sábado, 26 de março de 2011

MULHERES SOFREM COM VIOLÊNCIA EMOCIONAL NO PARTO...

FONTE: Maria Rocha, TRIBUNA DA BAHIA.

Estava sentindo muita dor e as enfermeiras fizeram pouco caso. Disseram que na hora de fazer o filho eu não chorei. Fiquei com muita raiva”. Este é um dos inúmeros depoimentos que atestam o tipo de atendimento que muitas mulheres recebem nas maternidades quando entram em trabalho de parto.
A falta de atenção dispensada por alguns profissionais de saúde foi o principal assunto de uma pesquisa que traça o perfil e alguns aspectos do cotidiano feminino das brasileiras. No estudo, foi revelado que 15% das mulheres que se submeteram ao parto normal sofreram algum tipo de agressão no atendimento hospitalar.
A autora do depoimento acima é uma estudante do nível médio de 18 anos e que aos 15 deu à luz a sua única filha. A estudante prefere não revelar sua identidade, mas declarou que ficou muito triste por conta do atendimento que recebeu numa maternidade pública de Salvador. “Era um momento que precisava de muita atenção, mas fui tratada com grosseria.
Fiquei horas sentindo muitas dores e durante todo esse tempo não recebi uma palavra de conforto. Estava sozinha, sem a companhia de familiares”, completou.
O depoimento da estudante comprova o que dezenas de mulheres passam no Brasil inteiro. A pesquisa colheu a opinião de 2.365 mulheres e 1.181 homens, com mais de 15 anos de idade, de 25 unidades da federação.
O levantamento envolve 176 municípios na amostra feminina e 104 na masculina. A margem de erro da pesquisa é entre 2 e 4 pontos percentuais para mulheres e entre 3 e 4 pontos para os homens, em ambos o intervalo de confiança é de 95%.Em um dos itens do estudo, há uma revelação sobre Violência Institucional no Parto.
As brasileiras afirmaram terem sofrido algum desrespeito ou maltrato ao procurar assistência em maternidades ou em atendimento pré-natal, 15% das mulheres submetidas ao parto natural. A pesquisa que surge com a pretensão de ilustrar debates para a elaboração de políticas públicas revela que o pré-natal, muito bem divulgado pelo Governo tem uma brecha.
Todo o acompanhamento que a gestante recebe tanto da rede privada quanto do SUS tem o único objetivo, avaliar apenas as condições físicas da mãe e do bebê, mas o emocional da parturiente, que deve ser bem preparado, é simplesmente ignorado. Fato que motiva o nervosismo apresentado pela maioria das gestantes durante o trabalho de parto e que desencadeia a falta de paciência dos profissionais da área de saúde sobrecarregados de serviço e insatisfeitos com as condições de trabalho.
Dentre as diferentes formas de violência, uma em cada quatro (25%) relatou ter sofrido na hora do parto, pelo menos uma das modalidades de violência sugeridas, com destaque para exame de toque doloroso (10%), negativa para alívio da dor (10%), não explicação para procedimentos adotados (9%), gritos de profissionais ao ser atendida (9%), negativa de atendimento (8%) e xingamentos ou humilhações (7%).
PROBLEMA É MAIOR NO SUS.
Nas declarações das entrevistadas, elas relataram situações de descaso dos profissionais que as atenderam. Frases do tipo: não chora que ano que vem você está aqui de novo” (15%); “Na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe” (14%); “se gritar eu paro e não vou te atender” (6%); “se ficar gritando vai fazer mal pro neném, ele vai nascer surdo” (5%), receberam destaque na pesquisa.
Segundo o coordenador da pesquisa realizada em agosto do ano passado pela Fundação Perseu Abramo, Gustavo Venturi, os episódios de violência ocorrem tanto na rede privada, quanto na pública, obviamente que nas unidades de atendimento pelo SUS e nas grandes cidades, o problema é mais evidenciado.
“Foi percebido na pesquisa que nas unidades onde a capacidade de atendimento é maior há mais problemas nos equipamentos em decorrência da demanda de pacientes, sendo isso agravante para a situação.
Há uma junção das condições de trabalho do profissional de saúde, seja ele enfermeiro, atendente ou o próprio obstetra, e o despreparo das mulheres para o parto”, completou Gustavo. Além da violência institucional, a pesquisa abordou ainda o tema violência doméstica como item que merece destaque. Foram apontadas 20 modalidades de violência.
Cinco mulheres são violentadas a cada dois minutos. Além de ameaças de surra (13%), uma em cada dez mulheres (10%) já foi de fato espancada ao menos uma vez na vida (respectivamente 12% e 11% em 2001).
Considerando-se a última vez em que essas ocorrências teriam se dado e o contingente de mulheres representadas em ambos levantamentos, o número de brasileiras espancadas permanece altíssimo, mas diminuiu de uma a cada 15 segundos para uma em cada 24 segundos – ou de 8 para 5 mulheres espancadas a cada 2 minutos.

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