segunda-feira, 18 de março de 2013

ESTUDA REVELA QUE RADIOTERAPIA PODE ELEVAR RISCO DE DOENÇA CARDÍACA...


FONTE: *** Denise Grady, The New York Times (noticias.uol.com.br).


O tratamento de radiação para câncer de mama pode aumentar risco de doença cardíaca na mulher, disso os médicos sabem há muito tempo. Mas o tamanho do risco não era claro.

Agora, um novo estudo oferece uma forma de estimar o risco. Ele revela que para a maioria das mulheres o risco é modesto, e que ele é compensado pelo benefício do tratamento, que pode reduzir pela metade a taxa de reincidência e diminuir a probabilidade de morte por câncer de mama em cerca de um sexto.

De acordo com o estudo, uma mulher de 50 anos de idade sem fatores de risco cardiovasculares tem uma chance de 1,9% de morrer de doença cardíaca antes de completar 80 anos. O tratamento de radiação para o câncer da mama aumentaria este risco em 2,4% a 3,4%, dependendo da quantidade de radiação que atinge o coração.

"Seria uma verdadeira tragédia se isso fizesse as mulheres desistirem de fazer radioterapia para combater o câncer de mama", disse Sarah Darby, professora de estatísticas médicas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e principal autora do estudo publicado na quarta-feira pelo The New England Journal of Medicine.

Retirada do seio.

A médica Silvia Formenti, presidente de oncologia radiológica no Centro Médico Langone da Universidade de Nova York, disse que temia que as mulheres com câncer interpretassem mal os resultados e acreditassem que a radiação é perigosa e que elas deveriam ter seus seios retirados em vez de retirar os nódulos, a fim de evitar a radiação.

"Há uma onda em prol da mastectomia neste país", disse Formenti.

Ao mesmo tempo, no entanto, ela e outros especialistas dizem que o risco cardiovascular é real e que, quando a radiação é aplicada, devem ser feitos todos os esforços para minimizar a exposição do coração. Além disso, mulheres que passaram pelo tratamento de radiação precisam ser especialmente vigilantes e controlar outros fatores que aumentam as chances de doenças cardíacas, como pressão alta e colesterol.

A médica Lori Mosca, diretora de cardiologia preventiva do NewYork-Presbyterian Hospital/Columbia University Medical Center, que não esteve envolvida no estudo, disse que os resultados significam que um histórico de irradiação nos seios deve ser acrescentado à lista de fatores de risco para doenças cardíacas e levados em consideração por todos os médicos que tratam essas pacientes.

"É absolutamente necessário estarmos cientes de que radiações prévias nos seios podem ser um novo e importante fator de risco para as mulheres", disse Mosca.

Mas ela e outros especialistas também alertaram que os resultados precisam ser verificados porque o estudo não foi um experimento controlado, mas baseado numa análise de registros e estimativas de exposição do coração à radiação.

Javid Moslehi, codiretor do programa de cardio-oncologia do Instituto do Câncer Dana-Farber em Boston e autor de um editorial que acompanha o estudo, disse que a pesquisa foi a primeira a fornecer estimativas de risco correlacionadas com doses no tratamento do câncer de mama, durante um longo período de tempo.

"Este é um artigo importantíssimo, não só porque afeta inúmeras mulheres, mas também porque abre a porta para novos estudos que precisam ser feitos", disse Moslehi.

Vida mais longa.

Ele disse que o estudo reflete o fato de que muitas pessoas com câncer estão agora vivendo tempo suficiente para se deparar com os efeitos de longo prazo da radiação e quimioterapia. Eles têm dado origem a um novo campo de rápido crescimento na medicina, a cardio-oncologia.

Cerca de 3 milhões de mulheres nos Estados Unidos foram tratadas para câncer de mama, e a maioria recebeu radiação. Embora os médicos tentem poupar o coração, ele ainda assim recebe parte da dose, especialmente quando a mama esquerda é tratada. A radiação pode danificar o revestimento dos vasos sanguíneos e machucar o músculo cardíaco.

O estudo de Darby é baseado nos registros de 2.168 mulheres que receberam radiação para câncer de mama de 1958 a 2001 na Suécia e na Dinamarca; 963 delas tiveram "grandes episódios cardíacos" algum tempo depois de seu tratamento de câncer, ou seja, um ataque cardíaco ou obstrução das artérias coronárias que precisaram de tratamento ou causaram a morte.

A partir dos registros de tratamento, os pesquisadores estimaram a dose de radiação para o coração das mulheres. Eles descobriram que o risco começa a aumentar alguns anos após a exposição e que continua por pelo menos 20 anos. Quanto maior a dose, maior o risco, e houve algum aumento no risco até mesmo com o nível mais baixo de exposição.

"Foi certamente uma surpresa para nós o fato de o risco ter começado dentro dos primeiros anos após a exposição, uma vez que tradicionalmente se acreditava que as doenças cardíacas relacionadas à radiação ocorriam normalmente várias décadas após a exposição", disse Darby.

Fatores de risco.

A radiação é medida em unidades chamadas Grays, e os pesquisadores descobriram que, para cada Gray a que o coração era exposto, as chances de ataque cardíaco ou outros eventos coronarianos subia 7,4%. A dose média para o coração durante o curso de um tratamento de radiação completo era de 5 Gray, disseram. Para uma mulher, o efeito líquido dependerá seu risco inicial de doenças cardíacas e da dose total de radiação em seu coração.

As mulheres que já tinham fatores de risco, especialmente aquelas que tiveram ataques cardíacos no passado, teriam apresentado o maior risco absoluto a partir da radiação.

Alguns radioterapeutas dizem que hoje em dia a dose para o coração é menor do que 5 Gray. O médico Louis S. Constine, vice-presidente de oncologia radiológica no Centro Médico da Universidade de Rochester, disse que 2 Gray de radiação são mais comuns e que os médicos podem agora colocar escudos na frente do coração e "desviar a radiação em torno da parede torácica em vez de disparar através do coração e dos pulmões."

Formenti disse que, para a maioria dos pacientes, a melhor maneira de proteger o coração é tratá-las deitadas de bruços em vez de deitadas de costas. As mulheres deitam sobre uma mesa ou um colchão com aberturas que permitem que os seios fiquem pendurados, mais distantes do tórax.

A anatomia difere, mas na maioria das mulheres esta posição de bruços ajuda a manter os feixes de radiação o mais longe possível do coração e dos pulmões. O coração ainda recebe alguma radiação, mas significativamente menor do que quando as mulheres se deitam de costas, em especial quando o seio esquerdo é tratado.

"Se você pode mantê-lo abaixo de um Gray, que é o que estamos fazendo, provavelmente você está bem com a maioria dos pacientes", disse Formenti.

Durante os últimos 15 anos, ela disse que tratou milhares de pacientes desta maneira. Ela e seus colegas também ensinam a técnica a outros médicos. Ela disse, no entanto, que ele está levando muito tempo para se popularizar.

*** Tradutor: Eloise De Vylder.

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