FONTE: RICARDO BONALUME NETO, DE SÃO PAULO (www1.folha.uol.com.br).
Técnicas de imagem do cérebro, como a ressonância magnética funcional e a eletroencefalografia, permitiram que pesquisadores detectassem um estado de "alerta consciente" (uma "consciência mínima") em pacientes no estado vegetativo.
O resultado poderia indicar uma chance de recuperação, embora remota; algo capaz de trazer tanto esperança quanto angústia para parentes de um paciente.
O novo estudo foi publicado na revista médica "The Lancet". O trabalho mostrou, com uma técnica simples de eletroencefalografia, que três entre 16 pacientes diagnosticados como vegetativos mostraram esse sinal de alerta ao receber comandos verbais.
Lesões no cérebro podem afetar o nível de consciência. Um paciente em coma nem abre os olhos; já aqueles em estado vegetativo abrem os olhos e têm movimentos como virar a cabeça, mas não têm comunicação intencional nem percepção de si mesmos ou do ambiente. E as pessoas em estado minimamente consciente têm consciência flutuante.
"Determinar que alguém está em um estado minimamente consciente, e não em estado vegetativo, pode ser muito importante em termos de prognóstico. Nós sabemos que as chances de recuperação de um estado minimamente consciente são melhores do que as de um estado vegetativo", diz um dos autores, Adrian Owen, neuropsicólogo da Universidade de Ontario Ocidental.
Pacientes em coma que sobrevivem, em geral, acabam acordando e se recuperando gradualmente entre duas e quatro semanas, segundo um estudo de revisão da literatura médica assinado por Owen e mais dois colegas na "Lancet Neurology".
DECISÕES DIFÍCEIS.
"Em muitos países, decisões sobre a continuação ou não do cuidado médico são raramente feitas em casos de estado minimamente consciente, são feitas com relativa frequência em casos de estado vegetativo, daí a importância do diagnóstico", diz.
"Em muitos países, decisões sobre a continuação ou não do cuidado médico são raramente feitas em casos de estado minimamente consciente, são feitas com relativa frequência em casos de estado vegetativo, daí a importância do diagnóstico", diz.
Owen esteve em São Paulo para conferir palestra sobre o tema no Hospital Israelita Albert Einstein. "O encontro teve foco na aplicabilidade clínica de técnicas de imagem", diz Edson Amaro Júnior, coordenador do Instituto do Cérebro do Albert Einstein e pesquisador da USP.
"Eles têm tentado entender como obter uma informação a mais. São estudos preliminares", diz Amaro.
Esses dados estão indicando que entre 20% e 40% dos pacientes vegetativos poderiam estar em estado minimamente consciente, algo que mesmo a convivência de parentes com os pacientes já parecia indicar na prática.
Por exemplo, é comum um parente contar ao médico coisas como "hoje ele parecia estar olhando para mim", ou "ele parecia uma pedra", possíveis indicações de flutuação da consciência.
Owen e colegas fizeram testes requerendo a compreensão de dois comandos depois de ouvir um bipe: "tente imaginar que você está fechando a sua mão direita e depois relaxando-a" e "tente imaginar que está mexendo os dedões dos dois pés, depois relaxando-os".
Nenhum paciente mexeu os pés ou as mãos. Mas os cérebros de três pacientes reagiram ao comando verbal, modulando as respostas de eletroencefalografia de modo semelhante aos dos voluntários saudáveis testados como uma forma de "controle" do experimento.
AOS PARENTES.
"Quanto ao que os médicos podem aconselhar aos parentes nessas circunstâncias, a resposta é que as técnicas que nós e outros estamos desenvolvendo estão aumentando as chances de que possamos chegar ao diagnóstico preciso, e aí estaremos informados sobre o provável prognóstico", afirma Owen.
"Quanto ao que os médicos podem aconselhar aos parentes nessas circunstâncias, a resposta é que as técnicas que nós e outros estamos desenvolvendo estão aumentando as chances de que possamos chegar ao diagnóstico preciso, e aí estaremos informados sobre o provável prognóstico", afirma Owen.
As técnicas de imagem só agora estão começando a dar pistas sobre esses estados de consciência alterados.
"Nós não tínhamos nem como começar a investigar a questão, mas com a ressonância magnética funcional e eletroencefalografia podemos começar a fazer perguntas como 'eles podem experimentar emoções', 'será que sentem dor?'", conclui Owen.
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