Para tudo há solução, só para a morte é que não. Deus é pai, Deus sabe, Deus entende. Melhor não falar a verdade para não magoar. Tudo na vida tem um preço. Tanto para o bem quanto para o mal, os hábitos impulsionam comportamentos que se sacramentam no convívio social. Quando exercitados em excesso, alcançam o grau de transtorno compulsivo, uma paranóia, assim como, quando pouco exercitados, se transformam em comportamento social marginal, segregacionista e discriminatório, colocando cada um na sua tribo (antropológicamente falando). Dentro de um contexto científico, o hábito é um forte determinante na formação de organizações complexas, como bairros e grupos sociais, que, por afinidade e semelhança de conceitos, desenvolve laços que vão desde o afetivo até os de cumplicidade e que podem ser saudáveis ou não. Evoluindo da escolha pessoal para o âmbito do coletivo, em muitos casos, os hábitos levam a um condicionamento que disfarçadamente impõe regras restritivas e permissivas ao mesmo tempo.
Trocando em miúdos, eles podem fomentar a manutenção de uma sociedade emburrecida, cheia de mitos e superstições, recheada por aparências que em nada ajudam, senão a aumentar o rasgo no já saturado tecido social, corroído por tantas tradições e costumes, e que tem sucumbido ao poder de anular a capacidade dos indivíduos (jovens ou não) de pensar, analisar e concluir sobre os fatos e atos que constroem o cotidiano. É aos hábitos perniciosos, objeto deste texto, que devemos muito do que vivemos; a idolatria, a mentira, a trapaça, o conformismo, a insegurança, a ignorância e, inclusive, a violência.
Podemos observar tal colocação em alguns exemplos, como: a compra e a venda de medicação sem receita médica; o arredondamento de preços para evitar dar o troco; a oferta de vantagens inexistentes para fechar negócios; o uso da coação para disciplina (cobrança de multa para o não uso do cinto de segurança, a troca do presente pelo bom comportamento); a transferência de decisões erradas para terceiros; a fofoca e etc.
Nosso país não é único, é claro, mas é onde vivemos e, por isso, é o lugar que queremos que seja cada dia melhor para todos nós. Longe da apologia de que só há hábitos ruins, a questão é: por que nos utilizamos mais destes em detrimento daqueles que podem nos levar ao objetivo que almejamos?
Viver numa sociedade mais justa, equânime, equilibrada e solidária. Não são poucas às vezes em que somos chamados à atenção para o amor ao próximo, ao perdão, à compreensão, à ajuda desinteressada e ao compartilhamento de idéias e posicionamentos, e isso não é só por terceiros, mas pela nossa própria consciência, e mesmo assim transformamos também isso em objeto de barganha, de “caridade”.
A necessidade de reconhecimento e de evidência estraga tudo e faz com que os indivíduos desejem ser enquadrados em grupos cujos valores os remetam de volta a um mundo ideal, quando a própria necessidade de ser útil, de dividir e multiplicar os bons hábitos é, por si só e sem dúvida nenhuma, uma enorme recompensa.
Não seremos seres humanos melhores tendo dó de quem quer que seja, que esteja ou não, na mesma condição que nós, que, aliás, pode ser extremamente temporal e transitória como a própria vida.
Precisamos amar verdadeiramente e parar de negociar este amor em troca de bens tão menores, e que não nos acompanharão na trajetória rumo a Deus e aos céus, para onde muitos crêem que o hábito da caridade, da doação de bens materiais e da religiosidade sirvam como passaporte para lá entrar.
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