domingo, 5 de junho de 2011

UM ATRASO DE VINTE DIAS...

Vinte dias depois que uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou o veloz enriquecimento do ministro Antonio Palocci, ele decidiu, sob pressões irresistíveis, falar diretamente ao público sobre o caso, concedendo uma entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, da Rede Globo, veículo que escolheu.


Constava no início da noite de ontem que a íntegra seria divulgada logo depois na Globo News. Ante a inevitabilidade de tentar explicar-se com a população, o ex-ministro da Fazenda do governo Lula e atual ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República do governo Dilma Rousseff (cargo para o qual, faça-se justiça, foi indicado quase irrecusavelmente por Lula) descartou, de plano, o instrumento da entrevista coletiva. E nisto teve não somente concordância quanto aconselhamento não só de sua assessoria como do governo.


É claro que na situação política extremamente delicada em que está, a entrevista coletiva seria uma ameaça terrível. As coletivas dão chances a questionamentos não previstos, inesperados e ao questionamento das respostas, podendo chegar a gerar quase que debates entre jornalistas e, no caso, o ministro, para aprofundar um fato que eventualmente esteja sendo insuficientemente explicado pelo entrevistado. Uma hipótese para nem pensar.


Daí a entrevista exclusiva a um veículo escolhido. E o surgimento da questão de ser a entrevista ao vivo, como em um caso desse porte seria normal, ou gravada, o que, em tese, permite, afinal – embora não seja correto – corrigir derrapagens mais ou menos perigosas.


A proposta do ministro foi de uma entrevista gravada em Brasília, embora a Globo haja tentado a entrevista ao vivo, ainda que por intermédio de um link que permitiria o ministro permanecer em Brasília, sem precisar ir ao estúdio em que estariam os entrevistadores.


Ah, Palocci também desejou deixar para falar no início da semana, preocupado com a hipótese das reportagens de fim de semana trazerem algum fato novo que contrariasse o que falasse ontem na TV – caso em que seria uma bagaceira. Mas foi pressionado pelo governo a falar ontem mesmo.


Vamos todos nós, os telespectadores-cidadãos, ter a oportunidade de ouro de verificar as condições das cordas vocais do ministro, pois se resistiu durante 20 dias a dar explicações públicas sobre o que se levanta contra ele e se, mesmo as explicações privadas - ao comando de seu partido, aos senadores do PT e ao procurador geral da República -, foram tão discretas como mostrou o farto noticiário desses dias, que outra coisa iria ele nos oferecer na telinha além da sonoridade mais ou menos agradável de suas cordas vocais.


Estou com uma certa pena do ministro. A comissão executiva nacional do PT fez reunião esta semana e resolveu não defendê-lo. Não emitiu nota oficial, porque isso poderia ser o tiro de misericórdia, mas deixou claro que o problema Palocci é dele e do governo, não é do PT (que, só por acaso, imagino, é o partido do governo e no governo).


E o presidente petista Rui Falcão deu-se ao luxo de declarar que o ministro deve se explicar - coisa que a oposição vinha dizendo há 20 dias. Aliás, tem muita gente no PT querendo arrancar Palocci do governo Aliás, do lado governismo-petismo, quem saiu na frente dizendo que a evolução econômico-financeira do ministro causa estranheza foi o governador Jaques Wagner, uma das lideranças de proa do PT no país. Ele apenas ressalvou que, sendo do PT, está “solidário” com Palocci, “até prova em contrário.


E então, nos seus calcanhares, pronunciou-se na mesma linha, cobrando explicações, sem maiores ressalvas, o senador Walter Pinheiro. Surpreendido talvez pelo próprio silêncio, o deputado Pelegrino, que por falta de sorte era o líder da bancada do PT na Câmara na época do Mensalão, o que acabou lhe custando caro, fez soar as próprias cordas vocais no pedido de explicações que o presidente do Congresso, senador Sarney, repetiria ontem, praticamente “saindo de baixo”. Porque o ministro, lá do alto onde esteve, despenca feito um bólido.

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