quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

CIRURGIA PARA TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO EXIGE CAUTELA (PARTE UM)...

FONTE: BENEDICT CAREY, DO "NEW YOR TIMES" (www1.folha.uol.com.br).
Nos últimos anos, muitos psiquiatras passaram a acreditar que a última e melhor chance para algumas pessoas com problemas mentais graves e incuráveis seria a psicocirurgia, um procedimento experimental onde os médicos operam diretamente no cérebro.
Centenas de pessoas se submeteram a cirurgias cerebrais por problemas psiquiátricos, geralmente em ensaios clínicos, com alguns resultados animadores. Em 2009, o governo aprovou uma técnica cirúrgica para certos casos graves de transtorno obsessivo compulsivo, ou TOC. Pela primeira vez desde que a lobotomia frontal caiu em descrédito, na década de 1950, a cirurgia para problemas comportamentais parecia voltar ao caminho da medicina geral.
Agora, porém, alguns dos mais importantes cientistas do campo estão dizendo que a coisa "não é bem assim".
Num artigo na edição atual da revista "Health Affairs", esses especialistas afirmam que aprovar a cirurgia para TOC foi um erro e um erro potencialmente caro. Eles argumentam que a cirurgia ainda não foi suficientemente testada, que sua eficácia em longo prazo e efeitos colaterais não são bem conhecidos, e que chamá-la de "tratamento" eleva as esperanças dos pacientes muito além do que seria cientificamente indicado.
"Não somos contra a operação, apenas queremos vê-la sendo testada adequadamente antes de ser considerada como um tratamento", disse o principal autor do estudo, Joseph J. Fins, chefe de ética médica no hospital NewYork-Presbyterian/Weill Cornell. "Com o legado da psicocirurgia, é importante que não chamemos as coisas de tratamento quando isso não é verdade".
Os médicos que conduzem programas com a operação se opõem veementemente.
"Estes pacientes são capazes de tomar decisões conscientes com base em nossa experiência com a cirurgia", disse Wayne K. Goodman, diretor de psiquiatria da Escola de Medicina Mount Sinai, "e eu não gostaria de privá-los dessa opção --da mesma forma que eu não negaria, a um portador do vírus da Aids, o acesso a um tratamento promissor que ainda não foi estabelecido. Suas vidas foram tão destruídas pelo TOC que, sem a cirurgia, eles começariam a pensar em suicídio".
O debate sobre esta questão --uma cirurgia experimental deveria ser permitida, em alguns casos, antes que os longos testes sejam finalizados?-- irá basicamente definir o curso futuro da psicocirurgia moderna. E pode também incitar a interpretação de uma obscura lei da FDA (agência que regulamenta a produção e distribuição de remédios e alimentos nos EUA), que permite que os fabricantes comercializem um dispositivo, sem provar rigorosamente sua eficácia, se ele for destinado a tratar ou diagnosticar alguma doença razoavelmente rara.

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