terça-feira, 31 de julho de 2012

ESTIGMA AINDA BARRA AVANÇO CONTRA A AIDS...



FONTE: RAFAEL GARCIA, EM WASHINGTON (www1.folha.uol.com.br).

As campanhas de distribuição de medicamentos antirretrovirais e de prevenção do HIV podem acabar com as novas infecções algum dia, mas pesquisadores alertam para o risco de que a epidemia permaneça num enclave: o dos soropositivos estigmatizados pela doença e dos grupos vulneráveis --usuários de droga injetável, gays e prostitutas.

"O impacto da discriminação é mais nocivo hoje do que no passado", disse à Folha Luiz Loures, diretor do escritório executivo da Unaids, programa da ONU (Organização da Nações Unidas) para combate ao HIV. "Antigamente, as drogas eram menos eficazes. Hoje há muitas ferramentas de prevenção, mas é preciso que tudo seja oferecido de forma equitativa."

Segundo a Unaids, 8 milhões de pessoas estão em tratamento antirretroviral nos países em desenvolvimento. A meta da ONU para 2015 é que o número chegue a 15 milhões. Para que a epidemia acabe, será preciso que 25 milhões de pessoas sejam tratadas em países pobres, o que pode ocorrer até 2025, diz Loures, desde que as barreiras de acesso a tratamento e prevenção sejam superadas.

Durante a Conferência Internacional da Aids, na semana passada, em Washington, estimativas como essa foram condicionadas à solução de três problemas: dinheiro, discriminação e estigma.

A Unaids estima que, em 2015, US$ 24 bilhões de dólares estarão investidos no combate ao HIV. Seriam necessários US$ 31,2 bilhões. E mesmo que essa carência seja suprida, problemas legais podem impedir programas de tratamento de chegar a todos.

Em pelo menos 80 países, sobretudo no Oriente Médio e na África, a homossexualidade é crime. Nesses mesmos lugares, a prostituição é punida, bem como na maior parte da Ásia. E no leste europeu e na Rússia, onde o maior motor da epidemia é o uso de drogas injetáveis, governos não distribuem agulhas.

Segundo Mariângela Simão, diretora da Unaids para questões de gênero, direitos e mobilização comunitária, essas condições impedem que profissionais de saúde avaliem os riscos da doença na população.

"Em inúmeros países, as profissionais do sexo relatam não poder carregar muitas camisinhas na bolsa porque é isso que os policiais usam para identificá-las como prostitutas e prendê-las."

Países na África recentemente participaram de testes sobre a eficácia de drogas antirretrovirais, e uma das barreiras foi o medo de se identificar como soropositivo.

"Muitos não tomam os remédios porque não querem que os outros saibam que eles têm HIV", diz Nelly Mugo, médica do Hospital Nacional Kenyatta, no Quênia.

O medo não é sem razão. Uma pesquisa da Unaids na Zâmbia mostrou que 38% dos portadores de HIV perderam o emprego em razão da infecção, 27% foram excluídos da família e 33% agredidos. "O estigma e a discriminação sabotam nossos esforços para tratamento e prevenção."

                          

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