segunda-feira, 29 de setembro de 2014

MULHERES E OGRICES: COMO LIDAR COM CONFLITOS DE GÊNERO NA VIDA A DOIS...

FONTE: *** Luiz Alberto Hanns - Colunista do Delas, TRIBUNA DA BAHIA.

              
Cerca de 70% dos conflitos de casal se referem a conflitos de gênero. Eles têm a ver com nossos defeitos de gênero, que em meu livro A Equação do Casamento denominei ogrices e mulherices, ou seja, defeitos típicos de homens e de mulheres.
Embora em certos casos as coisas possam ocorrer de modo invertido, com mulheres praticando algumas ogrices, e homens fazendo mulherices, a maioria dos casais (cerca de 80%) tem reclamações clássicas.
Ela se queixa de que ele:
-- Não se comunica
-- Foge dos problemas
-- Não a elogia (a não ser sexualmente)
-- É insensível
-- É esquecido
-- Não se dedica à relação
-- Só brinca com os filhos (e deixa o trabalho duro de educar para ela)
-- Acha tudo fácil (porque não é ele que tem de cuidar dos detalhes do dia a dia)
-- Não cuida do asseio
-- Não lava as mãos
-- Não limpa os pés (antes de entrar no quarto do nenê)
-- Devia se vestir melhor
Ele se queixa de que ela:
-- É encrenqueira, reclamona e carente
--Dá bronca nele porque ele disse o que não devia (ou porque não falou o que devia falar)
-- Se estressa à toa
-- Está sempre insatisfeita
-- É dramática demais
-- Gosta de discutir e briga
-- É sexualmente chata, não se solta na cama (e nunca quer quando ele quer)
-- Não pode vê-lo relaxar um momento e logo precisa incumbi-lo com tarefas domésticas (e reclama se ele não atende logo)
No artigo de hoje falaremos de quatro importantes mulherices. No próximo, de outras mulherices e depois, é claro, das ogrices que talvez o seu parceiro tenha. E também discutiremos como vocês podem lidar com os defeitos de gênero do cônjuge e corrigir os seus próprios. Então mãos à obra.
O primeiro passo é você perceber se você tem algum desses defeitos femininos listados abaixo. Eles são em grande parte aprendidos e podem ser mudados. E vale a pena fazê-lo.

1. Vitimização.
Muitas mulheres tendem a valorizar o sofrimento. O discurso dramático segue um script milenar de uma subcultura feminina, traçando uma narrativa épica de sofrimentos femininos nos corpos e almas.
Corpos que sofrem cólicas menstruais, dores da gravidez, consequências de constantes alterações hormonais, enxaquecas, mutilações e privações devido à pressão social ou para manterem-se belas ou recatadas.
Almas aviltadas durante milênios por um patriarcado cruel, submetidas a sobrecargas, injustiças, maus-tratos, insensibilidades masculinas.
O estilo de tantas mulheres de se enxergar como vítimas, e de interpretar e relatar as coisas dessa maneira, se impregna nas famílias, na mídia e na cultura em geral.
Entretanto, a realidade mudou, e parte desse discurso perdeu o sentido. Daí, quando muitas mulheres ainda hoje, mesmo diante de episódios banais, dramatizam desmesuradamente o ocorrido e empregam palavras que as colocam como vítimas, os maridos se assustam ou se indignam.
Juliana não diz “Ontem tive uma dor de cabeça e tomei um remédio”, mas “Ontem passei muito mal e tive de aguentar tudo sozinha!”.
Helena não diz “Fiquei chateada com meu marido porque ele foi ríspido e impaciente comigo”, mas “Fui tãããão maltratada”.
Marcela não diz: “O casamento me trouxe algumas frustrações”, mas “O que sofri nas mãos desse homem e o que tive de aguentar, só eu sei”.
Pode servir de desabafo ou de chantagem emocional, mas em essência é um tiro no pé da mulher. Ela acaba por acreditar no próprio discurso e se posiciona como uma vítima sofrida, magoada, em vez de dar a correta proporção às coisas, assumir sua parte nos problemas e construir soluções.
Aos maridos, esse estilo causa estranheza e desconforto. Estas mulheres deixam nas entrelinhas uma acusação eterna que os responsabiliza até pela dor de cabeça delas e, ao mesmo tempo, pedem a ajuda dele em algo que ele não entende o que é.

2. Fôlego para encrencas e brigas intensas.
André está mais uma vez escutando uma cascata de queixas e acusações de Juliana, entremeadas de choro e frases bombásticas. Assombrado, ele se volta para si e imagina quanto tempo ela ainda ficará falando.
Ele está zonzo com tanta falação, resolve então contar mentalmente até 240, e promete a si mesmo não reagir, tem medo daquilo se prolongar ainda mais. Faz cara de paisagem, não responde aos apelos desesperados dela por uma resposta. O que pode lhe dizer?
Qualquer coisa que diga só vai prolongar ainda mais essa tortura. À Juliana, essas reações masculinas reforçam a ideia “de que não sou escutada, amada”, de que “ele é covarde e não enfrenta os problemas”, “não me escuta”, percepções que só fazem aumentar seu desespero feminino, o que, por sua vez, aumenta o masculino.
Quando argumentam com maridos, filhos e parentes, muitas mulheres rapidamente se inflamam e iniciam longos discursos acusatórios. E embutem muitas queixas simultâneas que são repetidas à exaustão, com raiva e desespero.
Isso supera a capacidade de processamento cerebral do parceiro; ele reage segundo três padrões: torna-se verbalmente violento e dá um basta autoritário (alguns homens tornam-se fisicamente violentos), encerra a conversa retirando-se do local ou então, como André acima, se fecha, não responde e parece não mais tomar conhecimento da presença e do longuíssimo discurso da esposa.
Na intimidade dos consultórios, muitos desses maridos (que a elas parecem insensíveis) às vezes choram copiosamente e se sentem massacrados e desamparados. Alguns buscam um caso extraconjugal com uma amante meiga e complacente.
3. Incessante campanha de cutucões e provocações verbais.
É comum que muitas mulheres ressentidas com determinado tema iniciem uma campanha de guerrilha para desgastar as "tropas inimigas" (o marido). Por exemplo, Helena está frustrada porque Paulo é pão-duro. Em diversos momentos, quando ele menos espera, ela diz frases em tom cortante ou irônico a propósito de assuntos aparentemente afastados do problema.
Paulo comentou uma notícia de jornal sobre um magnata que se suicidou e ela logo disse: “Pois é, tem gente que não consegue ser generosa”. Ele finge que não ouve a provocação e comenta que o magnata não estava feliz, ao que ela responde: “É incrível como pode ser difícil para certas pessoas aproveitar a vida”, sempre num tom que alude indiretamente ao marido e aponta sua suposta falha.
Esse estilo de confronto indireto e incessantes cutucões se contrapõe aos dois modos de muitos maridos lidarem com conflitos interpessoais: ser direto ou empurrar os problemas com a barriga e deixar para lá. Exercido à exaustão, esse estilo feminino de “indiretas” contamina todo o clima até que o marido tenha uma explosão de fúria ou se feche e finja ignorar as provocações.
4. Nunca enterrar “defuntos”.
Durante um jantar no restaurante, Marcela se lembra — ao ver na mesa vizinha, um namorado presentear a moça com um anel — que Rogério nunca lhe deu nenhuma joia. E logo se lembra também de que mesmo no noivado, há dez anos, ela teve de se presentear com um anel para não passar vergonha perante os outros.
Começa então a fazer comentários ácidos, um mal-estar se instala. Rogério tenta se justificar. A cada tentativa dele se explicar ela só fica mais furiosa. Ao final ele desiste de tentar salvar o jantar e grita com ela. Está indignado que ela tenha “mais uma vez voltado ao antigo e eterno tema do anel de noivado”.
Marcela se sente novamente tão incompreendida como há dez anos e entra numa espiral de outras memórias de ressentimentos que começam então a ser vomitadas, mesmo estando fora do contexto atual. E ela desfia um longo rosário de mágoas (de como ele a tratou na lua-de-mel, de como ele nunca se esforçou para acompanhá-la nos eventos da família dela, etc.). E o jantar se transformou numa catástrofe.
Indignações e mágoas antigas que não são enterradas podem se manifestar a qualquer momento, como um súbito despertar de um exército latente de zumbis, mortos-vivos, que muitas mulheres puxam pela coleira e as acompanham por todo o matrimônio.
Na cultura feminina, isso é tido como natural, e acaba resultando em uma coleção de mágoas antigas que podem se manifestar a qualquer momento. Essas memórias voltam então com o mesmo frescor e intensidade que tinham vinte, dezoito, dez, dois anos antes.
A Rogério, atônito com “o que aconteceu com o nosso jantar que era para ser romântico e seria seguido de uma boa noite de sexo?”, tudo parece uma loucura de mulher — ele pensa que talvez seja TPM.
Se você tiver algumas dessas quatro mulherices fique atenta, procure mudar de padrão. Elas são tóxicas para a relação e podem ser mudadas. No meu livro A Equação do Casamento o que você pode ou não mudar na sua relação, você encontrará exercícios que pode fazer para mudar esse padrão. No próximo artigo mais mulherices e depois ogrices.


*** Luiz Alberto Hanns é terapeuta com mais de 20 anos de prática clínica e autor de “A Equação do Casamento -- O que pode (ou não) ser mudado na sua relação” (Paralela). Na coluna “Vida a Dois”, ele fala sobre os desafios da vida em casal.

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