FONTE: Fernanda Cruz, Da Agência Brasil, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Um estudo da USP (Universidade de São
Paulo) mostra que o aquecimento de dois componentes que formam o crack, o éster
metilecgonidina (Aeme) e a cocaína, aumenta em 50% a morte de neurônios em
usuários, quando comparado ao consumo isolado das duas substâncias.
O crack é produzido a partir da mistura
da pasta de cocaína, bicarbonato de sódio e água, sendo que o Aeme é um produto
da queima, ocorrida quando o usuário fuma a pedra de crack, explica a
professora do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da USP, Tania Marcourakis, responsável pela pesquisa.
Segundo ela, o objetivo do estudo era
conhecer melhor o Aeme, que é usado no meio médico como marcador biológico do
uso do crack. Ela explica que a presença do éster metilecgonidina em um
organismo permite, por exemplo, deduzir a causa de uma morte pelo uso da droga.
"A nossa pergunta foi: Será que essa
substância é só um marcador biológico ou ela também é ativa?", disse.
A partir desse questionamento, os
cientistas pretendem investigar se o Aeme associado à cocaína, além de provocar
um nível maior de morte de neurônios, participa também da dependência química
do crack.
"A gente sabe que o crack tem um
potencial devastador no usuário, muito maior que a cocaína nas outras formas de
administração. Sabemos que [a droga] leva à dependência mais rápido. Mas a
gente ainda precisa concluir os trabalhos", disse Tania.
O que se sabe, por enquanto, é do alto
potencial de neurotoxicidade do Aeme associado à cocaína. Embora não haja
comprovação, a pesquisadora acredita que o resultado dessa grande morte de
neurônios pode ser, no longo prazo, uma predisposição maior à demência e a
outros problemas cognitivos.
"Isso pode não se manifestar na
idade jovem, porque você tem mecanismos plásticos [facilidade em compensar a perda neuronal] que podem dar conta
disso dentro da idade adulta, nos jovens, adolescentes. Mas, na velhice, já tem
uma perda neuronal [natural] e esses mecanismos não estão tão eficientes",
explica Tania.
Como os estudos foram feitos apenas a
partir de cultura de neurônios in vitro, os danos reais provocados pelo crack
no cérebro do ser humano ainda são desconhecidos. A pesquisadora da USP
acrescenta que, por se tratar de uma droga relativamente recente, ainda não é
possível estudar as suas consequências no cérebro de viciados ao longo de
muitos anos.
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