terça-feira, 24 de julho de 2012

DIABETES E A INOVAÇÃO...


FONTE: Fernando M. Machado-Presidente da FOCOTOTAL Ltda, TRIBUNA DA BAHIA.

Recentemente foi lançado na FIEB o Programa MEI - Mobilização Empresarial para a Inovação- da CNI, com o objetivo de dobrar o reduzido número de empresas inovadoras no Brasil. Louvável iniciativa, já apoiada com significativos recursos da FINEP, MCT e BNDES.

O grande desafio explícito do MEI é como convencer os empresários a se envolverem em inovações e assim alavancar as inovações no pais com investimentos privados, que se somem aos já volumosos recursos públicos.

Certamente a percepção do risco dos respectivos investimentos é fator fundamental para que isso ocorra. Inovar na direção equivocada ou de modo ineficaz é arriscar a falência e a perda de recursos públicos. Como adequar a maioria dos atuais incentivos públicos à inovação para que esses empresários percebam exatamente, não só os riscos financeiros, tecnológicos e organizacionais da inovação, mas também seus possíveis retornos?

Para isso, é indispensável que cada empresário compreenda plenamente como seu portfolio de inovações impactará seus negócios, sua competitividade, seus objetivos estratégicos. A diabetes empresarial, semelhante à humana, é um inimigo silencioso e assintomático, que ataca quando a empresa está cega quanto às mudanças que requer para seguir viva e competitiva.

Costuma ocorrer quando a taxa de crescimento da demanda ou mercado é maior que a taxa de perda de participação no mercado. O faturamento continuará crescendo, mas a empresa perderá progressivamente competitividade, arriscando sucessivas amputações e sua própria sobrevivência.

Como na diabetes humana, a solução para a diabetes empresarial está na rápida detecção e tratamento efetivo. O monitoramento da competitividade de seus negócios é o mecanismo de detecção mais adequado, e a inovação estratégica- não qualquer uma- o principal ingrediente do tratamento.

As inovações graduais buscam a eficiência operacional, o aumento da qualidade e produtividade, e são o atual foco, quase que exclusivo, dos setores público e privado.

Estas inovações são muito úteis para desmistificar a inovação na empresa, para ganhar confiança na sua capacidade de inovar- já que o grau de complexidade do conteúdo destas inovações é com frequência baixo- para desenvolver a liderança, cultura e mecanismos organizacionais adequados, para que aprendam a geri-las com efetividade.

No entanto, a atual ênfase, quase que exclusiva, nas inovações graduais, é inadequada e gera riscos muito altos para as empresas, principalmente as de micro, pequeno e médio porte.

A maioria delas é facilmente imitável, de impacto reduzido e pouco sustentável na competitividade da empresa. Pior, a experiência internacional mostra que induzem uma verdadeira cegueira organizacional quanto à necessidade de realizar mudanças profundas nos negócios atuais e para criar novos negócios, ambos com competitividade sustentável. Como solução, costumava-se apostar num somatório progressivo de inovações graduais.

A atual revolução tecnológica-industrial e ambiental, com base nas tecnologias de impacto trans-setorial, como a nanotecnologia, a biotecnologia, TICs e outras, a fez pouco efetiva. A maior utilidade das inovações graduais, se verifica em condições de negócios oligopólicos, monopólicos ou inatacáveis - cada vez menos frequentes - ou quando estão vinculadas às inovações de ruptura, radicais, no marco de um portfolio de projetos de inovação estratégica que responde e se integra com a estratégia competitiva da empresa.

O que muito poucas empresas sabe gerar. Uma recente pesquisa da respeitada consultora McKinsey em 2.240 empresas dos EUA-Meca mundial da inovação-mostrou que apenas 30% delas possuem um portfolio bem definido de prioridades de inovação estratégica caracteristicamente corporativas e de unidades de negócios.

No caso das micro e pequenas empresas brasileiras, esta deficiência é particularmente crítica, pois a necessidade de agrupá-las em Arranjos Produtivos Locais (APLs), para aumentar sua competitividade, introduz complexidades adicionais. Oxalá o MEI possa contribuir com respostas efetivas a estes desafios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário