segunda-feira, 27 de agosto de 2012

MÃE AVISOU JOVENS SOBRE RISCOS DE CRIMES HOMOFÓBICOS EM CAMAÇARI...


FONTE: Ronney Argolo (ronney.argolo@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.


Uma semana antes de ser assassinada a tiros ao lado na namorada, Maiara de Jesus, 22 anos, enviou para o celular do pai, o soldador Jorge de Jesus, uma mensagem de despedida.

Uma semana antes de ser assassinada a tiros ao lado na namorada, Maiara de Jesus, 22 anos, enviou para o celular do pai, o soldador Jorge de Jesus, uma mensagem incomum. “Às vezes, por coisas sem sentido, acabamos perdendo pessoas importantes. Às vezes erramos, às vezes arriscamos e somos felizes. (...) O destino reserva para todos os humanos uma certeza: a morte. No dia em que eu deixar de existir, lembre-se de que parti feliz, porque tive a oportunidade de ter tido uma pessoa como você”, afirmou ela, via celular.

Para Jorge, o texto hoje soa como uma premenitória despedida. “É como se ela soubesse que algo ia acontecer”, interpreta.

Maiara foi assassinada em Camaçari, no final da noite de sexta-feira, quando voltava do camelódromo onde trabalha com a namorada Laís Fernanda dos Santos, 25 anos. Dois homens passaram em uma moto atiraram três vezes contra Laís - atingida no tórax e na cabeça - e uma vez contra Maiara, na cabeça.

Saudade Sem encontrar uma explicação para a morte da filha, a mãe de Laís, Josefa Pereira dos Santos, conhecida como Dete, deixa transparecer toda a tristeza ao entrar no quarto onde o jovem casal vivia, nos fundos da casa de uma vizinha.

Ontem, encontrou sobre a cama roupas ainda por passar e, nas estantes, retratos com imagens de bons momentos de Laís e Maiara. “Elas eram o meu pé e a minha mão. As duas muito carinhosas, viviam me abraçando. Maiara me conquistou e eu tinha um amor de mãe por ela. Laís tem dois irmãos homens e era minha única filha. Não consigo parar de pensar nem em uma, nem na outra. Mas sei que nada vai trazer elas de volta”, lamenta Dete.

Ela trabalha junto com a filha e a nora no camelódromo. Todos os dias, às 7h30, acordava as duas. Laís e Maiara cuidavam da barraca pela manhã e Dete fazia o almoço. Levava a comida ao meio-dia e ficava por lá. Enquanto Maiara era a melhor vendedora, Laís ajudava com o controle do estoque. No final do dia, eram as jovens que fechavam o caixa.

SONHOS.

Antes do crime, Maiara aguardava a resposta de uma entrevista de emprego numa loja em Camaçari. Laís queria concluir o supletivo noturno para “vencer na vida”. Preferia trabalhar do que estudar e já acompanhava a mãe no camelódromo desde os 7 anos.

“Ela ia fazer uma tatuagem no tornozelo com a frase ‘Dete, eu te amo’. Escrevia isso nos relógios, nos diários, nas pulseiras, em todos os lugares. Ela era muito próxima de minha mãe, gostava muito dela”, conta o irmão de Laís, Luiz Fernando Santos, 23 anos.

FAMÍLIA.

Assim como entre os familiares de Laís, o casal tinha boa relação com a família de Maiara, que saiu de Dias D`ávila aos 18 anos. No última Dia dos Pais, 12 de agosto, Jorge de Jesus conheceu a mulher com quem a filha vivia há cerca de dois meses e assim soube que a filha era gay.

“Eu gostei da garota. Disse a Maiara que a amava acima de tudo e que a aceitava”, lembra. Maiara não contou para a mãe, evangélica, por medo da reação. “Ela disse que ia falar, mas não teve tempo pra isso”, lamenta Jorge.

Faltou tempo também para as famílias se conhecerem. Jorge já tinha combinado um encontro, por telefone, com o empilhador Enedil Nunes dos Santos, pai de Laís. Eles falaram sobre a relação das filhas e chegaram a marcar uma reunião familiar para setembro. “Todos em minha casa estão muito chocados. Tenho mais dois filhos e tenho que dar suporte a eles”, conclui.

MÃE AVISOU FILHA SOBRE POSSÍVEIS ATAQUES HOMOFÓBICOS.

A delegada titular de Homicídios da Região Metropolitana, Maria Tereza dos Santos, reafirmou ontem que a investigação segue por duas linhas, sem, no entanto, sivulgar quais linhas seriam estas. Ela não acredita na homofobia como motivação do crime, mas a família não descarta.

“As pessoas têm preconceito aqui. Desde que os gêmeos foram agredidos por serem confundidos com gays que eu falava para Laís tomar cuidado”, lembra Josefa dos Santos, mãe de Laís Fernanda. A agressão a que ela se refere ocorreu em junho, contra os irmãos José Leonardo e José Leandro da Silva, de 22 anos. Leonardo morreu.

Josefa não acredita que o ex-namorado da filha, Luciano Pereira, o Bubu, de 24 anos,tenha participação no crime, que poderia ter sido motivado por ciúme. “O namoro acabou numa boa. Ele foi para o enterro, me apoiou. Não faria isso”, afirma.

Outros familiares e amigos das vítimas também defendem o rapaz. “Não sei o que aconteceu. As duas eram muito queridas. Mas o Bubu está sendo acusado sem provas”, disse Ana Cláudia Fernandes, amiga e vizinha das vítimas.

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