FONTE: Jolivaldo Freitas, TRIBUNA DA BAHIA.
É dito e certo que o presente de Iemanjá tem que ser fresquinho. A dona do fundo do mar gosta – e toda a Bahia sabe e até os alienígenas que vêm lá do Sudoeste e Sul sabem e participam quando aqui estão para depois irem falar mal em seus rincões, como sendo coisa de preto, pobre, baiano e nordestino – de jóias, perfumes e flores.
Jóias de verdade. Não apareça com esse negócio de Michelin ou peças “fabricadas” na Rua Carlos Gomes e muito menos daquelas que são vendidas nos gabinetes e balcões das secretarias do Centro Administrativo e do município, onde as funcionárias compram tudo que se parece com original, passando pelos brincos da HStern até as bolsas Louis Vuitton e os sapatos Prada. Ou é Mad in China (eia-se Chaina) ou vem mesmo do Feiraguai, ô lá dos interiô de Sergipe (leia-se Serjaipe).
Flores, então, não adianta roubar uma duas lá da Praça da Piedade e levar para o Rio Vermelho, pois Iemanjá tudo vê e tudo sabe e o que ela vai fazer posteriormente com este tipo de oferenda não é bom sua hemorróida saber.
E vai com espinho e tudo, no caso de ser uma rosa qualquer. Ela gosta mesmo é de flor colorida e adquirida com muito amor; e também vê se não leva cravo-de-defunto que aí nem no balaio entra por causa do cheiro de cemitério que o buquê exala.
No caso de perfume, aí sim, o castigo vem na mesma hora. Quem quiser que passe nos shoppings aí da vida em busca de comprar em liquidação ou dê uma passada no chinês da Avenida Sete; e ai de quem comprar Calandre, Corale Nigro, Channel Número 5 ou outro qualquer que de original só tem o nome e a origem nem é mais duvidosa.
Se for de barco o navegador vai levar uns bons caldos. Se for colocar entre a areia e a quebrada da onda é capaz de pisar num Niquim e ter febre alta por uma semana.
Alguns anos passados - não lembro bem a data -, os próprios pescadores tentaram engabelar Iemenjá. Fizeram um balaio chinfrin, com flores de qualquer tipo, fita de segunda categoria, arrumaram uma tiara destas de madrinha da bateria ou miss Baixa Grande ou Rainha do Milho ou de travesti fantasiada de Lady Di, arrumaram uns perfumes espanta nigrinha e até os espelhos eram tão ruins que atrás tinham o escudo do Bahia. Coisa que só devia ser para sacanear mesmo.
Todo mundo sabe – até mesmo os mutantes que vêm lá do Sudeste e do Sul só para curtir o folclore e depois ficar esculhambando lá em suas paragens – que se Iemanjá naquele ano não aceita o presente e o balaio fica boiando na correnteza, coisa boa não vai acontecer.
E, naquele ano, os pescadores não pescaram nada. Peixe somente no supermercado, vindo da Noruega ou Portugal ou do Dique do Tororó, passando pelo Rio das Tripas.
A ressaca foi tão danada que os barcos viraram lenha para fogão a lenha (claro, né?, mas é bom de repetir só para irritar o leitor letrado). E o pior: todos os pescadores do litoral baiano foram punidos: ou levaram corno ou ganharam impinges difíceis de curar.
Eu estou indo levar para Iemanjá (Odoiá!) um vestido de organza que mandei Thibaud Etcheberry , estilista de Lady Gaga fazer. Vai ficar chiquérrimo. Fashion.
Vou salvar os pescadores.
Este ano não vai ter fome nem maré alta.
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