sexta-feira, 25 de março de 2011

MÉDICO ALERTA PARA EXCESSO DE DIAGNÓSTICOS E EXAMES PREVENTIVOS (PARTE DOIS)...


MAS A DETECÇÃO PRECOCE NÃO É O FATOR QUE MAIS REDUZ A MORTALIDADE DE CÂNCER DE MAMA?
Na verdade, não. Os esforços mais relevantes no câncer de mama vêm de tratamentos melhores, como quimioterapia e hormônios. Os avanços no tratamento nos últimos 20 anos reduziram a mortalidade em 50%.
O problema é se adiantar aos sintomas. Não há dúvida de que uma mulher que percebe um caroço deva fazer uma mamografia. Isso não é teste preventivo, é exame diagnóstico. Claro que os médicos preferem ver uma mulher com um pequeno nódulo no seio do que esperar até que ela desenvolva uma grande massa. A questão não é entre atendimento cedo ou tarde, mas entre buscar atendimento logo que você fica doente e procurar doenças em quem não tem nada.

CRITÉRIOS USADOS EM EXAMES COMO DE PRESSÃO E DIABETES ESTÃO MAIS RÍGIDOS. ESTÃO DEIXANDO TODO MUNDO “DOENTE”?
Sim. Somos muito tirânicos sobre saúde. O que é saúde? Se formos medicalizar a definição de saúde, seria: "Não conseguimos achar nada errado". A pressão está abaixo de 12 por 8, o colesterol está abaixo de tal valor, fizemos uma tomografia e não há nada de errado. Se essa virar a definição de saúde, pouquíssimas pessoas serão saudáveis. É certo tachar a maioria como doente? Saúde é muito mais do que a ausência de anormalidades físicas.
POR QUE ESSA CONDUTA ESTÁ SE TORNANDO DOMINANTE?
Os médicos recebem mais para fazer mais, o que ajuda a alimentar o círculo vicioso da detecção precoce. É um bom jeito de recrutar mais pacientes, de vender mais remédios ou exames. Nos EUA, há os problemas de ordem legal. Os advogados processam os médicos por falta de diagnóstico, mas não há punições para sobrediagnóstico.
E tem quem creia realmente na detecção precoce. Nunca se diz que há perigo nisso. Pacientes diagnosticados com câncer de próstata e mama por detecção precoce têm muito mais risco de serem sobrediagnosticados do que ajudados pelo teste.
Quando você ouve histórias de sobreviventes de câncer, na maioria das vezes o paciente acha que sua vida foi salva porque ele fez um exame preventivo.
E ISSO NÃO É VERDADE?
Ele tem mais chance de ter sido tratado sem necessidade. Histórias de sobreviventes geram mais entusiasmo por testes e levam mais pessoas a procurar doenças, gerando sobrediagnóstico.
O QUE FAZER PARA EVITAR ISSO?
Um paciente nunca vai saber se recebeu um sobrediagnóstico. Nem o médico sabe. Não é preciso decidir para sempre se você vai ou não fazer exames. Mas todos os dias novos testes são criados. É preciso ter um ceticismo saudável sobre isso.
CÂNCER E DIAGNÓSTICO.
250
mil mulheres americanas são diagnosticadas com câncer de mama por ano; 40 mil morrem.
24% das mulheres têm ao menos um resultado falso-positivo em mamografias, mostra pesquisa feita por 10 anos.
186 mil homens são diagnosticados com câncer de próstata ao ano nos EUA; 29 mil morrem.
NENHUMA morte por câncer de próstata foi evitada após 10 anos de exames preventivos.
Fontes: "New England Journal of Medicine" e National Cancer Institute *.
RAIO-X
NOME E IDADE.
H. Gilbert Welch, 55 anos.
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO.
Especialista em clínica médica, pela Universidade de Washington, professor e pesquisador da área de detecção precoce de doenças na Universidade Dartmouth.
LIVROS.
"Should I Be Tested for Cancer?" (UC Press 2004) e "Overdiagnosed", com Lisa Schwartz e Steven Woloshin (Beacon, 2011), US$ 14,70, (R$ 24,55), na Amazon.

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