quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CIRURGIA PARA TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO EXIGE CAUTELA (PARTE DOIS)...


Foi essa isenção que a agência aplicou, em 2009, a um dispositivo usado para realizar a suposta estimulação cerebral profunda (ou DBS, da sigla em inglês) em pacientes com TOC que não haviam respondido a outros tratamentos.
Neste procedimento, um cirurgião insere fios no cérebro e os deixa no local; um dispositivo similar ao marcapasso envia uma corrente elétrica aos eletrodos, interferindo com circuitos que parecem ser hiperativos em pessoas com a doença.
A estimulação cerebral profunda possui um histórico comprovado de reduzir os tremores e a rigidez do mal de Parkinson; em estudos, médicos realizaram a operação em pessoas com depressão e síndrome de Tourette, entre outros problemas. Ela é a uma das mais usadas técnicas de psicocirurgia e a mais conhecida pelos médicos e aquela que, segundo especialistas, tem maior probabilidade de definir as expectativas e a imagem pública da psicocirurgia para o bem ou para o mal.
Os autores do estudo em "Health Affairs" dizem que esta é mais uma razão para revogar a isenção e sujeitar a técnica a estudos adequados, usando pacientes de TOC. Mesmo se o dispositivo for o mesmo, seus efeitos em diferentes doenças devem ser estudados separadamente.
E esses estudos devem analisar a qualidade de vida, e não só a gravidade da doença. Num estudo de 2008, pesquisadores suecos descobriram que os pacientes que haviam feito outro tipo de cirurgia para TOC, chamada de capsulotomia, mostraram sintomas de apatia e falta de autocontrole durante anos após o procedimento mesmo tendo sido classificados num grau menor de gravidade.
"Apenas porque reconhecemos uma necessidade pela cirurgia, isso não significa que não temos de proceder de forma agnóstica e científica para ver se ela realmente melhora a vida das pessoas", afirmou uma coautora do artigo, Helen S. Mayberg da Universidade de Emory, neurologista pioneira no uso da DBS para depressão.
Ela e muitos dos outros autores incluindo Bart Nuttin, dos Hospitais Universitários de Leuven, na Bélgica, que publicou o primeiro relato sobre o uso da DBS contra o TOC há cerca de uma década --possuem patentes ligadas aos procedimentos ou receberam financiamento da indústria para seus trabalhos. Isso também ocorreu com muitos outros no campo, e o novo artigo argumenta que os interesses comerciais agiram para empurrar a DBS ao mercado psiquiátrico à frente da ciência.
Mesmo assim, os médicos que oferecem a cirurgia dizem que a maioria dos autores do artigo não trabalham extensivamente com o transtorno obsessivo compulsivo. "Eu acho que a FDA agiu corretamente", disse por e-mail Benjamin D. Greenberg, psiquiatra da Universidade Brown que dirige o programa de cirurgia de TOC no Hospital Butler, em Providence, Rhode Island. "Os dados sobre a eficácia não são perfeitos, e é por isso que estamos realizando um estudo controlado. Mesmo assim, eles são substanciais".
A cirurgia para problemas de comportamento pode ficar restrita a estudos ou continuar sendo oferecida através de uma isenção da lei; em ambos os casos, todos concordam que o campo deveria criar um registro de todas as pessoas submetidas a cirurgias para problemas psiquiátricos. Alguns pacientes podem melhorar com o tempo, por exemplo, outros podem entrar em colapso: ninguém sabe, pois ninguém acompanha sistematicamente um grupo grande de pacientes ao longo dos anos.
"Só porque tudo parece estar bem logo após um procedimento", disse Mayberg, "isso não quer dizer necessariamente que o tratamento é eficaz e que seu trabalho terminou".

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