FONTE: MARIANA VERSOLATO, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
A queda do cabelo durante o tratamento de câncer, por causa da quimioterapia, é o segundo impacto sentido pelo paciente no enfrentamento da doença, depois do diagnóstico, segundo a psicóloga Samantha Moreira, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.
"Significa perceber-se doente e perder a imagem corporal", afirma o oncologista João Paulo Lima, do Hospital de Câncer de Barretos.
Esse efeito colateral abala mais as mulheres, que, sem os cabelos, podem sentir uma perda da feminilidade. Mas os homens também ressentem a perda de cabelo e barba. É o caso do bancário Leandro Ferreira, 26 anos, que trata um câncer de testículo.
Ao ver o cabelo cair em tufos e ficar cheio de falhas por causa da quimioterapia, ele preferiu raspar a cabeça --o mesmo fez o "[ex-presidente Lula raspou o cabelo]": http://www1.folha.uol.com.br/poder/1007488-em-tratamento-contra-cancer-lula-raspa-cabelo-e-barba.shtml, para se antecipar ao efeito dos medicamentos.
"É dolorido, cheguei a chorar. Por mais que eu tivesse pouco cabelo, ele estava ali, e tirá-lo foi algo imposto, não foi uma opção minha."
Uma dificuldade, conta Leandro, é enfrentar os olhares das pessoas na rua.
"Acho que a careca de quem tem câncer é diferente. A pele fica mais fina. As pessoas olham, medem e pensam: 'Ele está com câncer'."
Segundo Lima, o que mais preocupa os homens é a manutenção da independência e a impotência sexual.
João Marcelo Knabben, 26 anos, faz tratamento contra um tumor que apareceu na língua e atingiu o olho esquerdo. Ele temia mais a náusea e a diarreia, também efeitos colaterais da químio, do que a queda dos cabelos. "Acho até que fiquei melhor com a cabeça raspada."
A dermatologista do Inca (Instituto Nacional de Câncer) Fernanda Tolspoy afirma que a reação depende da vaidade de cada paciente. "Para muitos homens, a perda da barba que cultivam há anos é traumática."
POR QUE CAI.
Os remédios usados contra câncer atacam as células que estão se dividindo mais rápido, característica das células do tumor.
Os remédios usados contra câncer atacam as células que estão se dividindo mais rápido, característica das células do tumor.
Mas as células que dão origem ao cabelo também se replicam em alta velocidade e, por isso mesmo, são mortas pelo tratamento por tabela.
Na radioterapia, a queda dos cabelos é rara, mas a pele pode ficar envelhecida.
Na químio, o cabelo pode cair de forma mais rápida ou gradual, em forma de tufos.
Para evitar as falhas, muitos raspam o cabelo. "É uma forma de encarar a doença de frente, dizer: 'É isso, estou com câncer'", diz Tolspoy.
Foi assim que Rosimeire Venturini, 44 anos, que se trata de um câncer de mama, encarou a perda dos cabelos.
"Você tem de tomar decisões, e é preciso ter coragem para assumir que tem câncer e dizer: 'É hora de lutar'."
Ela conta que, no início do tratamento, deixou o cabelo bem curto. Ao se olhar no espelho, teve uma crise de choro. "Agora que voltou a crescer, pensei: 'Estou chegando à fase final do tratamento, estou vencendo'."
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