quarta-feira, 23 de março de 2011

LEI SECA NAUFRAGOU: MORTES AUMENTARAM...

Mesmo depois da Lei Seca (Lei 11.705/08), que entrou em vigor em 20 de junho de 2008, o Brasil, no âmbito nacional, não apresentou redução no número de mortes.
Entre o período de 2007 a 2008 identificou-se um aumento de 2,3% de fatalidades no trânsito. Só no ano de 2008 foram 38.273 mortes. Maior número absoluto de toda nossa história.
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Apenas oito, dos 27 Estados da nação, obtiveram diminuição no número de fatalidades no trânsito, após a vigência da citada lei (entre 2007 e 2008). São eles: Roraima, -16%, Alagoas, -10%, Bahia, -10,5%, Amapá, -9%, Santa Catarina, -3,9%, Rio de Janeiro -3,7%, Rio Grande do Norte, -1,9% e Distrito Federal, -1,6% (Fonte: DATASUS).
Em contrapartida, os Estados que apresentaram as maiores taxas de crescimento no número de mortes, no mesmo período, foram: Rondônia, + 27,6%, Mato Grosso, + 15,5%, Paraíba, 13,8%, Maranhão, 13,4%, Acre + 13%. O Estado de São Paulo não apresentou uma taxa expressiva de crescimento, mas também não contou com diminuição, tal como se anunciava: teve aumento de 1,4% de fatalidades no trânsito.
Contra essa mortandade trágica estamos lançando uma Campanha Educativa contra a Violência no Trânsito. Em breve realizaremos uma análise minuciosa do impacto da Lei Seca em cada Estado da federação.
Vê-se que esta lei, que aparentemente teria produzido efeitos positivos, depois de consolidados os números de 2008, foi um desastre em termos nacionais. Ela conta com vários problemas técnico-legislativos, foi mal elaborada e, ademais, poucos foram os Estados que promoveram sua efetiva fiscalização. A violência no trânsito agrava-se a cada dia.
Toda lei só se torna efetiva quando bem fiscalizada e devidamente cumprida. O controle realizado mediante bafômetros, por exemplo, continua muito precário em termos nacionais. Ademais, até hoje se discute no STF se esse meio probatório é ou não constitucional, em razão da equivocada redação da lei.
De qualquer modo, é certo que não podemos nos contentar apenas com o item “fiscalização”, se o trânsito matou em apenas um ano 38.273 pessoas. É preciso adotar a fórmula vitoriosa que a Europa já incorporou há anos e que vem colhendo resultados prósperos com a redução de 36% de mortes na última década: EEFPP (Educação, Engenharia, Fiscalização, Primeiros Socorros e Punição).
Com uma taxa de crescimento de mortes ao ano de 2,9%, alculada com base nos dados de 2000 – 2008, podemos estimar que em 2010 o número de mortes no nosso trânsito alcance mais de 40 mil vítimas fatais. Já passamos a Europa, que era a quarta colocada, e agora vamos, seguramente, passar também os EUA —conquistando em breve a terceira posição mundial.
Necessitamos de um urgente pacto nacional para implantar, no nosso país, um Plano Sério de Segurança Viária. A gravidade da situação não permite esperar um dia mais sequer.
*** Luiz Flávio Gomes é mestre em direito penal pela USP e doutor em direito penal pela Universidade Complutense de Madrid. Foi promotor de Justiça em São Paulo de 1980 a 1983 e juiz de direito em São Paulo de 1983 a 1998. É professor honorário da Faculdade de Direito da Universidad Católica de Santa Maria (Arequipa, Peru) e professor de vários cursos de pós-graduação, dentre eles o da Facultad de Derecho de la Universidad Austral (Buenos Aires, Argentina) e o da Unisul (SC). É consultor do Iceps (International Center of Economic Penal Studies), em New York, e membro da Association Internationale de Droit Penal (Pau-França). É diretor-presidente da Rede LFG (Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes), que promove cursos telepresenciais com transmissão ao vivo e em tempo real para todo país. É autor de vários livros (clique aqui para ver a lista completa), entre eles: Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica, Penas e Medidas Alternativas à Prisão e Presunção de Violência nos Crimes Sexuais.

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