sexta-feira, 4 de junho de 2010

RELIGIÃO E POLÍTICA...

FONTE: Ivan de Carvalho, TRIBUNA DA BAHIA.

O dia de Corpus Christi, ontem, suscitou na mídia brasileira uma temática que mistura religião e política. Não é uma coisa despropositada. Quando Pilatos advertiu Jesus de que tinha poderes para mandar crucificá-lo, ouviu uma resposta que lhe terá soado surpreendente: “Nenhum poder tens sobre mim, senão o que te foi dado do Alto”. Estava aí posta pelo fundador do cristianismo uma relação entre a realidade espiritual e a política.
Mas o próprio Jesus recomendara antes uma certa separação – coisa que a ditadura teocrática iraniana, tão amada pelo governo brasileiro, não faz – quando lhe foi perguntado se os tributos a Roma deviam ser pagos. Ele pediu uma moeda e, ao indagar e ouvir que era do imperador romano (César Tibério) a efígie que estava nela, recomendou: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
No entanto, houve também a recomendação para que seus seguidores se aproximassem (também) dos governantes, de modo a falar-lhes e convencê-los a comportamento compatível que os ensinamentos de Jesus, recomendação que foi adiante seguida de ressalva no diálogo entre Pilatos e Jesus, no qual este último afirmou, inquirido se era o “rei dos judeus”, que “meu reino não é deste mundo”. Mais adiante, no entanto, já ressurreto, ele anunciou aos discípulos: “Me foi dado todo o poder nos céus e na Terra”.
É normal que os candidatos a presidente busquem a simpatia dos espiritualistas, assim como dos ateus. Também é normal que procurem atrair o apoio de denominações religiosas específicas, mas não é correto que, caso seja algum deles ou delas ateu ou ateia, tente passar aos eleitores católicos, evangélicos ou de qualquer outra vertente espiritualista que se insere numa delas ou, simplesmente, que é espiritualista. Da mesma forma que não seria correto um candidato espiritualista sair por aí proclamando ser ateu.
É exigível a quem se candidata a presidente da República que não minta, não engane o eleitorado, não ponha disfarces e máscaras sobre suas posições, inclusive sobre espiritualidade, religião e temas correlatos, como é o do aborto e vários outros. É exigível que não fale por meias palavras, ou enrolando a língua para enrolar as pessoas, pois não é exigível que em um país de nível educacional tão baixo quanto o Brasil todos os eleitores sejam bons entendedores, para os quais meia palavra basta. É exigível, em nome da cidadania e da verdade, bem como do caráter de futuro presidente, que os candidatos a tão alto cargo não se aproveitem da educação que seus antecessores não asseguraram a uma grande parte do eleitorado para enganá-la.
Em tempo: em entrevista ao Terra Magazine, a professora Maria da Dores Campos Machado, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em voto e religião, julga preocupante que não existam regras sobre promoção de candidatos nas igrejas. E defende um controle sobre as mensagens passadas aos fiéis pelos sacerdotes. Pronto. Aí começa o ataque à liberdade religiosa no Brasil. Esta entrevista pode se tornar um marco histórico, caso a tese prospere. Quem iria controlar? O Congresso com suas leis e a Justiça Eleitoral. O Estado, portanto. Ora, assim vai-se dar a César o que é de Deus.

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