quarta-feira, 27 de março de 2013

46 MILHÕES DE PESSOAS NO PAÍS TÊM ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA MENTAL...


FONTE: Daniela Pereira, TRIBUNA DA BAHIA.

Eles estão por todo canto. Debaixo dos viadutos, perambulando pelas avenidas, agindo como pedintes, ou até em casos mais extremo, agredindo pessoas. Quase 46 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência mental, motora, visual ou auditiva.

Esse número corresponde a 24% da população total do país, conforme constatação do Censo Demográfico 2010 – Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, 2,6 milhões de brasileiros declararam ter deficiência mental ou intelectual.

Na Bahia, a situação também é grave. O Censo identificou 211 mil pessoas com deficiência intelectual/mental no estado, o que representa 1,5% da população. Ressalta-se que não estão inclusos nos números perturbações ou doenças mentais, como autismo, neurose, esquizofrenia e psicose. De acordo com dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), na Bahia existem apenas quatro unidades públicas estaduais que oferecem tratamento psiquiátrico. Em apenas oito anos, 54% dos leitos foram eliminados. Atualmente existem 1.016 leitos psiquiátricos, sendo que 919 pacientes foram internados através do sistema Único de Saúde (SUS).

Centros.

Segundo a Sesab, há cerca de 10 anos, os deficientes mentais eram imediatamente internados, hoje, a base dos tratamentos são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Lá, eles recebem tratamento, sem internação, e participam de grupos de reabilitação, com acompanhamento de assistente social e psiquiatras.

Dos quatro hospitais baianos, o Colônia Lopes Rodrigues, em Feira de Santana, abriga o maior número de pacientes, com 269 internos. Em seguida, vem o hospital Juliano Moreira, Cabula, com 178 leitos, o Hospital Especializado Mário Leal, IAPI, com 30, e por fim a unidade especialidade Afrânio Peixoto, em Vitória da Conquista, com 50 leitos.

Triagens.

De acordo com o Rodrigo Sales de Souza, psicólogo do Hospital Juliano Moreira, maior da capital baiana, a unidade estadual atende através de demanda espontânea (sem necessidade de encaminhamento) e os pacientes são submetidos a triagens para receber atendimento adequado. “Temos ambulatório e emergência, esta última é dividida em dois modos.

A primeira é uma triagem, que funciona meio período, na qual recebemos pessoas que ainda têm o Juliano Moreira como referência para tratamento psiquiátrico ou moram em municípios distantes e não têm informações sobre atendimentos deste tipo onde moram.

A segunda triagem é a emergência, propriamente dita, na qual o funcionamento é feito 24 horas e os pacientes estão em quadro de crises e surtos. Geralmente eles são trazidos pela polícia, Samu ou pelos próprios familiares”, explicou.

Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a rede de Saúde Mental de Salvador é composta por 14 Caps II adultos, dois Caps da infância e adolescência, dois Caps de alcool e outras drogas, sendo que um funciona 24 horas, três ambulatórios (Unidades de saúde com equipe multiprofissional, especializada em saúde mental), um Pronto Atendimento psiquiátrico e dois Consultórios de Rua.

A coordenadora da área técnica de saúde mental da SMS, Célia Rocha, explica que a internação ocorre apenas em última instância. “Inicialmente o paciente é levado ao acolhimento, no qual é ouvido e tem o quadro diagnosticado. A partir daí definimos se o tratamento é normal, semi-intensivo ou intensivo”disse, ressaltando que nos 12 distritos de Salvador há pelo menos um CAPs para atender a população. “O CAPs é um serviço territorial”, garante.

Já Rodrigo de Souza completa que, nos últimos anos, houve aumento no número de CAPs, mas ainda é possível perceber reflexos da precariedade dos serviços. “Temos muitos CAPs na Bahia, porém precisamos de mais profissionais e equipamentos especializados. Além disso, é preciso maior atenção para os ambulatórios e municípios do interior, que muitas vezes têm equipamentos, mas não têm profissional. Sei que a situação já foi bem pior, mas ainda não estamos no ideal”, relatou o psicólogo.

No último dia 20, um homem, aparentando 30 anos, foi capturado correndo nu na avenida ACM, após surto. Contido, ele foi levado para o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Narandiba.

De acordo com informações do hospital, o homem é casado e havia feito tratamento contra esquizofrenia por oito meses no Centro de Atenção Psicossocial (CAP) de Brotas, mas havia abandonado o procedimento. Após avaliação médica, o homem foi levado para casa pela esposa e tia, sob recomendação de retomar o tratamento.

O custo e o modo de locomoção para atendimento médico também é um problema para familiares dos pacientes. “Nem sempre consigo convencê-lo a vim no médico. Às vezes o transtorno é muito grande e ele me bate, sem parar. Sem contar que gasto muito dinheiro com passagens”, contou a dona de casa, Amélia da Silva, 49, mãe de Joaquim Silva de Jesus, 26, que sofre de “problemas de cabeça”, como ela mesma definiu.

De acordo com a SMS, para que um paciente receba atendimento nos CAPs “a pessoa ou familiar deve se encaminhar ao serviço do seu território para fazer o acolhimento”. Além disso, “o internamento só é indicado quando todas as outras formas de tratamento forem esgotadas e o paciente represente real risco para si e/ou a outros”.

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