sexta-feira, 25 de março de 2011

AS ARMADILHAS DO DINHEIRO DE PLÁSTICO...

FONTE: Catiane Magalhães, TRIBUNA DA BAHIA.

Nos idos dos anos 80, o cantor e compositor Cazuza já dizia que cartão de crédito é uma navalha. Quase três décadas depois, a frase ainda se aplica com exatidão à realidade de muitas famílias brasileiras. O “dinheiro de plástico”, como é popularmente chamado, tem se mostrado uma verdadeira faca no pescoço, ou melhor, no bolso de muito consumidor, amputando drasticamente o seu orçamento.
Os gastos com cartão de crédito levam quase metade da renda da população, sobretudo da classe média, que, segundo estudos realizados, prefere abrir mão de outras dívidas, como pagar um plano de saúde ou uma previdência privada, para não precisar resistir às tentações das vitrines.
Especialistas explicam que esse consumo desenfreado ocorre, entre outras razões, devido às facilidades de pagamento, como parcelamentos prolongados e principalmente pela falsa impressão de não precisar desembolsar nada no ato da compra.
“O consumidor que opta pelo crédito pensa a longo prazo, ou seja, ele não vê o valor sair da conta na hora e acha que ainda tem aquela quantia disponível. O problema é que na maioria das vezes ele também compromete o dinheiro que ficou em caixa na compra de outro bem e passa a contar com o salário que ainda vai receber, já que, na sua cabeça, ele ganhou 30 ou 40 dias para pagar, tempo suficiente para repor o que gastou”, explica o economista George Trindade.
Outro grande problema, na sua opinião, é a forma como os cálculos são feitos. “Dificilmente alguém considera o montante da compra, mas apenas o valor das parcelas. Isso atrapalha a organização das finanças, pois o consumidor sempre acha que gastou menos que o de fato”, pontuou.
O resultado desta soma mal efetuada é o número, cada vez maior, de pessoas que se enrolam nas contas e recorrem ao pagamento mínimo das faturas. O procedimento, que implica na cobrança de juros altíssimos por parte das operadoras de cartões de crédito, é condenado pelos economistas, por considerar demasiadamente desvantajoso para o cliente.
De acordo com os especialistas, com os juros praticados no Brasil, dificilmente o consumidor consegue se livrar da dívida, pelo contrário: adquire uma maior e entra na chamada “bola de neve”.
O número de reclamações no Procon confirma a afirmação. Só no ano passado, 495 pessoas procuraram o Órgão em Salvador para denunciar as cobranças indevidas e os abusos de taxas. Só nos primeiros três meses de 2011, esse número já chega a 177, um aumento superior a 40%, se comparado ao mesmo período de 2010.
NOVAS REGRAS DO CARTÃO PASSAM A VALER DIA 1º.
Devido a crescente incidência, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou a adoção de novas medidas para o uso consciente do cartão de crédito.
A partir do dia 1º de junho deste ano, o valor mínimo para pagamento da fatura mensal passará de 10% para 15% do valor total e até dezembro esse percentual será de 20%. As taxas de juros, os tipos de cobrança e a forma de envio dos cartões também sofrerão alterações.
O objetivo é padronizar algumas cobranças e ajudar os brasileiros a distinguir as legítimas das indevidas e abusivas, além de frear o consumo daqueles que entraram no ciclo vicioso do pagamento mínimo.
“Com o novo pacote de medidas, o consumidor terá mais saída das eternas dívidas”, acredita o consultor financeiro Antonio De Julio.
Para ele, o pagamento mínimo no Brasil deveria ser de 50%, já que o país pratica a maior taxa de juros do mundo. “Assim, os juros seriam menores e, consequentemente, o cartão de crédito deixaria de ser vilão para muitas famílias”, disse, ressaltando que o uso correto do mesmo pode fazê-lo um forte aliado, já que é um meio de pagamento que permite um controle financeiro, se utilizado adequadamente.
O consultor aconselha o pagamento total da fatura sempre. “Pode parecer exagero, mas não é. Entrar no rotativo do cartão é adquirir uma dívida que chega a 300% de juros em um ano. É um verdadeiro terremoto nas finanças”, adverte.
“Aliás, o rotativo é uma opção de crédito que deveria ser proibida em nosso país, por ser altamente extorsiva”, diz, ele que defende a teoria de que o controle dos gastos com o cartão de crédito é o exercício de educação financeira mais difícil, porém mais necessário.
Para evitar o descontrole, De Julio recomenda que as pessoas deixem em casa os cartões quando forem a shoppings sem a intenção de comprar. É bom evitar também comprar itens desnecessários só porque estão em promoção ou usar o cartão apenas para acumular benefícios como milhas e outros.
Segundo ele, o ideal é concentrar todos os gastos em apenas um cartão, que lhe dará mais poder de negociação na hora de pleitear a redução das taxas cobradas e do valor da anuidade.

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