FONTE: Noemi Flores, TRIBUNA DA BAHIA.
Cresce o número de mulheres agredidas, em
Salvador, por seus maridos, companheiros ou ex-relacionamentos. Somente em 2012
foram atendidas 4.058 mulheres vítimas de violência e no primeiro semestre
deste ano cerca de 2.122 casos. Constam os bairros de Pernambués, Brotas,
Cajazeiras e Sussuarana como recordistas em número de agressões.
Os dados são do Núcleo de Defesa da Mulher
da Defensoria Pública da Bahia (Nudem) que apresentou, ontem (28), à
Comissão dos Direitos da Mulher, da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), na
Sala José Armando, um relatório sobre violência contra mulher na Bahia.
De acordo com a Defensoria Pública da Bahia,
o núcleo foi criado em 2008 e desde então atendeu 13.500 casos de
violência e o mais terrível é que mais da metade destas mulheres convivem com o
inimigo porque a maioria dos agressores são seus maridos, companheiros,
namorados ou quem está na situação de ex e não aceita o término do
relacionamento.
Estes são os dados de mulheres
que procuram a Defensoria Pública por terem sido agredidas ou sofrido
ameaças de agressão ou morte, mas infelizmente existe ainda uma parcela
que tem receio de se expor. Toda a mulher que sofre agressões em casa, no trabalho ou na rua deve denunciar na Defensoria Pública, Rua Pedro
Lessa, Canela, que atende de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 12 horas
(sendo que a queixosa deve chegar até 10 horas) e das 14 às 18 horas (até as 17
horas).
Conforme relata a coordenadora do Nudem,
Firmiane Venâncio, ao procurar a Defensoria Pública, a vítima de violência é
atendida por defensoras que analisam a situação apresentada e verificam quais
medidas deverão ser adotadas. Dependendo do caso, a instituição poderá entrar
com ações de medidas protetivas – medidas de urgência, em casos onde a vítima
corre sério risco de ser agredida ao voltar para casa depois de fazer a
denúncia.
A coordenadora explica que dentre estas
medidas estão, por exemplo, obrigar que o agressor seja afastado da casa ou do
local de convivência da vítima e proibi-lo de se aproximar ou manter contato
com a vítima, familiares e testemunhas; obrigá-lo também à prestação de
alimentos para garantir que a vítima dependente financeiramente não fique sem
recursos e proibir temporariamente contratos de compra, venda ou aluguel de
propriedades que sejam bens comuns.
Porém Venâncio deixa claro de quem decide,
no entanto, se há ou não necessidade de adotar essas medidas é o juiz. Ela
explica que ao longo de cinco anos, 1.556 medidas protetivas foram peticionadas
pelo Nudem. Outras 6.000 mil ações ligadas à área de família (pedidos de
divórcio, pensão, alimentos, entre outras), foram ajuizadas, somando mais de
8.000 mil tipos de ações peticionadas, de 2008 a julho deste ano.
Ampliação da rede de
proteção à mulher na Bahia.
Segundo a coordenadora do Nudem,
Firmiane Venâncio, após ajuizar a ação, a Defensoria ainda acompanha o caso,
atuando em parceria junto à rede de proteção à mulher, que inclui Delegacia de
Apoio à Mulher – Deam, Ministério Público, Vara da Violência Doméstica,
Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda – Setre, entre outras instituições.
No caso da Setre, o Núcleo
estabeleceu, em 2009, parceria com a secretaria estadual e com serviços de
intermediação de mão de obra, buscando encaminhar com grau de prioridade as
mulheres em situação de violência para políticas públicas de formação e auxílio
de entrada no mercado de trabalho. A ideia, este ano, é fortalecer a parceria
com a Setre e ampliar a atuação, desta vez, com a Secretaria de Políticas para
Mulheres, SPM.
“Nossa obrigação é promover a atenção
integral à assistida, trabalhando de forma articulada. Em casos onde o
impedimento da separação da mulher se dá em virtude de uma dependência
financeira, por exemplo, verificamos o perfil da assistida e a encaminhamos ao
SineBahia, onde ela passará por cursos de qualificação que vão garantir sua
empregabilidade. Já pedimos um levantamento para a Secretaria de Mulheres para
ver quantas foram incluídas no Programa Minha Casa, Minha Vida – que tem um
dispositivo nesse sentido e nós queremos poder checar se ele está sendo efetivo
em abrigar mulheres em situação de violência. A gente tem se debruçado muito
sobre questões de inclusão”, informou a coordenadora.
Primeiro semestre de 2013, a Defensoria
Pública peticionou 186 medidas punitivas ou protetivas, com alimentos para
mulheres vítimas de agressão. Cerca de 611 delas procuraram o Nudem pela
primeira vez, enquanto que outras 579 foram orientadas pelas profissionais do
Núcleo por telefone, em razão do medo, dúvida ou receio de pedir ajuda na
própria unidade.
Em sua maioria vítimas da violência moral e
psicológica, elas têm na proximidade com os agressores sua principal
característica. Os casos de agressão por parte dos companheiros, maridos ou
ex-maridos são os mais comuns. Anualmente, mais de cinco milhões de reais são
gastos no Brasil pelo Sistema Único de Saúde, com internamentos de mulheres
vítimas de violência. Cerca de 40 mil delas buscam o sistema para outros
tratamentos decorrentes dessa prática.
Pelo trabalho desenvolvido, a Defensoria
Pública foi convidada a participar do projeto Pensando a Segurança Pública
promovido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com a Fundação
Getúlio Vargas. A pesquisa tem o objetivo de verificar em três cidades do
Brasil - Salvador, Campinas e Vitória - quais são, atualmente, as estruturas do
sistema de proteção à mulher em situação de violência, e fazer um diagnóstico
da efetividade da Lei Maria da Penha nestas capitais. A Instituição foi
escolhida para integrar o projeto por possuir diversos dados ligados ao tema,
como número de atendimentos realizados, nível de escolaridade, grau de
parentesco do agressor, natureza da violência, renda familiar, entre outras
informações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário