terça-feira, 29 de março de 2011

METAL PESADO CONTAMINA MULHERES DURANTE ESTUDO CONTRA CÂNCER (PARTE DOIS)...

Nunca passou pela cabeça da primeira paciente que o equipamento poderia ser defeituoso, a psicóloga afirmou, porque sabia que ele havia sido aprovado pela FDA. Ela também confiava nas garantias do médico e do hospital de que o estudo era seguro. "Eu tinha a ilusão, como a maioria das pessoas, de que a FDA não deixaria que isso fosse acontecer. Eu me sinto um rato de laboratório".

O fabricante, Xoft, comprado pela iCad em dezembro, pretendia que o escudo fosse usado com seu aparelho portátil de radiação, o Axxent Electronic Brachytherapy System. O presidente da iCad, Ken Ferry, disse que a empresa comprou a Xoft porque a ideia de fazer o tratamento radioativo durante a cirurgia parecia promissor. Um estudo publicado no ano passado mostrou bons resultados com uma máquina de radiação diferente que usava a mesma técnica.

Ferry contou ter acreditado que o procedimento poderia vir a ser usado para tratar metade das 270 mil mulheres por ano nos Estados Unidos que desenvolvem câncer de mama. "Achamos que o crescimento do procedimento será impressionante nos próximos três anos. Foi isso que nos levou a comprar a empresa".

Só que a iCad também adquiriu o problema com o tungstênio, que veio à tona somente uma ou duas semanas depois que o acordo foi fechado. "Azar, se quisermos usar essa palavra, foi o que a iCad sentiu quando aconteceu", disse Ferry. Contudo, "isso não diminui nosso entusiasmo".

A psicóloga, que está processando o Hoag Hospital e o fabricante, ficou sabendo que algo estava errado em dezembro, ao fazer mamografias de rotina seis meses depois da lumpectomia e da radiação. A imagem mostrava centenas de marquinhas espalhadas pelo peito e também no músculo da parte posterior da parece torácica. Os médicos não sabiam o que eram as marcas, mas o radiologista disse que algumas lembravam as calcificações que podem indicar câncer. "Fiquei apavorada. Parecia que estava nevando dentro do meu peito", declarou.

A biópsia apontou tungstênio. "Procurei meu oncologista. Ele ficou transtornado e disse: 'É preciso tirar isso. É tóxico. Você não pode deixá-lo no seu organismo'". O oncologista insistiu em fazer uma mastectomia e recomendou um cirurgião, mas este lhe disse que, para tirar o tungstênio, seria necessário remover a mama inteira e uma parte dos músculos peitorais.

"Eu ficaria com um afundamento no peito. Ele falou que não queria fazer nada antes de ter mais informações porque o resultado seria mutilador. Isso me deixou mal fisicamente. Quase me acostumei com a ideia de fazer uma mastectomia, mas não em ficar mutilada." A iCad se ofereceu para pagar os exames toxicológicos das mulheres afetadas, além de exames de sangue e urina para medir o tungstênio. A empresa também afirmou que iria avaliar o pagamento das mastectomias e encomendou um relatório para examinar os dados científicos sobre o tungstênio.


O relatório concluiu que a toxicidade parecia baixa, mas que não havia estudos de longo prazo. Steven Markowitz, médico do Queens College, Nova York, especializado em medicina ocupacional e ambiental, disse haver poucas informações sobre os efeitos do tungstênio puro, como o usado nos escudos. A maioria das pesquisas, segundo ele, tem a ver com exposição a compostos de tungstênio no trabalho. "Em função da forma heterodoxa de exposição, fica difícil falar muito sobre as prováveis consequências", explicou.

A primeira paciente no estudo do Hoag Hospital afirmou ter consultado uma toxicologista que afirmou que pouco se sabe sobre os efeitos do tungstênio a longo prazo na saúde, mas que ela, a toxicologista, provavelmente não o deixaria no corpo. A paciente se disse inclinada à cirurgia, mas acrescentou: "adoraria saber que existem provas de que não há nada com o que se preocupar".

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