quinta-feira, 22 de julho de 2010

A TRAGÉDIA DO BREGA...

FONTE: JOLIVALDO FREITAS, TRIBUNA DA BAHIA.

Ando cada vez mais preocupado com o destino da memória da Bahia. Cada prédio que cai, cada rua que afunda, cada fonte que desaparece e cada monumento que o limo cobre ou perde seus elementos me levam ao estresse. A Bahia, que tinha na sua cultura
o maior dos orgulhos, na contramão da história e da inteligência, vê perder, a cada dia, pedaços e pedaços da sua riqueza e beleza.
Agora doeu forte no peito quando vi mais um puteiro desabar, e dessa vez matando e mutilando. Foi mais um casarão antigo, sob os cuidados o Iphan, que veio abaixo. Mais um que se perde no tempo. Vale perguntar ao Iphan: - Qualé, mo irmão? Se não sabe o que fazer ou não tem poder de mandar consertar deixe que alguém melhor o faça.
Foi naquela casa que desabou no fim de semana, na Ladeira da Conceição, que Joselito Bispo perdeu a virgindade, isso aos 20 e poucos anos de idade, coisa rara tanto hoje como nos anos 60 do século passado. Vale a pena contar, pois foi um caso de amor à primeira vista.
Eu conto. Sei que ele não vai gostar, ainda mais que hoje posa de bom moço lá na Cidade Baixa, curando os pecados da juventude com trabalhos sazonais como missionário carismático. Amigo é para isso: contar os podres. Conto:
Zelito era o mais velho de todos nós. Diferença assim de uns seis anos, mas era tímido, educado e inocente. Era puro, embora não fosse belo. Todos nós já tínhamos provado da maçã que desgraçou a vida de Adão no paraíso. Uns com as primas, outros com as galinhas, os mais corajosos com as vacas e os verdadeiramente machos com as moças da Conceição, Gamboa e Montanha.
Claro, tudo sem maldade, coisa de adolescente. Descoberta, urgência da natureza.Zelito, não. Religioso, temente a Deus, obediente aos pais, era o orgulho da família e exemplo para todo o bairro. Isso até o dia em que, subindo a Ladeira da Montanha, num ônibus mixto, viu uma nesga da perna de Samara, uma prostituta cor de jacarandá. Sua vida mudou.
Passamos a desconfiar do por que dele todo dia pegar ônibus em direção à Cidade Alta, coisa que não precisava fazer pois trabalhava na fábrica Fratelli Vita, no bairro da Calçada. Como não tínhamos nada para fazer, passamos a segui-lo escondidos.
Vimos que também passou a subir a ladeira a pé, olhando disfarçadamente para as salas das casas que serviam de brega.
Ficamos na tocaia e quando passou demos o bote e o susto e ele no pulo decidiu contar que estava apaixonado pela prostituta. Decidimos “ajudar”. Amigo é para isso também. Fomos juntos em busca da moça... ela tinha.

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