quarta-feira, 30 de março de 2011

ESTA NOVA VELHA SALVADOR...

FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.

"Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a Ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa e ilumina. Amém”


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“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a Ti nos confiou a piedade divina, que de hoje para sempre nos governe, pelos séculos sem fim. Amém”.


Senhor, como não sei rezar e muito menos saber qual a oração certa, escrevo e publico as duas versões, na esperança de ser compreendido e ouvido. Não leve a mal te dar mais este trabalho, hercúleo, sei, num momento em que o Senhor está envolvido no conflito da Líbia, nas usinas atômicas do Japão e na taxa Selic do Brasil. Mas, é assim mesmo.


Vou apelar para quem? Desculpe a brincadeira, mas se não aguenta por que veio? Quem mandou ser síndico? Perdão por mais este pecado. Mas, Senhor, esta cidade que é do Senhor e que se chama Cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos está um inferno (ops! Perdão pela má palavra).


O trânsito não flui. Ontem mesmo caiu uma nadica de nada de chuva e engarrafou tudo. Levei do centro para a Paralela quase uma hora de relógio. O Senhor não acha isso um absurdo? Sei que o Senhor não anda de buzu, nem de táxi – nem mesmo estes de cooperativa que têm ar condicionado – pois Tens carruagens com cavalos brancos e um séquito de querubins assexuados, serafins, arcanjos e santos do seu ministério; aliás, só o senhor tem mais ministros que nossa presidente (que quer ser a qualquer custo presidenta, nem que torture a língua como Vos faço) Dilma.


Eu sempre soube que o problema do trânsito nesta cidade que hoje faz aniversário e para quem peço sua proteção, era por causa da sua configuração geográfica. Os engenheiros de trânsito e arquitetos nos garantem que é difícil fazer um plano para uma cidade que não é plana.


Que a cidade surgiu em cima do morro como fortificação construída pelos portugueses, que a princípio nem pensaram que ali seria bom para uma cidade e que tinha apenas o caráter motivador de ser para fins militares, protegendo nossa costa dos invasores espanhóis e franceses.


Claro que sei que foram abertas muitas avenidas, que a cidade se mudou em direção ao Norte, mas que diabos (ops! Perdoe de novo, Senhor, pela má palavra) que os caras fazem avenidas e não prestam atenção nos aclives, declives, deslizes e lombadas. Basta uma chuvinha que a cidade vira um mar de lama. Já imaginastes por aqui um tsunami. Sorte que o Senhor, claro, é brasileiro.


Falar nisso, tanto lugar para o Senhor ter escolhido para colocar no passaporte e veio logo para estas paragens – gosto não se discute e eu não vou discutir com o Senhor que besta não sou. Vá lá que me mande um raio nos cornos. Além de morrer ainda ia ficar um terrível cheiro de chifre e isso não é bom para a imagem de ninguém, se o Senhor me entende. E os buracos, Senhor. Parece que a cidade está cheia de roedores.


Tapa um buraco aqui, surge outros ali. Buraco em Salvador parece prole de coelho. Que diabo de tipo de asfalto que andam colocando? Disseram-me que é do tipo chiclete Adams; em pouco tempo fica mole e grudente, sem gosto. Parece asfalto paraguaio ou feito em Feira de Santana. Mas não podemos nos queixar da inventividade do soteropolitano.


Agora me inventaram, Senhor, de fazer túneis para baixo do chão, que chamam de descida? Desmaio? Mergulho? Isso. Todo dia cai o muro de contenção. E em diversas avenidas as obras de prédios e outras construções obstruem as pistas. Claro que sei, Senhor, que nos transformamos numa metrópole. Não me lembro do tempo dos bondes, pois ainda era novinho, muito menos das carroças puxadas a cavalo, das liteiras que conduziam os barões, nem de carruagens e sequer de escravos levando o senhorio na cacunda.


Lembro assim, assado, dos ônibus elétricos, dos lotações, dos ônibus mistos, dos Impalas, fuscas, Simcas e jipes circulando numa cidade sem trânsito, rush ou estresse, onde ninguém buzinava em porta de hospital, dava passagem aos antigos e pisava no freio na porta das escolas. Está bem Senhor, está certo! Hoje somos uma megalópole, com mais de três milhões de habitantes e todo mundo querendo seu carrinho para namorar, trabalhar, ir às compras ou shopear.


Mas, Senhor, sem querer ser mais chato, não dá para dar um adjutório. Dar inteligência para o pessoal que pensa o trânsito? Por favor, salve Salvador. Olhe bem, não é para mandar uma onda grande lá do mar para limpar a cidade.


Hoje é dia de festa. E esta cidade é do seu filho, O Salvador. Olha que mando um email para a mãe dele ou para nossa santinha Irmã Dulce me queixando, portanto não demore. Ah! E pulverize, empastele, carbonize os chupa-cabras, os pardais, os sensores eletrônicos traiçoeiros. Coisa do Cão (ops! Perdoe mais uma vez.

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