FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
O cenário é clássico: alguém espirra, a pessoa ao lado já pensa que
contraiu todos os germes que foram para o ar e começa a tomar remédios por
conta própria para tentar evitar que a morte, então certa, se concretize. Aquele
que está gripado também pode pensar que o espirro fragilizou algum vaso no seu
cérebro e que sofrerá um AVC hemorrágico em breve. E o pior, se o espirro for
acompanhado de tosse, o autodiagnóstico de tuberculose é claro como o dia. No
entanto, a resposta dos médicos para atitudes assim é uma só: hipocondria.
Cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com
o temor de que estão com doenças sérias e desconfiam do diagnóstico do médico
que pediu exames e comprovou que não era nada sério. A doença, chamada de
transtorno hipocondríaco, cresceu com a internet, já que cada hipocondríaco têm
muitas vezes mais acesso a informações sobre doenças, o que o leva a acreditar
que é portador de todas elas. É como uma dor imaginária: ela não está presente,
mas como a pessoa está altamente sugestionável, acaba apresentando até mesmo os
sintomas.
Relacionado com o transtorno de ansiedade e
até mesmo com o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), a hipocondria gera uma
ansiedade desordenada no organismo, causando angústia em quem sofre com a
doença. A psiquiatra Giulia Miranda Rosa Santoro, da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP), explica que a doença não tem grau, mas sim associações com
outras patologias.
“É preciso ver se junto disso a pessoa é
ansiosa, se está passando por problemas familiares, sociais ou econômicos, se
está desenvolvendo algum outro tipo de doença”, explica a especialista. Além
disso, uma personalidade emocionalmente dependente, como a médica define como
ser “mais teatral”, pode ser uma das explicações para a hipocondria. “Às vezes
ela está deprimida e sente uma série de coisas, que na verdade fazem parte do
quadro de depressão”.
A boa notícia é que a doença tem tratamento.
Giulia explica que a base é a psicoterapia. “Tem de fazer a terapia, mas é
preciso também avaliar se a pessoa não tem outros problemas. Se for depressão
ou ansiedade com sintomas obsessivos compulsivos, é preciso entrar com
medicação”, explica a médica.
A médica ainda relembra que a depressão não
envolve somente tristeza, mas sim outros sintomas corporais, como cansaço,
pensamentos negativos, além de outros sinais.
Apoio de medicamentos.
O psiquiatra Luís Gustavo Buzian Brasil, da
Clínica Maia, explica que os remédios ajudam a controlar a ansiedade, deixam a
pessoa mais calma e tranquila e com capacidade de absorver informações. Buzian
ressalta que a terapia vai dar o mecanismo para a pessoa lidar com essa
ansiedade depois, e que é de extrema importância seguir as recomendações. “O
tempo de tratamento depende do comprometimento do paciente”, explica.
Para aqueles pacientes que não são
comprometidos ou que não buscaram ajuda ainda, a preocupação médica é a prática
da automedicação. De praxe, ninguém deveria tomar remédios sem recomendação
médica. Sabe-se que muitos escorregam nesse preceito quando estão resfriados,
com dor de cabeça ou alguma outro problema mais simples. Se para essas pessoas
que esporadicamente desobedecem o médico a automedicação faz mal, imagine para
quem visita a farmácia com a
mesma frequência da padaria, pedindo remédios para males que ele mesmo se
diagnosticou.
“Isso pode causar outro tipo de problema, como
uma intoxicação e problemas gástricos”, alerta Buzian. “Muitos se automedicam
por não confiar no médico, sempre estão buscando novas opiniões, afirmando
‘tenho alguma coisa!’”, diz.
“Mesmo os médicos falando que ela não tem
doença, a pessoa acredita que tem, e procura outro médico, porque tem certeza
de que tem alguma doença”, comenta a médica da ABP.
Não se sabe exatamente como
a doença surge.
O motivo de a doença surgir, no entanto, ainda
é nebuloso para a medicina. Como a maioria das outras doenças psiquiátricas,
ela tem fundo genético, que em parte colabora com a doença, mas o próprio
ambiente em que a pessoa se encontra acaba por agravar o quadro.
“Se a pessoa vive cercada de indivíduos com
saúde comprometida ou se está em um quadro depressivo, pode absorver as
informações erradas com característica negativa”, alerta o médico. Como em um
espelho, ela vai enxergar em si mesma sintomas e características que não tem.
“Se é uma dor de cabeça, vai pensar logo na consequência mais drástica, como um
tumor cerebral”, diz o psiquiatra da Clínica Maia.
“Ninguém nasce 100% hipocondríaco. Tudo
depende da história da pessoa, da genética, hereditariedade e história de vida
dela”, explica Giulia.
Há mais hipocondríacos na vida adulta e entre
as mulheres, mas os homens não escapam da doença.
O primeiro passo para quem tem medo de que
algo terrível aconteça com relação à saúde, portanto, é procurar o psiquiatra
para o tratamento. Depois isso, os anos provavelmente transcorrerão com mais
leveza.
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