quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A BATALHA DO SEGUNDO TURNO...

FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.

No finalzinho da campanha eleitoral, acompanhando a linha do que segredavam pesquisas feitas sob encomenda para consumo interno das principais candidaturas a presidente da República, um quadro bastante nítido se desenhou, reforçado pela arguta observação de certos políticos – a candidata do PT, Dilma Rousseff, descia involuntariamente de seus saltos Luiz XV, enquanto José subia lentamente a serra e a jaguatirica morena do PV dava o bote.
Agora, é claro, a doce jaguatirica Marina está fora da disputa, que passou a comportar apenas dois contendores, que se engalfinham na tentativa de obter, quando não o improvável ou quase impossível apoio declarado de Marina, mas a simpatia de seu entorno e de seus eleitores. O que ficou claro foi a tendência descendente da líder da votação, Dilma Rousseff, e a tendência ascendente do vice-líder no primeiro turno, José Serra.
É claro que no primeiro turno houve uma diferença grande entre os votos de Dilma e Serra. Mas essa diferença foi menor do que a campanha de Dilma esperava. Significativamente menor. E até foi também menor do que esperavam Serra e sua equipe de campanha. Em percentuais arredondados, Dilma teve 47 por cento dos votos válidos e Serra, 33 por cento.A diferença, aí, é de 14 por cento dos votos válidos. E o que precisa acontecer para que se chegue à situação de empate absoluto (não o chatíssimo “empate técnico” das pesquisas eleitorais) seria a divisão exata, entre Dilma e Serra, dos votos de Marina somados aos votos dados aos demais candidatos e uma migração de sete por cento dos votos dados a Dilma para Serra. Haverá quase um mês de campanha para o candidato do PSDB tentar isto.
Vale registrar – reforçando esse cenário em que a candidata favorita, a petista, tende a não ser lá tão favorita quanto parece – que um importante instituto de pesquisa eleitoral sondou, às vésperas do domingo da eleição, os eleitores de Marina Silva, a respeito de a quem dariam o voto no caso de haver segundo turno com uma disputa entre Dilma e Serra. Resultado bastante estimulante para o candidato do PSDB – naquela ocasião, 51 por cento dos eleitores de Marina entrevistados disseram que votariam em Serra e 37 por cento se decidiriam por Dilma Rousseff. Os outros 12 por cento não tinham opção a declarar.
Claro que isso apenas não seria suficiente para Serra virar o jogo. Não há maneira de virar o jogo sem conquistar uma parcela dos eleitores de Dilma para complementar. Serra pode muito bem não conseguir. Mas impossível não é, especialmente quando se leva em conta o que já foi dito neste comentário – nos últimos dias da campanha, até o domingo da eleição, Dilma estava em linha descendente e Serra em notória linha ascendente (enquanto Marina atingia a espantosa velocidade da jaguatirica no ato do bote).
Claro que Dilma Rousseff tem Lula. Mas já teve durante um ano inteiro – e de maneira intensa, talvez até demasiadamente, na campanha. Lula errou quando atacou a liberdade de imprensa, infundindo medo na sociedade e fazendo em seguida uma tentativa malsucedida, porque tímida e envergonhada, de correção.
A coligação que sustenta Dilma vê o fantasma da derrota? Como certeza, claro que não, como hipótese efetiva, parece que sim. Não fosse isto, não estaria gente no PT querendo tirar do programa do partido a diretriz de liberação do aborto, de várias a principal causa a provocar o que ontem chamei de “voto espiritual” contra a candidata petista. O problema é que os “eleitores espirituais” podem já estar vacinados e imaginarem que o PT pode excomungar o aborto antes do segundo turno e reintegrá-lo ao seu programa logo que julgue oportuno. Além de que o aborto não é a única questão do programa petista que desafia o “voto espiritual”.

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