muito trabalho e em dez parcelas no shopping, com a escola do meu filho. Não há jeito de fazer com que os psicopedagogos entendam que não adianta passar a mão pela cabeça em caso de buylling ou que o problema pertence à família.
A escola lava as mãos como se Pilatos fosse e o menino continua sendo zuado por usar óculos. É muita reunião e nada de solução e eu convencendo o garoto a não dar soco nos coleguinhas; que não vai resolver nada; que tenha paciência, e fico perdido: tiro ou deixo no colégio, se processo o estabelecimento ou se chamo pelo Pai Eterno e peço ajuda.
E quer ver suar feito maluco ao sol do meio dia? Chegue ao final da tarde na fila do supermercado. São poucos caixas à disposição, ninguém respeita a fila prioritária dos idosos e na hora de ensacar os produtos não tem nenhum assistente. Quem reclamar pode apanhar.
Sem falar o suor despendido para reconhecer um documento no cartório da esquina, na fila do cinema, correndo dos flanelinhas, evitando a buraqueira nas estradas e avenidas, na hora de comprar pão, na espera do atendimento pelo SUS e na reunião de condomínio onde quem deve não teme, não paga e prejudica a todos os outros.
Com certeza os cientistas irão juntar meu sudário ao de Cristo. Com a devida proporção, claro. Preciso comprar um sudário novo. Quem sabe da Arma.
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