quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A ADOLESCÊNCIA ULTRAJADA..


Volta e meia os jornais noticiam que cada vez mais meninas entre 10 e 14 anos já são mães. São crianças gerando crianças. A precocidade da gravidez aumenta os perigos de uma cesariana, e a cirurgia pode até causar a morte de mãe e filho.
Estes casos, cada vez mais recorrentes no Brasil carente, revelam como milhares de crianças e adolescentes estão entregues à própria sorte.
Elas são vítimas de um contexto social adverso. Há centenas de casos em que oportunistas dão vazão aos seus instintos. Em outros, se envolvem com jovens que não têm condições, financeira e psicológica, de assumir a paternidade.
Elas existem nos sinais de trânsito das grandes cidades; nas palafitas das periferias; nas favelas e nos milhões de casebres erguidos na imensidão do País.
Existem também em lares abonados, embora em menor escala. Seus pais, geralmente pessoas pobres e desinformadas, assistem em silenciosa impotência e comovedora resignação à gravidez inesperada, trazendo para o mundo mais um ser sem presente e sem futuro.
Diante desta realidade, mergulhada no descaso das autoridades, o infortúnio cresce. Em nove meses de tormento e desamparo, mãe e filho repetem as biografias vazias de milhares de joões e de marias.
Vai se perpetuando a desassistência, a omissão descarada do poder público, que não dá as mínimas condições de uma sobrevivência digna a estas crianças que vivem à margem da cidadania.
A equação é a seguinte: ao ter um filho, a adolescente deixa de estudar por não ter com quem deixá-lo; sem a formação educacional mínima, não tem a menor chance de, no futuro, conquistar um emprego que lhe possibilite uma ascensão social.
Ou seja, o futuro é obrigatoriamente jogado pela janela. O que pode esperar, então, uma criança gerada por outra? É possível imaginar a trajetória destes filhos da indiferença. Para quebrar este círculo cruel, no qual as esperanças são perdidas, seria necessária a intervenção emergencial do Estado, provendo a educação e o sustento de mãe e bebê. Só assim será possível quebrar a miséria que assola estas crianças.
Programas sociais independentes – a Fazenda Nova Canaã, em Irecê, no sertão da Bahia, é um exemplo – têm promovido a reversão deste quadro preocupante. As crianças que não são privilegiadas por tais iniciativas tornam-se presas fáceis da marginalidade e o crime se aproveita destes fatos para aliciá-las. Pode ser um caminho sem volta. Há solução?
O que dizem os especialistas? Entramos no campo da teoria, que, se não for embasada em políticas concretas, não surte efeito.
No entanto, há esperança. Esta reside na boa vontade de uma minoria de homens públicos, pessoas que estão dispostas a arregaçar as mangas e trabalhar para dar um futuro aos desassistidos do presente.

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