segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A ANSIEDADE EM UM MUNDO DE PERIGOS REAIS...


FONTE: PETER CATAPANO, DO "NEW TORK TIMES" (www1.folha.uol.com.br).

    O jovem golfista profissional Charlie Beljan deveria estar se divertindo no campo na Flórida, em novembro passado, quando se encaminhava para a sua primeira vitória no torneio PGA. Em vez disso, porém, passou o tempo todo pensando que ia morrer.

O medo tomou conta dele entre um buraco e o seguinte: Beljan, 28, tinha a certeza de que estava tendo um ataque cardíaco. Seu pulso ficou acelerado, e seu coração batia descompassadamente. Depois da primeira rodada, ele saiu do campo de golfe numa ambulância. Examinado no hospital, estava ótimo. Ele tinha sofrido um ataque de pânico.

Beljan retornou ao campo e venceu o torneio, mas passou o tempo inteiro fazendo grande esforço para permanecer em pé. "Lá fora, no campo, eu estava chorando de medo de que aquela sensação voltasse", contou ao "New York Times".

Sua reação é compreensível: num mundo onde o perigo realmente nos espreita (como mudanças climáticas e epidemias de gripe) e a tragédia pode de fato nos atingir (acidentes, guerras e massacres), o medo descontrolado de um ataque de pânico -um episódio neuroquímico que provoca uma reação de fuga, sem motivo evidente- é especialmente desorientador. Mas não é incomum. Cerca de 40 milhões de adultos americanos vivem alguma forma de ansiedade, fazendo desta a condição de saúde mental mais comum nos Estados Unidos.

O medo de situações de perigo (um terremoto ou uma cobra venenosa diante de nós) é normal e é visto como uma característica evolutiva que faz parte da capacidade de sobrevivência. A ansiedade ocorre quando qualquer medo, seja ele racional ou não, interfere na vida cotidiana.

Mas Beljan poderia ser visto como novato. Um mestre real da preocupação, como o cineasta e roteirista Woody Allen, abraça seu medo -em seu caso, a hipocondria- e o utiliza para arrancar gargalhadas.

"Quando entro em pânico por sintomas que não exigem mais que uma aspirina ou uma pomada de calamina, do que é que tenho medo realmente? Acho que da morte", escreveu Allen no "NYT".

"Sempre senti um medo animal da morte. A única coisa que considero pior do que ela é ser obrigado a assistir sentado a um concerto de rock, do começo ao fim."

A ansiedade lidera a lista de transtornos mentais em quase todos os países desenvolvidos. Mas algumas pessoas acham que o modo de vida americano, com sua adoração da "busca da felicidade", representa uma prescrição nacional de preocupação.

A britânica Ruth Whippman escreveu no "New York Times": "Na América, a felicidade dá trabalho. Trabalho intensivo, de roer os dentes, feito em seminários motivacionais e sessões de terapia, em retiros de meditação e livrarias de aeroporto. Para a esquerda, há a ioga, para a direita, Jesus. Ninguém escapa desse trabalho".

A ansiedade pode ter um caráter nacional, não desvinculado de fatos e histórico. Acontecimentos traumáticos, como guerras, desastres naturais e colapsos econômicos -como os da Grécia e da Espanha, que agora ameaçam a estabilidade da Europa- podem contaminar uma psique nacional.

Em lugares onde a longa sombra do Holocausto ainda não se dissipou e onde a violência imprevisível de facções da extrema direita ainda ameaça muitos grupos étnicos, a ansiedade pode ser fantasmática ou muito real.

Quanto a Charlie Beljan, o fato de seu ataque de pânico ter ido a público o levou a ser conhecido como representante talentoso e simpático das pessoas com transtornos de ansiedade, que, com frequência, sentem-se intensamente isoladas.

A vitória no torneio de golfe lhe valeu um cheque de US$ 846 mil e, talvez por apenas algum tempo, um pouco de paz de espírito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário