FONTE: *** Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Formigas podem carregar bactérias causadoras de doenças. E o pior, levar esses micro-organismos para os hospitais. É o que mostra uma pesquisa feita na Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).
Conduzido pela veterinária Ana Paula Couceiro, o estudo foi feito em um hospital público no interior de São Paulo. As análises apontaram a ocorrência de micobactérias ambientais relacionadas a infecções oportunistas que podem ocorrer na pele, por exemplo, e não respondem à terapia convencional com antibióticos.
O hospital, pertencente à Secretaria Estadual de Saúde, é especializado na assistência a pacientes com tuberculose. Justamente em centros como esse, os internos estão fragilizados imunologicamente devido à doença, e, por isso, a infestação com esses patógenos implica em mais riscos. As formigas foram coletadas num tubo estéril em diversos pontos das instalações do hospital.
Segundo a pesquisadora, as micobactérias ambientais estão amplamente distribuídas, inclusive em hospitais. O monitoramento desses micro-organismos não é habitual. No entanto, com o aumento de surtos relacionados às mesmas em estabelecimentos de saúde, a preocupação com estes agentes aumentou.
Desde 2003, enquanto fazia seu projeto de mestrado, a veterinária verificou que formigas contribuíam para contaminação de testes de diagnósticos e disseminação de partículas. No levantamento para seu doutorado, notou que algumas características inerentes às formigas facilitavam a sua dispersão, como o fato de andarem até 200 metros a partir do seu ninho em um único dia. Por ter uma dieta generalista, a formiga é um inseto de fácil adaptação, convivendo bem em diversos ambientes.
Pesquisas anteriores, segundo ela, descrevem a formiga em ambiente hospitalar como transportadora de microrganismos, porém seu trabalho é o primeiro que investiga a disseminação de micobactérias desta maneira. Os insetos podem contaminar roupas, alimentos e água utilizados pelas pessoas internadas.
Perto dos pacientes.
As formigas coletadas para o estudo eram da espécie Tapinoma melanocephalum e dos gêneros Dorymyrmex sp, Camponotus sp, todas encontráveis em domicílios brasileiros. Os pontos nos quais a pesquisadora mas se atentou para suas amostragens foram os próximos aos pacientes, inclusive o solário, espécie de terraço no qual as pessoas em tratamento tomam sol.
Após a coleta, as formigas eram congeladas, e pelo menos 24 horas depois, eram maceradas com soro fisiológico e inoculadas em meio de cultura. Durante a incubação, a veterinária acompanhou o crescimento das colônias de microrganismos e, a partir disso, fez identificações específicas. Ainda, submeteu as amostras ao Centro de Referência Professor Hélio Fraga para sequenciamento do código genético das bactérias, de forma a caracterizar corretamente as colônias isoladas.
As micobactérias isoladas foram da espécie M. chelonae, M. parafortuitum e M. murale, além de micobactérias que não puderam ser identificadas talvez porque ainda não tenham sido descritas. A M. chelonae, encontrada nos vasos sanitários dos quartos dos pacientes, é considerada uma micobactéria ambiental patogênica e já descrita em surtos hospitalares no Brasil.
Na coleta das formigas, a veterinária percebeu que a estrutura dos locais favorecia a sua infestação, uma vez que havia a presença de aéreas verdes e também residências. Para ela, é importante alertar-se quanto aos riscos que estes artrópodes representam na disseminação de infecções hospitalares, e revisar a frequência e efetividade das desinsetizações.
*** Com Agência USP.
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