FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.
Para muita coisa é necessária a paciência. Até na Bíblia há uma frase que, ao explicar alguma coisa que no momento não vem à minha memória, sentencia: “Aí está a paciência dos santos”.
Pode-se ter certeza de que o PMDB não é santo, assim como os demais partidos políticos. E que no momento trata de ser paciente, ainda que esperneando nos bastidores.
Pode-se ter certeza de que o PMDB não é santo, assim como os demais partidos políticos. E que no momento trata de ser paciente, ainda que esperneando nos bastidores.
O PMDB foi importante para Lula e o PT em 2002, quando não se integrou à coligação de José Serra, do PSDB, em sua candidatura a presidente da República, embora viesse apoiando o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. E também foi útil quando informalmente dividiu-se, ficando uma parte com Serra e outra com Lula no mesmo pleito, que Lula ganhou em segundo turno.
A divisão informal se repetiu em 2006. E quando Lula reelegeu-se, com a importante ajuda do “PMDB do Senado”, o PMDB da Câmara perdeu a paciência – aderiu, aliou-se formalmente ao governo do presidente petista e pronto. E foi fundamental para o governo no Congresso Nacional.
Então veio a sucessão de Lula, este ano, e o PMDB, como instituição partidária, integrou-se à coligação que sustentou a candidatura da petista Dilma Rousseff. Reconhecido por todos como, de longe, o principal aliado. E Dilma Rousseff venceu. Venceria se o PMDB houvesse integrado a coligação oposicionista que deu suporte à candidatura de Serra? Não há uma resposta segura.
Mas, certamente, na melhor das hipóteses, a insegurança seria a principal companheira da campanha governista.
Chegou, afinal, na formação do Ministério, a hora de o PMDB apresentar a primeira fatura. Nela escreveu: cinco ministérios consistentes – dois para indicados pelo PMDB do Senado, dois para indicados pelo PMDB da Câmara e o quinto para indicação na “cota pessoal” do vice-presidente Michel Temer. Se algum outro peemedebista, a exemplo de Nelson Jobim, a presidente Dilma incluir na equipe, isso fica por conta dela, não do PMDB.
Dilma, Lula, o PT e outros aliaram-se para baixar a bola do PMDB. Começo de governo, Lula, presidente no cargo, com a popularidade lá em cima, Dilma, presidente eleita há pouco mais de um mês, quase todo mundo querendo agradar a suprema mandatária.
O PMDB examina o quadro, bate o pé na exigência dos cinco ministérios enquanto Dilma oferece apenas quatro, mas recua quanto à “consistência” dos ministérios, passando a aceitar dois ou três de segunda e até mesmo terceira categoria, além dos dois de primeira categoria que tem assegurados, Agricultura e Minas e Energia.
Mas ela, a suprema mandatária, que recentemente se proclamou cristã, deve lembrar-se humildemente do que disse Jesus a Pilatos quando este o advertiu de que tinha poder para mandar crucificá-lo – “Nenhum poder tens sobre mim que não lhe haja sido dado do Alto”.
E o que é dado pode ser tirado. Sábado à noite, numa entrevista na Rede Bandeirantes de Televisão, o ex-presidente Fernando Henrique lembrou que, ao contrário dele, Lula governou quase todo o tempo com a ajuda do vento de popa da economia mundial em expansão. Não há agora para Dilma um vento de proa, mas já não há vento de popa, advertiu o ex-presidente da República.
Detalhando: tem crise econômica global, crise cambial mundial, início de crise cambial nacional, crise fiscal prevista para 2011 ou 2012, inflação em ascensão (especialmente no setor fundamental dos alimentos), infraestrutura raquítica e poucos recursos públicos para investimento, já que rios de dinheiro são canalizados para pagar o serviço da monumental dívida pública, alto índice de desemprego nos Estados Unidos (grande mercado consumidor, inclusive de produtos brasileiros).
Bem, se o país pegar aí um vento de proa, aí o governo perde o charme e o PMDB perde a paciência, vira bicho e dá o bote.
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