FONTE: IVAN DE CARVALHO (TRIBUNA DA BAHIA).
O governo brasileiro se prepara para receber alegremente, em 23 de novembro, a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Estão em espírito de festa antecipada os governos iraniano e brasileiro e seus respectivos presidentes. O presidente Lula tem feito, solitariamente entre os chefes de governo e Estado responsáveis do mundo – talvez ele não se enquadre exatamente nesta categoria, afinal, pois é esta a impressão que tem dado ao adotar posições sobre determinados temas e casos – a defesa do programa nuclear do Irã. Os detentores do poder nesta ditadura teocrática juram que o programa tem fins pacíficos – a produção de energia elétrica.O que mais perplexidade causa é que essa defesa que faz o presidente Lula se tornou mais explícita, afirmativa e incisiva depois de anunciada a descoberta de uma planta atômica secreta, construída à socapa no interior de uma montanha, enquanto o mundo se preocupava com o programa nuclear iraniano ostensivo e sua entravada e entrevada fiscalização, julgando que era o único que existia lá.Se o programa ostensivo já é suspeito de ter o objetivo de produção de matéria prima para armas nucleares – o Irã resiste e inventa pretextos para impedir a fiscalização da produção dessa matéria prima (plutônio e urânio enriquecido) pelos técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica –, isso dá uma idéia de quanto é reveladora a planta secreta, recentemente descoberta.E os especialistas no assunto não deixam margem a dúvida, salvo para aqueles que, por conveniência ideológica, política ou comercial não querem entender. Explicam esses especialistas que a planta nuclear ex-secreta é pequena demais para a produção de energia elétrica, mas suficiente para a produção de armas nucleares.Certamente com contida ironia, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, compartilham da mesma visão sobre o uso da energia nuclear. Poderiam até compartilhar, se o Brasil não houvesse desistido do seu projeto nuclear secreto gestado nos tempos da ditadura e detonado os poços cavados para futuras experiências nucleares subterrâneas na Serra do Cachimbo. Mas saímos dessa aventura macabra desde a década de 80 e o Irã é, dos dois, o país que agora a empreende. De qualquer forma seria interessante indagar ao chanceler Celso Amorim ou ao assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Top Top Garcia, se é verdadeira a identidade de visão do Irã e do Brasil sobre o uso da energia nuclear. Porque se algum desses dois disser que sim – e presumindo, só presumindo – que nenhum dos dois seja burro a ponto de não saber o que está dizendo, temos muito com o que nos preocupar. Afinal, seria uma grande surpresa uma mudança na política brasileira de renúncia total do uso da energia nuclear para fins bélicos.Além do programa nuclear de natureza bélica do Irã, há outros e fortíssimos motivos para a sociedade brasileira reagir e esse estabanado convite a Ahmadinejad. Disso tratamos depois.
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