sexta-feira, 4 de maio de 2012

INÚTEIS, A GENTE SOMOS INÚTEIS...



O Presidente da Câmara dos Deputados afirmou que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cachoeira será explosiva; vivemos e sorvemos vida de confusão em confusão; reflexões, pra quê?

A história da formação do império americano, visto os fatos, é a história da guerra, da corrupção e da ganância — a este propósito, leiam “Os Magnatas”. Isso não deve justificar nada, nem mesmo pode enfraquecer as nossas intenções de “moralizar” — no sentido de uma ética da (não na) política — as relações estabelecidas no mundo da política e na própria sociedade moralista e vazia de intenções públicas. A diferença que podemos afirmar, por ora, é que os americanos construíram um país, uma nação, e nós recém estamos tentando construir um País e nos orgulhando ser uma nação; não esqueçam que estamos sendo incluídos no mundo econômico, no da cidadania, nem tanto.

A corrupção nas relações privadas e as tentativas, muitas vezes bem sucedidas, de capturar o público pelo privado, permitiu solidificar nos Estados Unidos da América uma indústria e um modo de fazer política que submete o mundo desde o final do século XIX.

Tratar de Demóstenes e de Cachoeiras e de explosões é a certeza de textos diários, e nada mais além de pregações vazias e circunstanciais. Cabeças serão colocadas em cestos e entregues aos sanguinários felizes por beber sangue, e sorver mentes. Todavia, nossas dificuldades em enfrentar uma institucionalidade caótica atrasa-nos no caminho da construção de um País, de uma economia ou de uma cultura capazes de nos permitir, no futuro, servirmos de referência para o mundo, ou para alguém.

Não devemos pretender o império, em que pese sermos imperialistas nos terrenos da América Latina, mas sim devemos pretender uma sociedade melhor, cúmplice de si mesma e que abandone a teimosia das facilidades da não reflexão.

A CPI do Cachoeira será um prato cheio para a diversão. Desculpem-me, não sou parceiro pra esse tipo de achincalhe nacional.

Imagino que até a marca das cuecas de determinados homens públicos virão à tona, imagino que não teremos uma só reforma institucional a partir da caça aos imorais. O problema, na verdade, é exatamente este, somos todos moralistas enfiados em coecas samba canção. Do ponto de vista político, é o que diz o roqueiro: “inúteis, a gente somos inúteis”.

*** Ricardo Giuliani Neto é advogado em Porto Alegre, mestre e doutor em direito e professor de Teoria Geral do Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Sócio proprietário do Variani, Giuliani e Advogados Associados e autor dos livros "O devido processo e o direito devido: Estado, processo e Constituição" (Editora Veraz), "Imaginário, Poder e Estado - Reflexões sobre o Sujeito, a Política e a Esfera Pública" e "Pedaços de Reflexão Pública – Andanças pelo torto do Direito e da Política" (ambos da Editora Verbo Jurídico)

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