sábado, 5 de junho de 2010

MÉDICOS AMEAÇAM PARAR ATENDIMENTO POR PLANOS DE SAÚDE...

FONTE: Karina Baracho, TRIBUNA DA BAHIA.

“Temos um horário extra. Como os pacientes são marcados a cada 15 minutos, a senhora tem que chegar cedo para conseguir ser encaixada”. Respostas como essa são comuns entre atendentes de clínicas médicas e pacientes que tentam uma consulta. Porém, o tormento não acaba por aí. A cada solicitação de exames uma lista de procedências, autorização via fax e relatórios médicos estão entre os mais simples. Mas você já se perguntou o motivo de tanto entrave e a causa da rapidez nas consultas?
A negociação se arrasta desde 2004 e até agora poucas conquistas entre médicos e operadoras de planos de saúde: o valor de R$ 42 por consulta passou para R$ 43, que é repassado pelas operadoras aos profissionais de saúde. Além dos valores, outra reivindicação da classe é em relação a burocracia que atrapalha não apenas o atendimento, mas principalmente o paciente e consequentemente a celeridade do tratamento.
Na próxima segunda-feira entram em vigor as novas regras para os planos de saúde, estabelecidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Com a mudança, as operadoras serão obrigadas a incluir na cobertura básica 70 procedimentos e ampliar o limite de consultas em algumas especialidades.
A nova listagem beneficiará 44 milhões de usuário de planos. Os serviços deverão constar em todos os planos de saúde contratados a partir do dia 2 de janeiro de 1999. Segundo ANS, as mudanças não terão grande peso nos custos, mas essa elevação pode ser repassada principalmente no caso dos contratos de grupos.
Entre os novos procedimentos estão a cobertura obrigatória de transplante de medula óssea por parentes ou banco de medula, a inclusão de 16 procedimentos odontológicos, como colocação de coroas e blocos dentários, e o exame de imagem para identificação de câncer em estágio inicial e avançado, o PET-Scan oncológico. Esse procedimento, que pode facilitar diagnósticos, é considerado caro pelos planos de saúde.
A ANS decidiu ainda ampliar o número mínimo de consultas para determinadas especialidades. As consultas com fonoaudiólogo passam de seis para até 24 vezes por ano, enquanto os nutricionistas, que só podiam ser consultados seis vezes, poderão ver os pacientes em 12 consultas.
Terapias com psicólogos sobem de 12 até 40 consultas por ano, desde que sejam indicadas por um psiquiatra. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo, que representa os planos de saúde, informou que as novas regras irão gerar custos adicionais e que os primeiros a sentir devem ser os novos clientes.“Continuando as negociações, pois tivemos resultados bem insignificantes”, afirma o médico, membro do Conselho de medicina da Bahia e coordenador da Comissão Estadual de Honorários Médicos, José Maia. De acordo com ele, uma correspondência oficial já foi encaminhada às operadoras.
“Dentro de aproximadamente 60 dias vamos ter uma nova assembleia, pois o nosso objetivo é que a situação seja resolvida da melhor forma para não atingir o usuário, que é quem mais precisa dos nossos serviços”, ressalta.
Porém, segundo ele, parece que a situação tende a continuar sem alterações. “As operadoras não estão dando importância ao que acontece com a saúde”, lembra em relação ao atendimento inadequado. “O repasse por consultas, além de ser mínimo acontece em 90 e até 120 dias”, destaca. “Além disso, os profissionais têm dificuldades em realizar alguns procedimentos, por conta da burocracia”.
REAJUSTES NÃO SÃO REPASSADOS.
A artista plástica Luara Nogueira, 32 anos, já passou pelo jogo de empurra das operadoras. “Pago o meu plano de saúde mensalmente e quando precisei fazer um exame solicitado pelo meu médico fui barrada pelo plano. O pior é que depender do serviço público de saúde é ainda pior”, diz indignada com a situação. Sem dinheiro para fazer o exame particular, que custa em torno de mil reais, ela foi obrigada a substituir. “Mas o meu médico explicou que o resultado não seria tão preciso”, desabafa.
Conforme Maia, a alegação do não aumento e do atraso nos repasses por causa dos avanços da medicina. “O que é um absurdo. Os avanços da medicina são em prol da população, e é justamente por causa dos avanços que expectativa de vida aumentou nos últimos 40 anos. Atualmente vivemos 20 anos a mais e com qualidade”, enfatiza.
Segundo ele, anualmente a Agência Nacional de Saúde (ANS) autoriza os aumentos dos planos de saúde dos usuários. “Porém, nada é repassado para os profissionais de saúde. O que causa um grande desequilíbrio econômico”.
Para negociar essas questões, a Associação Baiana de Medicina (ABM) criou a Comissão Estadual de Honorários Médicos. No dia 19 de maio aconteceu a primeira assembleia, dentro de aproximadamente 60 dias deverá acontecer outra para a resolução da situação. Na ocasião, as quatro categorias de convênios – seguradoras, medicina de grupo, cooperativas e empresas de auto gestão – deverão apresentar suas contra-propostas.“Estamos representado o pleito dos médicos que são representados pela ABM, sindicato dos médicos e do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb)”, conclui o também consultor da Comissão Estadual de Honorários Médicos, José Alberto Muricy.

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