terça-feira, 5 de outubro de 2010

A BALA DE PRATA...

FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.

Nas semanas finais da campanha para o primeiro turno, quando os institutos de pesquisa indicavam um quadro que resultaria na vitória definitiva da candidata do PT, Dilma Rousseff, já no primeiro turno, as principais concorrências – representadas pela coligação liderada pelo PSDB, com José Serra como candidato, e pelo PV, com Marina Silva – desesperavam-se na busca da bala de prata.
Na lenda do lobisomen – que parece uma história fantasiosa, mas é coisa séria, tratando da transformação do homem em lobo, em um sentido figurado, mas extremamente real e rotineiro na história da humanidade e dos indivíduos –, a única coisa com que se pode matar a fera é uma bala de prata. Pois os principais oponentes da candidatura governista torciam para que essa bala de prata fosse encontrada.
Os concorrentes da candidatura oficial não encontraram a bala de prata. Mas a sociedade a encontrou e o eleitorado pôde dispará-la, não para derrotar a candidatura governista, que nem era o objetivo das oposições na primeira fase eleitoral. O objetivo era mais modesto, embora em muitos momentos haja parecido quase inalcançável – levar a disputa para o segundo turno.
E isto, afinal, acabou acontecendo, até de modo confortável para a concorrência, embora as pesquisas, no sábado, indicassem empate (empate absoluto no Datafolha, empate técnico no Ibope) entre as alternativas Dilma e segundo turno.A essa altura, os meus poucos e pacientes leitores já devem ter perdido a paciência. Afinal, qual foi a bala de prata? Desculpem, mas é melhor, antes, descrever a preparação do campo de tiro.
Primeiro, houve, na Receita Federal, aquela feia lambança criminosa de quebra ilegal do sigilo fiscal de parentes do candidato tucano José Serra e de pessoas ligadas a ele e/ou ao PSDB. Foi uma coisa gravíssima, afrontosa à Constituição da República e às garantias individuais. Mas era coisa complexa para a grande faixa de eleitores que não se interessa ou não tem instrução para ir fundo na compreensão de questões complexas.
Veio, então, o escândalo envolvendo a Casa Civil da Presidência da República e a então ministra-chefe Erenice Guerra, que era braço direito da candidata Dilma quando ocupava o cargo de ministra e a quem sucedeu. Ficava ruim um caso assim, de tráfico de influência, propina, esse tipo de coisa, acontecer em qualquer setor do governo, mas na Casa Civil é overdose. E overdose fácil de entender. Isso contribuiu decisivamente para preparar o campo de tiro.
E havia Marina, a doce jaguatirica morena, com sua onda verde, que creio ser muito mais uma onda formada por descontentes com os outros dois contendores. No começo, mais com Serra, no final, no entanto, mais com Dilma.
E então houve Lula atacando severamente a imprensa – enquanto seu partido tem um programa que propõe o “controle social” da mídia –, com o que foi posta em xeque toda a liberdade de expressão e, com esta, liberdade religiosa. Pois nenhuma liberdade sobrevive à morte da liberdade de expressão.
Isso gerou algum receio de restrições de fato, materiais, à liberdade religiosa e à atividade, digamos, física, das igrejas. Isso não é nenhuma novidade na história humana antiga ou recente.Assim estava pronto o campo de tiro. Ora, quando o campo de tiro está pronto e o atirador – o eleitor – a postos, a bala aparece. A bala de prata.
A defesa da “descriminalização” – liberação do aborto em uma entrevista à Folha de São Paulo, em 2007, cuja publicação não mereceu reparos da hoje candidata do PT a presidente. Que hoje nega ter dito o que o jornal publicou como afirmação dela, sem receber qualquer protesto ou pedido de correção. A mesma liberação do aborto que levou à expulsão de dois deputados petistas que a ela se opunham (um deles, o baiano Luiz Bassuma).
A descriminalização de drogas hoje ilícitas. Dentre outras coisas a que se opõem as igrejas católica e/ou evangélicas. E o receio de futuras restrições à liberdade e atividade religiosas.
Creio que esta foi a bala de prata – o voto espiritual

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