Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. O ditado popular vem ganhando nova dimensão entre os cientistas americanos e espanhóis, que alertam para os riscos do consumo excessivo de água para o corpo humano. O estudo acaba com o mito de que “quanto mais água melhor” e garante que a ingestão desmedida - aliada a altos níveis de transpiração - é quase tão nociva quanto a sede. Ela reduz a concentração de sódio e outros micronutrientes no organismo e pode causar epilepsia, edemas pulmonares, dificuldade de respiração, problemas cardíacos, coma e até a morte em casos mais severos. É a chamada hiponatremia. Recurso que se torna a cada dia mais escasso no planeta, a água sempre foi sinônimo de vida e saúde, considerada substância sagrada pelo senso comum, independentemente dos níveis de ingestão. Exercícios físicos e muita água são receitas repetidas continuamente por quem busca uma melhor forma física e o emagrecimento. Mas segundo o Centro Superior de Investigações Científicas da Espanha e o Instituto de Medicina dos Estados Unidos isso nem sempre é verdade. Eles afirmam que a ingestão de água em excesso é uma moda que pode levar a sérios riscos para a saúde. A hiponatremia é a baixa concentração de sódio no organismo. Ela ocorre principalmente entre maratonistas e atletas que se exercitam em clima quente e úmido durante longos períodos de tempo. O sódio é responsável pelo metabolismo celular, circulação da água entre os compartimentos intracelular e extracelular, transmissões nervosas e manutenção da pressão arterial. A nutricionista Nilza Porto Maior explica que o esforço excessivo aliado à ingestão de grandes quantidades de água pode eliminar micronutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo: “A água lava o sódio e o potássio através do suor e da urina. Isso pode, dentre outras coisas, levar a uma diminuição da força dos batimentos cardíacos”. Ela explica que a quantidade ideal para o consumo de água varia: “O normal é cerca de dois litros por dia, entre água e outros líquidos, mas isso depende do peso e da idade do atleta. O importante é que a hidratação ocorra sem excessos”, disse. Pessoas com menor estatura também estariam mais propensas à intoxicação, que provoca inicialmente tontura, tremores, mal-estar, confusão, perda de memória e, em estágios mais avançados, colapso e até a morte. Os estudos hispano-americanos confirmam vários benefícios do consumo regular de água para o corpo humano, como o fortalecimento da pele, unhas e cabelos, além do bom funcionamento dos intestinos. Outros mitos, como o de que a água emagrece, foram rejeitados como falsos. Os cientistas destacaram o aumento nos casos de anorexia porque muitas pessoas passaram a substituir os alimentos por água na tentativa de emagrecer. A Organização Mundial de Saúde calcula que entre 0,5% e 1% das mulheres de 14 a 25 anos sofram com a doença no planeta. A chamada “dieta líquida” pode provocar transtornos psíquicos, infecções graves e pressão extra nos rins. De acordo com o cardiologista Gilson Godinho, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o excesso de água no organismo sobrecarrega o coração: “É uma questão de força versus resistência. Em termos leigos, seria como tapar a saída de uma mangueira. Isso aumenta a pressão da bomba d’água, que precisa usar de mais força para trabalhar. A mesma coisa ocorre com o coração, que tem que vencer a resistência periférica e o volume do fluxo sangüíneo para fazer o sangue circular”, explicou, lembrando que o corpo humano possui cerca de 90% de seu peso em água e que o excesso compromete esse percentual já elevado.
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