segunda-feira, 5 de abril de 2010

MENTES QUE SOFREM...

FONTE: Karina Baracho, TRIBUNA DA BAHIA.

Um mês de internação e uma conta de R$ 36 mil. Essa é a média que os familiares de pacientes psiquiátricos pagam em internações em clínicas particulares na capital baiana. Estima-se que 12% da população brasileira sofra de algum tipo de distúrbio mental, destes, 3% em estado grave e necessitando de tratamento e até internação, o que não é fácil conseguir pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Salvador, três hospitais atendem a estes pacientes, com cerca de 200 leitos.
Porém, de acordo com a psiquiatra e membro da Associação Baiana de Psiquiatria Ângela Zamilute, esse número ainda está muito aquém das necessidades atuais. “O Ministério da Saúde reduziu o número de vagas e na maioria dos casos as que já existem aceitam o paciente por um tempo bastante curto”, disse. Conforme ela, em alguns estágios da doença é de fundamental importância a internação. “Principalmente quando coloca a própria vida em risco ou a de outras pessoas”, explicou.
A diminuição do número de leitos foi uma determinação do Ministério da Saúde (MS) e teve como objetivo mudar o perfil dos hospitais psiquiátricos. Quase 46% dos espaços destinados à internação estão situados em hospitais de pequeno porte – em 2002, apenas 24% dos leitos estavam nesses hospitais. De acordo com o MS, ao mesmo tempo caiu o número de leitos em macro-hospitais – que significavam quase 30 % dos leitos em 2002.
Atualmente, cerca de 14,5% deles ainda encontram-se em hospitais com mais de 400 leitos. O que não é a realidade de Salvador.
INTERIOR NÃO TEM TRATAMENTO ADEQUADO.
Dos hospitais psiquiátricos, o Juliano Moreira, possui 114 leitos para internação. Destes, 52 ficam na ala feminina, 30 no setor masculino e 32 na ala mista e segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), nesta última ala os pacientes ficam acompanhados por enfermeiros ou seguranças. Todos estavam ocupados na última quinta-feira.
Já no Hospital Mário Leal, existem 32 locais para internações apenas masculinas, porém na emergência da unidade são atendidos homens e mulheres. No Sanatório São Paulo, 80 dos leitos existentes são destinados para pacientes do SUS. Porém, segundo médicos, esta não é a quantidade ideal para atender a demanda do estado da Bahia. “Sabemos que muitos pacientes de cidades do interior são atendidos em Salvador, até pela falta de hospitais nos interiores”, explicou Zamilute.
De acordo com ela, por causa de uma determinação do MS, os tratamentos, na sua grande maioria, devem ser feitos pelos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS). “Mas alguns pacientes precisam de internação e tratamentos específicos”, acrescentou a psiquiatra. Ela afirma que a falta de tratamento adequado pode agravar o estado de saúde do doente, “além de contribuir para o suicídio e violência. Infelizmente, esses índices ainda são grandes. Tiraram os hospitais e não colocaram novas estruturas”, lamentou.
ESQUIZOFRENIA NÃO É TRATADA PELO SUS.
Mas a situação é ainda mais grave. Segundo a psiquiatra Ângela Zamilute, alguns tratamentos indispensáveis para a recuperação de pessoas com esquizofrenia, por exemplo, não são realizados pelo SUS. “O eletrochoque é um deles e a sessão custa pelo menos R$ 1.400, um valor muito alto para a maioria das pessoas”. Segundo ela, esse tratamento é utilizado em casos onde doentes não respondem ao medicamento ou são sensíveis ao mesmo.
Na capital baiana, há 17 CAPS e mais três ambulatórios e uma equipe de rua no Centro Histórico especializados em saúde mental. De acordo com a coordenadora de saúde mental do município, Célia Rocha, todas as unidades dos CAPS possuem médicos. “Porém, o que acontece é a falta de psiquiatras. “Temos um déficit muito grande destes profissionais. Infelizmente, se forma muito pouco”, disse.
Oficinas, terapia, médicos e enfermeiros atendem aos pacientes nos CAPS. “Temos uma equipe multidisciplinar e a medicação é gratuita para quem está sendo acompanhado naquele serviço”. O objetivo das unidades é inserir o paciente na sociedade. “Para isso, temos ainda oficinas de música e cidadania”, concluiu.
PERFIL - Com a política de fechamento de leitos a partir dos grandes hospitais, o perfil dos hospitais psiquiátricos mudou. De acordo com o MS, há hoje quase 46% dos leitos em hospitais psiquiátricos situados em hospitais de pequeno porte. Em 2002, apenas 24% dos leitos estavam nesses hospitais (aumento dos hospitais de melhor desempenho e menor porte, sem a criação de novos leitos). Ao mesmo tempo, cai o número de leitos em macro-hospitais – que significavam quase 30 % dos leitos em 2002. Hoje, cerca de 14,5% dos leitos ainda se encontram em hospitais com mais de 400 leitos.
A Política Nacional de Saúde Mental tem como meta reestruturar a assistência hospitalar psiquiátrica no país. Para isto, reduz de forma gradual e programada os leitos psiquiátricos de baixa qualidade e, ao mesmo tempo, expande uma rede de atenção que trabalhe com a reinserção social e a reintegração familiar da pessoa com transtorno mental.

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