FONTE: Thiago Pereira, TRIBUNA DA BAHIA.
A luta contra o glaucoma, doença causada pela alta pressão ocular e que pode levar à cegueira, está mais difícil para a aposentada Maria Alice Madalena Silva, de 74 anos. Há exatamente um mês, ela tenta obter gratuitamente o colírio Travatan pela rede pública de saúde.
O medicamento, no entanto, está em falta na farmácia do Hospital São Jorge/Pam de Roma, único local da capital baiana em que é distribuído sem custos. Desde outubro do ano passado, centenas de pacientes como Maria Alice estão sob risco de perder a visão.
“Não consegui o remédio, por isso não estou usando. É muito caro. Sou aposentada e vivo com um salário mínimo. Não posso gastar R$80 em um frasco de colírio. Sei que estou prejudicando minha saúde. Mas o que posso fazer? Vou me apegar a Deus e aguardar que o medicamento chegue. Espero que não demore muito”, disse Maria Alice ao sair do Pam de Roma de mãos vazias.
Nem mesmo nas farmácias localizadas nas imediações do hospital é possível encontrar o Travatan. Segundo a farmacêutica Flávia Freitas, de 32 anos, apesar de caro, o medicamento possui grande demanda, e por isso se esgota rapidamente das prateleiras.
“Temos quatro farmácias da rede na região. Posso te garantir que nenhuma delas possui o colírio. No entanto, não é problema de desabastecimento, é que ele é bastante procurado”.
Assim como o Travatan, também estão em falta no Pam de Roma os colírios Cosopt e Lumigan.
O desabastecimento dos medicamentos na rede pública fez com que muitos adotassem um jeito próprio para utilizá-los.
Assim é o caso do aposentado Romeu Pacheco, de 76 anos, que economiza na posologia do colírio.
“Uso dois colírios, mas não os consigo na farmácia do Pam de Roma desde outubro. Por isso acabo gastando R$100, R$150 para comprá-los. Eles duravam menos de um mês, mas agora faço de tudo para que não acabem em menos de 45 dias.
É que não posso gastar esse dinheiro toda hora. Mas é saúde e por isso a gente sempre corta de um lado ou de outro pra conseguir comprar o remédio”, afirmou.
Segundo o aposentado, a falta do medicamento está diretamente ligada às eleições realizadas no ano passado. “Os funcionários do hospital dizem que, com a mudança de governo, o orçamento não foi liberado e por isso ficamos sem o remédio. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.
A revolta com a falta dos medicamentos também foi compartilhada por Elis Regina Ribeiro, de 35 anos, que há três meses tenta retirar o colírio utilizado no tratamento do pai.
“É um absurdo isso. Vou repetir, é um absurdo. Essa é a terceira vez que tento pegar o Cosopt, mas não consigo. Está em falta desde outubro. Sempre é assim. O colírio fica um tempo sem ser distribuído, logo depois volta. O problema é que nunca ficou tanto tempo. Precisamos do remédio”.
Em novembro do ano passado, esta Tribuna denunciou a falta de medicamentos para o tratamento do glaucoma no Pam de Roma. Na ocasião, a farmacêutica da unidade hospitalar, Tacila Pires, confirmou o desabastecimento, mas disse que os colírios estariam de volta às prateleiras ainda no início de dezembro. A promessa, entretanto, não foi cumprida.
A Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) foi procurada para prestar esclarecimentos sobre a falta dos remédios, mas a assessoria de imprensa do órgão não se pronunciou até o fechamento desta edição.
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