FONTE: TRAJANO PONTES NETO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA (www1.folha.uol.com.br).
Artigo publicado "Jornal da Associação Médica Americana" questiona a capacidade dos testes clínicos realizados nos EUA de fornecer recomendações médicas confiáveis. O estudo constatou que, entre 2007 e 2010, testes envolvendo menos de cem pacientes representaram 62% do total (e apenas 4% previam mais de 1.000 voluntários). A média de participantes foi de 58 nos testes concluídos e de 70 naqueles registrados mas não concluídos.
A pesquisa, coordenada por Robert Califf, diretor do Instituto de Medicina Translacional da Universidade Duke, de Durham, Carolina do Norte, examinou os 96.346 testes clínicos registrados no banco de dados governamental em 27 de setembro de 2010, referentes a três especialidades médicas (cardiovascular, saúde mental e oncologia).
Os pesquisadores reconhecem que testes envolvendo menos pacientes podem ser apropriados em muitos casos; porém, ressaltam ser menos provável que forneçam informações para muitas outras situações, "como para determinar a eficácia de tratamentos com efeitos modestos e para comparar tratamentos eficazes e permitir decisões práticas melhores."
O pequeno número de pacientes envolvidos não foi a única deficiência apontada. Os autores relembram que menos de 15% das principais diretrizes médicas são baseadas em evidência de alta qualidade, isto é, evidência que decorre de testes com planejamento apropriado, número suficiente de pessoas, métodos apropriados para medir resultados e supervisão de conselhos de ética que protejam os participantes e assegurem a integridade do teste.
Para o médico Marcelo Derbli Schafranski, especialista em medicina interna pela Universidade Federal do Paraná e autor do livro "Medicina - fragilidades de um modelo ainda imperfeito", o problema não é apenas o baixo número de pacientes envolvidos nos testes, mas o fato de a maior parte deles ser interrompida antes do fim, sem justificativa.
Para Schafranski, chama a atenção também a ausência de comitês de monitoramento de dados em um percentual elevado de testes, comprometendo a verificação independente dos resultados.
Em função disso, para o especialista, "o estudo mostra como a medicina se alicerça sobre bases frágeis. Sobram poucos estudos de credibilidade em que os consensos possam se apoiar".
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