FONTE: *** MEGAN CONNER, DO "GUARDIAN" (www1.folha.uol.com.br).
Blogueiras americanas defendem que a monitoração da aparência tem se tornado um hábito doentio. Na tentativa de frear a obsessão com a beleza elas começaram a fazer "jejum de espelho". Ou seja: a se abster de encarar o espelho por períodos que variam entre um mês e um ano.
A moda começou com blogueiras como Autumn Whitefield-Madrano, 36, dona do site "The Beheld". "Comecei a notar que eu tinha uma 'cara de espelho'", diz ela. "Sempre que via meu reflexo eu arregalava os olhos e sugava as bochechas na tentativa de ficar mais parecida com o que eu gostaria de ser."
Em maio de 2011, Madrano começou seu primeiro mês de jejum de espelho em um esforço para se tornar menos autoconsciente de seu rosto. "Estava preocupada com a quantidade de vezes que me flagrava pensando na minha aparência. Queria saber como meu humor era afetado pela minha autoimagem."
No final da experiência ela disse ter se sentido "mais calma e serena", embora admita que o segundo mês de "jejum", feito em julho de 2011, tenha sido mais complicado.
A psicóloga Kjerstin Gruys, 29 anos, do blog "Mirror Mirror... Off the Wall", jejuou por um ano logo antes do casamento. Segundo ela, comprar o vestido de noiva "gerou uma sensação de insegurança tão desagradável" em relação ao seu corpo que decidiu evitar superfícies reflexivas e fotos de si mesma por um ano.
No fim do experimento, ela relatou que havia "aprendido a separar melhor a aparência da autoestima". A blogueira está escrevendo um livro sobre o jejum.
OBSESSÃO.
Um estudo publicado na revista "Behaviour Research and Therapy" no começo deste ano constatou que as mulheres britânicas se olham em média 38 vezes por dia no espelho.
Para a psicóloga Phillippa Diedrichs, do Centro de Pesquisa Sobre Aparência de Bristol, na Inglaterra, a pressão social por uma determinada aparência explica por que algumas pessoas tomam medidas extremas para evitar o próprio reflexo.
"O ideal de beleza atual é inatingível para a maioria. Ao se olhar no espelho, a pessoa tende a se comparar com esse ideal". Diedrichs, no entanto, não acredita que o jejum de espelho possa trazer um impacto significativo na autoimagem a longo prazo. "Quando trabalhamos com pessoas com desvios de imagem corporal, o que fazemos é justamente o oposto: encorajamos as pessoas a se olharem e fazerem menos críticas sobre elas mesmas."
ABSTINÊNCIA.
A antropóloga Kate Fox, do Centro de Pesquisa em Questões Sociais de Oxford, também desaprova a ideia do jejum. "No fim a pessoa se torna ainda mais obcecada com a aparência, do mesmo modo como dietas deixam pessoas gordas mais loucas por comida. Isso para mim cheira muito mais a narcisismo do que se olhar no espelho como uma pessoa normal."
Para Fox, escrever sobre esse tipo de jejum na internet é mais outra maneira de permanecer fissurada na própria aparência.
Depois do segundo mês sem espelho, Madrano passou a concordar com a antropóloga: "Enquanto fazia o jejum passei a atribuir tudo que eu sentia a ele". Apesar disso, os leitores de Madrano continuaram gostando da ideia. "Hoje conseguimos manipular tanto nossa imagem em redes sociais que há algo de atraente na ideia de abdicar desse poder. Pessoas que largaram o Facebook costumam descrever sentimentos semelhantes aos que eu tive quando fiquei sem espelho: serenidade, libertação e a impressão de que nos conhecemos melhor e revemos nossas prioridades."
*** Tradução de JULIANA CUNHA.
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