quarta-feira, 16 de junho de 2010

SELEÇÃO MARACUJINA...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.

Somente acordei agora. Dunga me curou. Aleluia, irmão! Eu vinha de uma insônia que já durava dez anos. Tentava dormir e não conseguia. Ficava vendo televisão e o sono batia. Lia e o sono vinha. Ouvia música e o sono aparecia. Bastava chegar na cama e ficava fritando para lá e cá, como se fosse quibe. Procurava dormir no sofá e o sono escapulia.
Fiz de tudo para curar. Uma mãe de santo me recomendou beber sangue quente de galinha. Pedi uma transfusão à minha prima e não deu certo. Voltei à ialorixá e ela me deu um sermão “onde se viu tirar sangue da prima; falei galinha de pena... que avoa”, Ia responder que ela gosta de Asa Delta, mas calei.
Outra me recomendou cozinhar um morcego gordo com caldo Knorr e depois tomar a sopa. Nunca vi um bicho deste com problemas de colesterol e terminei desistindo. A última mãe de santo me aconselhou a pegar a calçola de Marta, da seleção feminina de futebol, logo quando o jogo terminasse e colocasse embaixo do travesseiro. Era líquido e certo pegar no sono. Escrevi para a jogadora e, não sei o porquê, até hoje não me respondeu.
Para curar a insônia já tomei dois litros de Maracujina. Engoli uma cartela de Valium e duas de Dormonid. Bebi uma bombona de chá de Melissa. E outros tantos barris de Capim Santo, Comigo Ninguém Pode, Quebra Pedra, água de alevante, água de arroz, caldo de feijão com folha de louro, cachaça com Erva Doce. Tomei três mil banhos quentes e seis banhos frios e dois temperados. Fiz ioga, pilates, tai chi. Assisti a vários programas de Jô Soares. Dediquei vários domingos vendo Faustão e sábados com Luciano Huck. Não tive a menor vergonha de ler Paulo Coelho e fiquei ouvindo o novo disco de Caetano.
Quando eu já estava entregue, achando que iria aparecer um dia no Globo Repórter como o homem que nunca dormia, deitei na rede com minha vuvuzela, pronto para comemorar uma grande atuação da Seleção Brasileira. Claro que não acho que Dunga seja um bom técnico. Nem um bom anão ele foi. Zangado e Atchim eram os meus favoritos e o de Branca de Neve.
Eu acreditava na seleção por causa de Neymar, Ganso, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Washington e Fred, até que me alertaram que eles não haviam sido convocados. Também, quem manda não ver noticiário esportivo? – Nem Apodi foi chamado? – ainda perguntei na maior da inocência.
Já fiquei preocupado, ainda mais que foram logo me informando que Kaká estava sem jogo. Ajeitei ainda mais na rede e esperei o jogo começar. O árbitro deu a partida e eu esperando. Vai passando o tempo e nada de jogo. A seleção anda de um lado para o outro como se estivesse escolhendo terno num shopping ou comprando tomate na Feira de São Joaquim: sem pressa. O jogo vai, segue, vai.
Nisso quando acordo já era tarde. Dormi feito um corno. Para mim, pelo menos para minha pessoa Dunga é mais que um santo. É um milagreiro. Sua seleção monótona, burocrática, preguiçosa, medrosa e lenta foi um verdadeiro chá de Bom pra tudo com Erva Cidreira. O melhor dos soníferos. Agora, penso na seleção e o sono chega. Leio no jornal sobre os canarinhos e desmaio no primeiro parágrafo. Basta falar da Copa que... zzzzzzzzzzzzz!

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