segunda-feira, 2 de maio de 2011

JOÃO PAULO II...

Com a presença de um milhão de peregrinos, segundo cálculo da polícia de Roma, a Igreja Católica Apostólica Romana declarou ontem beato (abençoado) o papa João Paulo II, que ocupou a cátedra de Pedro desde 16 de outubro de 1978, até sua morte, em 2 de abril de 2005.


Karol Józef Wojtyla, seu nome de batismo, nasceu na Polônia, um dos países mais católicos da Europa, e era cardeal-arcebispo de Cracóvia, a segunda mais importante cidade de seu país, a Polônia, quando, para surpresa geral, foi eleito pelos demais cardeais e anunciado ao mundo como o novo papa, sucessor de João Paulo I.

Sua saga já começara quando, ainda cardeal-arcebispo de Cracóvia, enfrentou o totalitarismo comunista que, sob o manto do poderio da então União Soviética, dominava seu país. Resistia como podia.

Mais tarde, já na posição de papa e quando uma revolução pacífica começava, pela própria Polônia, com a luta do Sindicato Solidariedade, a varrer o império soviético do mapa, João Paulo II forçou uma viagem indesejada pelo comando do império soviético à Polônia e fez acompanhar esta atitude por uma exortação que deve ter calado fundo no coração dos que ansiavam pela liberdade: “Não tenham medo”. Vinte séculos antes, Jesus já dissera isso a seus discípulos.

Durante o seu longo pontificado de 27 anos – o terceiro mais longo da história da Igreja, isto se considerado o tempo em que São Pedro esteve na liderança, mas então ainda não havia um papa –, ele sofreu um atentado à bala na Praça de São Pedro. Esse atentado, que quase o matou, teve uma influência muito grande sobre ele, sua imagem, sua atitude e seu pontificado daí em diante.

Mas importa mesmo é dizer, em ambiente laico, que, além das qualidades pessoais – especialmente do espírito de sacrifício, da coragem e da fé profunda que eram facilmente perceptíveis nele –, o papa João Paulo II mudou o mundo do século XX, mudança para a qual, numa de suas três vertentes, teve importantes co-autores.

Coautores teve na gigantesca tarefa de pôr fim, sem violência, ao domínio do totalitarismo comunista, que, baseado na União Soviética, dominava a Europa Oriental e mais alguns países fora dessa área e militava incessantemente para expandir-se. Foram, esses co-autores (claro que cito apenas os mais importantes) Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, surgindo depois, para complementar o serviço, Boris Yeltsin. E note-se o espírito do pastor: quando o império comunista soviético foi vencido, o papa João Paulo II imediatamente apontou e começou a disparar suas baterias contra o capitalismo selvagem.

A outra grande mudança foi feita por João Paulo II dentro da própria Igreja que governava. Enquanto contribuía poderosamente para desmontar o totalitarismo marxista (restos ainda existem, creio que em decomposição, em alguns países, inclusive na hoje poderosa China) no mundo, ele foi progressivamente tornando a Igreja Católica um ambiente inóspito para a Teologia da Libertação, que, apesar do nome, inspirava-se no marxismo, uma doutrina totalitária e antiespiritualista em sua mais profunda essência. João Paulo II foi vitorioso também nesta luta contra uma “teologia” que poderia desnaturar a mensagem cristã, e pior, fazer isto a pretexto de praticar essa mensagem.

Bem, a terceira mudança não está consumada. João Paulo II conseguiu dar apenas a partida para que se percorra um caminho difícil e longo. Trata-se da aproximação das diversas igrejas cristãs e, mais do que isto, de uma aproximação – aí sem pretensões a fusão ou identidade – entre o cristianismo, a igreja israelita (neste particular coisas boas e importantes ocorreram) e outras crenças, a exemplo da muçulmana e do budismo.

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