segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CARDIOLOGISTA CONTA COMO ERA O JORGE AMADO QUE CONHECEU...


FONTE: por Nelson Rocha, TRIBUNA DA BAHIA.

                      

"Homens como Jorge jamais deveria morrer”.

A frase, dita no dia 6 de Agosto de 2001, por dona Tânia, mulher do cardiologista Jadelson Andrade, logo após o casal se despedir do amigo no cemitério, revela o quanto o escritor Jorge Amado, cujo centenário de nascimento se homenageou no dia 10 de agosto, representa para quem o conhecia além da fronteira literária, na intimidade.

O autor baiano, traduzido em 55 países e eternizado na sua obra, “era um homem de hábitos simples, disciplinado, determinado, mas exigente e rigorosamente compridor de horários. Bebia vinho eventualmente, mas gostava mesmo era de comer”, revela o médico que cuidou do coração do amado Jorge, a partir dos 80 anos do escritor.

Como que homenageando Jorge Amado pela passagem do mês que celebra seu centenário de existência, o médico Jadelson Andrade abriu espaço na sua apertada agenda para falar, em seu consultório, com a Tribuna sobre o saudoso paciente e amigo.

“Jorge era um homem especial”, afirmou logo de início. “Além do talento como escritor, que é reverenciado no mundo inteiro, ele era extremamente amigo. Uma amizade pra ele era tudo. Tinha um extraordinário carisma que atraia as pessoas em torno dele e, aquelas pessoas que elegia como amigos, ele se sentia quase que um protetor. As coisas que eram do interesse dele tinham um cuidado realmente diferenciado. Os artistas plásticos que giraram em torno dele e que se tornaram grandes amigos dele, todos eram muito apaixonados por ele” comentou o cirurgião.

As causas que Jorge Amado defendia também, como são do conhecimento de todos que acompanhavam seus passos, eram motivos de muito apreço, atenção e de envolvimento por parte do escritor.

“As coisas da Bahia, do Candomblé, a Irmandade da Boa Morte lá de Cachoeira, ele moveu mundo e fundos para ajudar a fazer a sede, então ele era uma pessoa especial por isso, porque mesmo sendo cidadão do mundo, reconhecido pelo seu talento e livros no mundo inteiro, ele se ocupava de cada detalhe dos amigos, estava sempre muito próximo deles sempre disponível para ajudar, pra que as coisas acontecesse, sobretudo aquelas que ele acreditava e gostava muito. Se o termo grande coração significa ser a pessoa generosa, de fato, neste sentido, ele que era muito generoso, tinha sim um grande coração."

O artista plástico Calazans Neto, amigo e paciente, foi o grande vetor da relação do médico Jadelson Andrade com Jorge Amado. Através do pintor, gravador, ilustrador, o cardiologista passou a cuidar do coração do escritor.

A relação profissional se transpôs e ganhou motivação fraternal intensa, envolvendo também as “primeiras-damas” Alta Rosa e Zélia Gattai. “Mas, o maior privilégio que eu considero foi ter podido conviver no universo de Jorge Amado, um universo único, ímpar, indescritível. Pra mim foi uma belíssima fantasia, mas fantasia concreta, daquela que você sonha e vive. Foi um sonho muito grande ter viajado com Jorge, estado ao lado dele aqui na Bahia e fora do Brasil. Conheci Paris através de Jorge, andando com ele por lugares onde ocidentais e orientais, de diferentes culturas e idiomas o reverenciavam e se referiam a ele dizendo que conheceram a Bahia, viveram o Brasil através da literatura dele. Certamente dificilmente se repetirá alguém com esta grandiosidade universal que Jorge tinha, de saber lidar com as pessoas e conduzir as coisas com a simplicidade com que ele fazia, tendo a notoriedade que ele tinha. Eu bebi desse universo de Jorge e cresci muito como pessoa”.

A relação do médico e amigo com o escritor foi tão intensa, que poderia render um livro, assinado pelo cardiologista, conforme o próprio. “Foi muito rica, produtiva e está toda guardada. Quem sabe um dia. Eu acho que tudo que a Bahia, e o Brasil, fizer para reverenciar Jorge Amado, estará fazendo o que é justo. Estará de acordo com a obra e a grandeza dele”, afirmou.

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