FONTE: Noemi Flores, TRIBUNA DA BAHIA.
Os anabolizantes podem causar efeitos irreversíveis no organismo de quem faz uso deste tipo de medicamento, considerado droga por grande parte dos profissionais de saúde. O assunto veio à tona recentemente após médicos do cantor Netinho, internado no Hospital Aliança, em Salvador, e transferido para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, revelarem que o artista poderia ter feito uso de anabolizantes.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA), Altamiro José dos Santos, alerta para o perigo desenfreado e sem acompanhamento médico destas substâncias, que compõem os anabolizantes, e o psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, do Espaço Holos, disse que há muita desinformação sobre o assunto, o que leva muitos adolescentes a fazerem uso por vaidade e para se afirmarem perante à sociedade.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA), Altamiro José dos Santos, “os anabolizantes são medicamentos hormonais que têm sido usados por muitos anos para melhorar o desempenho atlético. Pesquisas demonstram que cerca de quatro em cada cinco usuários de andrógenos são atletas amadores. Além disso, estudos revelam que um, em cada dez usuários, relatou sobre técnicas de injeção perigosas, incluindo partilha de agulhas. Os usuários de esteroides tendem a serem homens entre 15 e 25 anos não competidores e que usam por razões estéticas”.
Sobre esta última afirmação do farmacêutico, em relação à faixa etária, o psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, complementa que os adolescentes exageram. “O adolescente pela própria idade tem suas inseguranças. Mas, quer superar estas inseguranças e apela para estas drogas como uma compensação, achando que este tipo de droga é um mecanismo normal”, explicou.
Para Pedroso o jovem idealiza um corpo escultural como uma forma de vencer seus medos internos, apelando para a aparência. “Infelizmente esta adesão é desastrosa pode ocorrer atrofias e doenças endocrinológicas. Há muita desinformação. Querem ganhar massa de uma forma muito exagerada. É este o desastre”, lamentou.
O presidente do CRF-BA, Altamiro dos Santos, sinaliza que o uso de andrógenos se propagou de esportes competitivos para lazer e, como estratégia, para aumentar a massa muscular e atratividade física em academias de musculação. “Os utilizadores muitas vezes usam medicamentos destinados a fins veterinários ou obtenção de substâncias a partir de laboratórios que não são regulados por agências governamentais para a qualidade de fabricação. Por isso que a fiscalização é rígida, mas nunca se consegue pegar todos os laboratórios fraudadores”, alertou.
Para o farmacêutico, “os utilizadores podem tentar mascarar um efeito secundário de uma medicação com outro medicamento. Como exemplo, um atleta pode tomar gonadotrofina humana (gh) para contrariar a redução do tamanho dos testículos, resultante do uso de altas doses de andrógenos, consumir um inibidor da aromatase para neutralizar ginecomastia devido a doses elevadas de gonadotrofina coriônica humana (hCG) ou tomar um inibidor da 5-alfa redutase, inibidores enzimáticos, para evitar calvície e acne”, citou.
Santos afirma que na última década, a lista de substâncias proibidas pelas agências mundiais cresceu para mais de 100. Os mais utilizados inclui andrógenos, hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias relacionadas, antagonistas e moduladores hormonais, diuréticos e outros agentes mascarantes.
“Sabe-se que praticamente todos os andrógenos produzidos para fins humanos ou veterinários são usados por atletas e amadores. Estes incluem ésteres de testosterona, que geralmente são tomadas por injeção, os andrógenos que geralmente são tomados por via oral, e precursores de andrógenos..DHEA é amplamente apresentado em revistas de construção do corpo como um agente que irá aumentar a força muscular O COI (Comitê Olímpico Internacional) colocou a DHEA na lista de substâncias proibidas com nível zero de tolerância”, advertiu.
Ele disse ainda que existem preocupações acerca dos possíveis efeitos deletérios sobre os lipídeos sanguíneos, a tolerância a glicose e a saúde da próstata. “O principal motivo é porque esses efeitos não costumam aparecer imediatamente, e sim ao longo do tempo. A DHEA pode ser encontrada em muitas lojas de produtos naturais ou em algumas lojas de suplementos de forma ilegal, e é aí que mora o perigo. Outra abordagem para o aumento das concentrações de testosterona endógena é tomando exógenos como Gh (hormônio do crescimento), antiestrogens como o tamoxifeno ou raloxifeno, ou inibidores da aromatase. Estas drogas resultam em um aumento das concentrações sérias de testosterona, e todos estão proibidos para esse fim”, alertou.
Efeitos secundários.
O farmacêutico disse que todos os androgénos têm alguns efeitos colaterais quando administrados em doses elevadas. Todos os andrógenos suprimem a secreção de gonadotrofinas e, portanto, suprimem a função testicular de produção de esperma. Tamanho dos testículos pode diminuir se a administração de andrógenos continuarem por muitos anos. Anabolizantes causam a ginecomastia, ou seja, crescimento das mamas acelerado no homem. Nas mulheres, os efeitos colaterais de andrógenos incluem acne, hirsutismo, recessão cabelo temporal em um padrão masculino, clitoromegalia e engrossamento da voz, que é irreversível, muitas mulheres também desenvolvem amenorreia.
O efeito de doses elevadas de androgénios sobre a função cardíaca é incerto. Vários relatos de casos descrevem morte súbita em atletas jovens que não tinham doença cardíaca previamente conhecida, mas que estavam tomando andrógenos; hipertrofia ou miocardite cardíaca foi encontrada na autópsia. Devido à próstata ser uma glândula testosterona-dependente, existe a preocupação de que as doses elevadas de androgénios que os atletas tomam podem aumentar o risco de hipertrofia benigna da próstata e câncer da próstata.
De acordo com o farmacêutico, a autorização de utilização terapêutica, “no mundo as Agências Anti-Doping e de Vigilância à Saúde permitem aos atletas que vão competir, usar um medicamento proibido, caso eles precisam para uso terapêutico e sob prescrição médica. Nesta situação, eles garantem uma isenção para uso terapêutico”, afirmou.
Santos acrescenta que “o médico deve mostrar que o atleta iria experimentar um problema de saúde significativo, se ele não tomar o medicamento proibido e que não há alternativa terapêutica razoável. Um exemplo é um atleta que toma testosterona, porque ele teve o câncer testicular. Ele complementa que “o hormônio do crescimento, GH, pode causar resistência à insulina, hiperglicemia, diabetes, retenção de sódio, hipertensão, cardiomegalia, miopatia, síndrome do túnel do carpo, e inchaço das mãos.
Um médico pode ser considerado culpado, de violações antidoping, pela prescrição de substâncias proibidas para melhorar o desempenho atlético, mas não é susceptível de ser responsável por administrar uma droga proibida para tratamento médico”, concluiu.
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