sábado, 19 de junho de 2010

O SÃO JOÃO DOS QUEBRADOS...

FONTE: TASSO FRANCO, TRIBUNA DA BAHIA.

Passamos o ano todo recebendo informações da UPB, Associação Brasileira dos Municípios, Confederação Nacional dos Municípios e de outras entidades ligadas ao municipalismo, dando conta de que uma parcela significativa das Prefeituras está “quebrada”, a outra metade enfrenta dificuldades enormes, e, salvo melhor juízo, poucas são aquelas que têm situação financeira confortável. Em parte, de fato, isso é verdade porque muitas atribuições que eram da União e dos Estados passaram à competência dos municípios e muitos deles não têm condições adequadas de administrar essas transferências.
Também é verdade que houve uma queda dos repasses do FPM e outros, sobretudo, em 2009, diante da crise da economia mundial que afetou o Brasil, apesar da “marolinha” midiática de Lula, há enormes pendências com o INSS, alguns municípios não conseguem pagar o piso salarial nacional aos professores e outros itens sequenciais. Ainda assim, vemos que alguns municípios, aqueles que são bem administrados por seus gestores, sofrem menos e enfrentam os problemas com bom desempenho. Não convém aqui citar A ou B, mas, na Bahia, existem muitos exemplos.
O que causa admiração, no entanto, é quando chega o período dos festejos juninos. As Prefeituras, de repente, não mais do que de repente, como diria o poeta de boteco em sua vã filosofia, ficam ricas, algumas milionárias, isso a julgar pela difusão das festas que estão a realizar no São João e no São Pedro. Tem municípios, e não são dos mais prósperos da Bahia, que estão anunciando até 10 atrações entre as bandas locais e as nacionais, numa “farra” junina de causar inveja a Guido Mantega, o homem que comanda o cofre público nacional; ou a Carlos Martins, nosso Palocci baiano.
É verdade que algumas dessas festas, em parte, têm patrocínios e apoios da iniciativa privada, do governo do Estado, da Petrobras, da Embratur, etc, mas, ainda assim, os municípios são responsáveis pela infraestrutura, logística, assistência médica, iluminação, limpeza, serviços extras de pessoal, e assim sucessivamente. Uma festa para 80 mil pessoas, e isso é fichinha na divulgação desse pessoal dos seus eventos junto à mídia, requer toda uma infra que a Prefeitura banca com custos elevados. Então, não cola dizer que a Prefeitura não está gastando nada, como alguns dizem, porque não corresponde à realidade.
Então, são por essas e outras que as marchas de prefeitos para Brasília e para a Governadoria, esta última ocorrida em Salvador, ano passado, quase sempre não trazem bons resultados para os municípios porque falta credibilidade em algumas de suas intenções. Não me recordo se da lista de pedidos formulada pela UPB ao governo do Estado, com secretários recebendo as reivindicações na soleira do prédio da Governadoria, no CAB, algum dos itens tenham sido honrados. Registra-se, pois, muita marola pra nada. O presidente da Confederação dos Municípios está neste “cargo” há anos. Impressionante como não se renovam esses quadros federativos.
Causa também admiração que, alguns festejos juninos, megafestas como as assessorias das Prefeituras propagam, se transformaram em eventos carnavalescos e não guardam nenhuma relação com a cultura popular do São João. E essas bandas das estrelas e astros da música axé e os grupos constituídos por duplas sertanejas goianas e paulistas são as mais caras. Não sobem nos palcos com menos de R$ 100 a R$ 200 na algibeira, dinheiro antecipado. Ou paga antes, ou quem quiser que vá catar cavaco. Criou-se, em torno disso, uma nova dinâmica na cultura do São João da Bahia, uma espécie de “micajão”, mistura de Micareta com São João, onde o que menos vale é a tradição, o arrasta-pé, a fogueira, a canjica e a puba.
Então, não me convidem mais para marcha de prefeitos porque não dá pé. Vou é pegar minha alparcatas da Paraíba e me mandar pro forró do Teco, lá na Serra, onde ainda existe um cheiro de São João e os cofres públicos não são abalados.

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