segunda-feira, 26 de abril de 2010

CASTRAR OU NÃO CASTRAR, É A QUESTÃO?...

FONTE: Noemi Flores, TRIBUNA DA BAHIA.

A prisão e o suposto suicídio por enforcamento na cadeia, em Goiânia, do pedreiro baiano Adimar de Jesus da Silva, 40 anos, pedófilo, réu confesso do assassinato de seis meninos na cidade de Luziânia, em janeiro deste ano, e os casos constantes de denúncias de abusos sexuais praticados por padres em várias partes do país deixam a população estarrecida. Os acontecimentosd trazem à tona a discussão sobre o que fazer para impedir a ação destes criminosos.
No país, quando vem à tona a castração química, que já é adotada em vários países e cujo projeto nesse sentido tramita no Senado Federal, o assunto causa polêmica entre os próprios parlamentares. Há quem alegue que o projeto transgride os direitos humanos. O projeto pró-castração tem o nº 552/2007 e é de autoria do senador Gerson Camata (PMDB-ES).
Para o médico psicoterapeuta e educador, Antônio Pedreira, esta não seria a solução para determinados casos de pedofilia porque há situações em que o doente pode se tratar para se livrar do mal. “ Existem tratamentos e até cura para determinados casos. Nos casos extremos, sem possibilidade de cura, concordo que deva ser aplicada a castração química”.
O médico explica que o método da castração química consiste na aplicação de hormônios femininos que diminuem drasticamente o nível de testosterona no homem. Mas, adverte que não deve ser aplicado em todos os pedófilos porque é aconselhável “que a pessoa faça uma terapia, uma análise mais profunda, porque há possibilidades de uma destas pessoas também ter sido vítima de abuso sexual na infância, e com o tratamento se livrar deste trauma”.
Pedreira contou que há muito tempo teve um paciente que foi abusado sexualmente por uma empregada doméstica quando tinha 9 anos. De acordo com o relato do médico, este paciente começou a odiar mulheres e tinha fixação e medo de telhas de vidro, pois havia uma no local onde a mulher o submetia aos seus caprichos até mesmo sádicos. “Este rapaz perdeu a confiança nas mulheres e sentia atração por meninos, mas com uma terapia demorada e profunda ele se curou do trauma”, assegurou.
Um indivíduo com distorção de comportamento, mesmo que socialmente pareça normal, uma personalidade sociopática ou psicopata, pode ser percebido já na infância, de acordo com o psicoterapeuta, e cabe aos pais esta observação. “Geralmente ele começa a praticar brutalidades desde a colocar pimenta no ânus de pombos ou passarinhos, jogar água gelada em gatos e outras perversidades utilizando alfinetes, e outros objetos”, pontuou.
QUANDO O ASPECTO ENGANA.
Enquanto o projeto de lei tramita no Senado e não vai adiante, aqui no País outro empecilho é da própria medicina, porque o Conselho Nacional de Medicina não recomenda a castração química. Em outros países, onde é permitido o tratamento se utiliza remédios como o Depo-provera (acetato de medioxyprogesterona), durante 90 dias, uma aplicação intramuscular, por mês. E os efeitos colaterais são insônia, convulsões, depressão, tontura, dor de cabeça, nervosismo, sonolência, perda de cabelo, aumento de pêlos, cansaço, reações no local da injeção, febre, redução da tolerância à glicose, perda de cálcio, entre outros. Outro medicamento também utilizado é o Acetato de Ciproterona, que bloqueia a ação do testosterona nos receptores, que inibe o desejo sexual exagerado, no caso destes desvios sexuais ou hipersexualidade.
A maioria das pessoas entrevistadas tem opinião favorável a este tipo de tratamento porque admitem que o pedófilo voltará a fazer novas vítimas sempre que tiver oportunidade. É o caso da publicitária Catarina Fernades, 48 anos que não vê outra solução "porque ele não vai ter libido para mais nada. No entanto deve permanecer longe da sociedade”.
Em parte a secretária Nanci Silva, 45 anos, concorda com a publicitária, só não em relação a castração. “Acho que vai se castrar e voltar a conviver normalmente na sociedade. Isto tem que ser resolvido de outra forma”, justificou. Já a professora Ivanir Galvão, 52 anos, acha que deve ser revista a situação de pedofilia em relação a meninas de 14 a 16 anos que no seu entender “são mais espertas que muita mulher velha”. No entanto para a pedofolia praticada em crianças menores ela admite a castração “para não voltar a fazer nunca mais”.
Em relação aos homens consultados a maioria concordou com a castração química, mas todos fizeram ressalva a respeito de jovens de 13 a 17 anos que têm a postura de mulheres adultas, e às vezes até aumentam a idade, o que colocam muitos homens em situação constrangedora quando descobrem que se tratar de menor. “Mas no caso de uma pessoa doente cuja intenção é atrair uma criança inocente e até mesmo matá-la concordo plenamente, até mesmo com a castração física”, afirmou o designer gráfico Elmo Santiago, 37 anos.
Já o engenheiro eletricista, Gustavo Marques, 41 anos, “Acho que deve ser castrado quem abusa de criança sexualmente e punido severamente quem pratica outro tipo de violência contra uma criança e adolescente”. Se para os dois a castração é a solução, o universitário Henrique Souza, 24 anos, não concorda porque acha que deveria ter pena de morte. “Isto é pouco porque o cara estupra, mata as crianças e fica vivo à base de um remedinho que inibe o seu libido. E as crianças que morreram ou que ficaram sequeladas pelo resto da vida? As leis neste país têm que ser mais sérias”, desabafou.
TRAUMA NAS CRIANÇAS.
Para o médico, cabe aos pais “notar no próprio desenvolvimento infantil atitude deste tipo. Alguma criança com a manifestação de perverso polimorfo (o psicanilista Segmund Freud admitia um fenômeno geral da infância, sentimentos variados aos mais hostis até mesmo pelos pais) então a criança começa a praticar atos que doem, que machucam os outros”, explicou.
É importante que os pais observem estas atitudes, principalmente no chamado bullying nas escolas, um tratamento agressivo de um ou vários com um determinado aluno ou com outros de modo geral, alertou o especialista, porque a qualquer sintoma deste tipo de comportamento é importante que seja feita logo uma terapia. Deve-se também observar se o filho tem um comportamento diferente e se há indícios de que esteja sendo molestado.

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