FONTE: Roberta Cerqueira, TRIBUNA DA BAHIA.
É mais fácil achar uma nota de cem reais”, ironiza o vendedor ambulante José Francisco de Abreu, 37 anos, sobre a dificuldade de encontrar um telefone público em funcionamento, nas ruas da capital baiana.
Depredados, inoperantes e carentes de manutenção, os orelhões viraram obstáculos, no meio das calçadas.
O problema não se restringe apenas a regiões periféricas da cidade, atinge áreas de grande movimentação de baianos e turistas, a exemplo da Barra – entre o Porto e o Farol – onde mais de 90% dos telefones não funcionam.
Há dois dias em Salvador, a professora carioca Ana Maria Marques, 45, testou mais de 10 orelhões. As tentativas foram em vão. “Estão quebrados”, lamentou, em busca de um meio de comunicação com a família, que ficou no Rio de Janeiro. “Garantiram que no shopping tem um telefone funcionando, vou pra lá”, dizia.
A cena é mais comum do que parece e faz parte da rotina dos soteropolitanos. “Nem me lembro mais qual foi a ultima vez que utilizei um orelhão, com a comodidade do celular, a gente até esquece que existe telefone público”, resume a estudante Marina Viera Lima, 26.
A comerciante Isabel Barretos dos Santos, 61, lembra com saudade da época das fichas telefônicas. “Eu comprava um saco de fichas e falava com meus amigos e parentes, o mês inteiro, depois que entraram esses telefones de cartão, estragou tudo”, critica.
Entregues à sorte, os aparelhos apresentam defeitos, muitos são alvo de vândalos, que arrancam peças e destroem os equipamentos, outros estão desgastados pela ação do tempo, entretanto, poucos são substituídos ou recuperados.
O Plano Geral de Metas para a Universalização (PGMU) – que normatiza a telefonia no País – determina que toda localidade com mais de 100 habitantes tem direito a pelo menos um telefone público ligado 24 horas e capaz de realizar chamadas nacionais e internacionais. Em regiões com mais de 300 habitantes, o plano estabelece a meta de três orelhões para cada grupo de mil pessoas.
A norma do PGMU também estabelece que pelo menos 2% dos aparelhos sejam adaptados para portadores de necessidades especiais. No caso dos deficientes visuais, o plano determina que todos os telefones públicos sejam adaptados com a tecla 5 em alto relevo indicando o centro do teclado e com os cartões telefônicos em braile, além da opção de, ao apertar a tecla # duas vezes, o usuário possa ouvir tons longos (dezenas) e tons curtos (unidades) para discar os números. Regras que parecem esqueças em Salvador.
Motivada por diversas queixas de moradores e comerciantes da Barra, a reportagem da Tribuna percorreu a orla e ruas internas do bairro, onde estão instalados mais de 30 aparelhos e constatou a gravidade da situação.
A maioria dos telefones não funciona, não há aparelhos adaptados às necessidades especiais, muito menos capazes de realizar chamadas internacionais.
Bem localizados em frente ao Hospital Espanhol, dois destes aparelhos parecem estar em perfeito estado, mas, ao tentar efetuar uma ligação, eis que surge a mensagem: “aguarde..(silêncio).” e nada mais acontece.
APARELHOS DESTRUÍDOS.
Nas ruas transversais à orla marítima, a exemplo da Avenida Marques Leão, o problema se agrava.
Nas ruas transversais à orla marítima, a exemplo da Avenida Marques Leão, o problema se agrava.
Além de não funcionarem, muitos dos aparelhos estão destruídos, enferrujados e muitos já não apresentam fones.
Porteiro do Edifício Palazzo Salermo, na Rua Afonso Celso, Silvio Souza, já perdeu as contas de quanto tempo não utiliza o telefone público de frente ao prédio.
“Quando quero ligar tenho que andar mais de um quarteirão”, diz.
Na esquina da Rua Barão de Itapuã, um orelhão, aparentando bom estado, surpreende a reportagem, mas, por pouco tempo. O telefone chega a dar sinal, mas, não completa a ligação.
No Largo do Porto da Barra mais de 10 telefones públicos compõem a paisagem de um dos locais mais frequentados de Salvador. “Nenhum destes funciona”, alerta o comerciante João Batista, 50, dono de um estabelecimento, no local.
Ao testar os aparelhos, os usuários se deparam com o informe: “Fora de operação” “A Oi, que é a empresa responsável pelos orelhões da Bahia, não faz questão de consertar os aparelhos, pois o que ela quer é vender celulares e créditos para as linhas móveis e ninguém faz nada para mudar isso, afinal ela (a Oi) tem o monopólio”, opina.
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